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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
(Re)construir Cidade
A maior parte das pessoas já terá esquecido o Euro 2004. Foi mais um daqueles tais “desígnios nacionais” que, de vez em quando, acabam por deixar o país com mais dívida e com infra-estruturas e equipamentos públicos claramente excedentários e com enormes custos de manutenção.
Vários dos estádios “municipais” então construídos, como os de Aveiro, Leiria e Algarve vieram a mostrar-se autênticos desastres urbanos e financeiros.
Curiosamente, o único caso de sucesso de integração urbana, é o de Coimbra. Quando o Dr. Carlos Encarnação tomou posse da presidência da Câmara após a sua primeira vitória, viu-se na necessidade de decidir rapidamente sobre o que fazer com o Euro 2004 em Coimbra. Da gestão autárquica anterior havia herdado o contrato de empreitada para as obras do Estádio já assinado e com a tinta bem fresca, sem que a Autarquia tivesse disponibilidades financeiras para aquela obra. Uma rápida análise da questão permitiu concluir que a indeminização a pagar, caso não se avançasse com a obra seria enorme, o que levou a que a Autarquia avançasse com a obra, negociando um empréstimo de 35 milhões de euros a vinte anos, para o seu financiamento.
Nessa época, Coimbra tinha deficiências graves na oferta para a prática da natação, sendo o Concelho do Distrito com menor superfície de piscina por habitante. Acresce que as piscinas existentes junto ao antigo estádio se encontravam em adiantado estado de degradação não permitindo, nem uma prática segura, nem a realização de meetings a nível internacional. Por outro lado, o antigo parque de campismo municipal que aí havia funcionado durante anos estava abandonado, sem que se tivesse dado qualquer passo no sentido de construir um novo nos terrenos que a Câmara havia adquirido em tempos no Areeiro para esse efeito. A Praça dos Heróis do Ultramar estava transformada num enorme parque de estacionamento alcatroado ao ar livre, sem estrutura verde nem qualquer integração paisagística.
Como o edifício do novo Estádio permitia a utilização de grandes áreas desocupadas e o topo Norte não tinha destino definido, a Câmara decidiu então proceder ao seu aproveitamento, abrindo um concurso público internacional para a sua cedência em direito de superfície, o chamado Eurostadium, completamente independente das decisões anteriores sobre o Estádio. Como contrapartidas para a cedência desse direito de superfície por um período de tempo de 90 anos o concurso definia, para além da necessária integração urbanística, a construção e entrega ao município de um complexo olímpico abrangendo piscinas de 50 e 25 metros e um pavilhão polidesportivo, dois complexos de piscinas de 25 metros, um novo parque de campismo de grande qualidade e um parque de estacionamento com cerca de 3.000 lugares, dos quais 700 seriam entregues ao município, garantindo assim que os professores das escolas vizinhas passariam a dispor de estacionamento suficiente e em segurança.
A única proposta ao concurso veio a ser adjudicada, o que veio permitir uma alteração completa de toda aquela zona da Cidade proporcionando ainda uma feliz integração urbana do novo Estádio, cujo excelente projecto da autoria do gabinete de arquitectura conimbricense PLARQ permitiu a instalação de empresas, centro comercial, serviços, restaurantes, clínica, ginásio, restaurantes, lojas diversas, etc. As dúvidas levantadas por alguns cidadãos quanto à justeza ou legalidade da solução aprovada pela Câmara vieram a ser cabalmente respondidas pelo Supremo Tribunal Administrativo, pelo que a intervenção naquela zona, para além do sucesso da intervenção urbanística e de utilização do Estádio, revelou-se também adequada sob o ponto de vista legal.
Foi assim que Coimbra não ficou apenas com um novo estádio de futebol com 30.000 lugares que infelizmente raramente ultrapassa os 5.000 espectadores por jogo. Na verdade, reconstruiu com qualidade toda uma zona urbana incaracterística e dispõe hoje em dia de uma oferta excelente de equipamentos para a prática desportiva com um grande grau de utilização permanente, que colocaram Coimbra no mapa dos grandes eventos desportivos.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 25 de Dezembro de 2012
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