Quando nasceu em 18 de Julho de 1918 em Mviza, no remoto Transkei na África do Sul, o seu pai deu-lhe o nome Rolihlahla o qual, traduzido para português, significa “provocador de sarilhos”. Foi um professor que mais tarde passou a chamar-lhe Nelson.
Nelson Mandela faleceu na semana passada, mas tinha-se tornado há muito um mito, com tudo o que isso significa de bom e de menos bom.
Se o racismo é já, em si, uma das maiores vergonhas da humanidade, o regime de “apartheid” instituído na África do Sul desde os inícios do século XX que consistia num sistema de classes que limitava os direitos dos negros sul-africanos face à minoria branca Afrikaner descendente dos antigos colonos ingleses e holandeses, era absolutamente insuportável sob todos os pontos de vista.
A adesão ao ANC que lutava contra o apartheid de diversas formas, inclusivamente violentas, levou Nelson Mandela à prisão e lá esteve 27 anos por esse motivo. Durante quase 20 anos, esteve preso na prisão de Robben Island, onde as duras condições a que foi sujeito afectaram a sua visão de forma permanente.
Foi no sacrifício da prisão que foi desenvolvendo uma nova atitude para com os opressores. Como ele dizia, teve primeiro que se “vencer a si próprio” e perceber que se queria a paz e a democracia para o seu país, o racismo e a intolerância seriam os grandes empecilhos para tal, inclusivé pelo lado dos negros sul-africanos. Foi ainda na prisão que percebeu a força do perdão.
Para grande escândalo inicial do ANC, Mandela iniciou a certa altura negociações com os responsáveis do Governo branco, levando à prática todo o novo quadro mental entretanto por si desenvolvido.
A sua libertação deu-se em 11 de Fevereiro de 1990, na sequência de uma campanha internacional, mas só aceitou sair da cadeia depois de garantir que todos os seus camaradas saiam também. As negociações com o então Presidente F.W de Klerk já iniciadas anteriormente, levaram ao fim do apartheid apenas quatro anos depois, sendo Mandela eleito Presidente numa eleição geral multi-racial. Quando tantos previam que uma guerra sangrenta se seguiria ao fim do regime do apartheid, nada disso sucedeu, o que se deve em grande parte aos esforços de pacificação e de instalação de clima de tolerância por Nelson Mandela.
Como exemplo, fica a imagem poderosa mas simultaneamente simples de Mandela envergando a camisola da equipa sul-africana de Rugby, levando a assistência quase toda branca a levantar-se e gritar entusiasticamente o seu nome: ele tinha a consciência clara de que libertar os brancos dos seus medos seria ainda mais importante para obter a paz do que libertar os negros da escravidão. A criação de uma África do Sul democrática e não racial ficará certamente como o grande sucesso da sua vida.
No fim do seu primeiro mandato presidencial em 1999, declinou ser de novo candidato, ele que seria presidente toda a vida se assim o quisesse. De novo deu uma lição de humildade democrática e, acima de tudo, de cidadania, mostrando que o processo de democratização da África do Sul era maior do que qualquer pessoa, ele próprio incluído.
Mandela não era um santo, sabia disso e assumia-o. Dizia que os homens vão e vêm, mas acreditava na justiça durante a vida. Era tolerante com tudo, excepto com a intolerância.
Mais que glorificar o Homem que parte, aprendamos todos com o seu exemplo.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 9 de Dezembro de 2013
jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
Cirurgia Cardio-torácica
Fui operado neste serviço. Lá vi as máquinas a que estava ligado a ficarem com os traços horizontais e a apitar e aqui estou para contar. Excepcional de uma ponta à outra: excelência exemplar em qualquer parte do mundo e em qualquer tipo de serviço de medicina, privado ou público. Obrigado, Dr. João Bernardo e restante pessoal médico e de enfermagem.
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
UM MUNDO CADA VEZ MAIS COMPLEXO
Começa a fazer o seu caminho a ideia de que um “capitalismo sem limites” assentou arraiais no mundo e que é o único responsável pela desigualdade e exclusão social que todos vemos aumentar à nossa volta. O próprio Papa Francisco fala nisso, para grande satisfação dos que há anos culpam o chamado neo-liberalismo por todos os nossos males, incluindo saudosistas do “socialismo real dos amanhãs que cantam”, ingénuos bem pensantes sempre solidários com os sofredores desde que higienicamente bem afastados ou mesmo todos os outros cientistas sociais com soluções milagrosas para todos os males da sociedade. Claro que muitas pessoas há, que solidária e genuinamente se preocupam e sofrem com as dores físicas e íntimas dos semelhantes, sem tentarem usá-las para atingirem os seus próprios fins.
O que vemos à nossa volta quer nas proximidades, quer no resto do mundo, é no entanto demasiado complexo, sério e novo para ser explicado pelos velhinhos manuais simplistas dos ricos a viverem à custa dos pobres.
A economia mundial mudou muito nos últimos anos e ainda vai mudar muito mais, assim como a forma como se faz política, e também cá em Portugal. A globalização e opções políticas erradas patrocinadas pela então Comunidade Europeia levaram à desindustrialização do país, com a miragem dos serviços a substituir com menos esforço os trabalhos duros da agricultura, da pesca e da fábricas.
Entretanto, o mundo foi mudando com grande rapidez. As tecnologias informáticas associadas à desmaterialização do dinheiro permitiram aos detentores e gestores de grandes quantidades de dinheiro como os fundos soberanos e de pensões investir naquela parte do mundo e no momento em que a rentabilidade é a maior. Os investimentos financeiros passaram a ser mais atractivos do que os investimentos na chamada economia real, porque com maires lucros, obtidos mais rapidamente e sem o trabalho de criar empresas para criar e vender produtos transacionáveis.
A finança acabou por entrar também na área dos investimentos públicos. Fazer estradas, hospitais e escolas deixou de ser uma actividade económica para passar um negócio essencialmente financeiro através das parcerias público-privadas, com custos muito maiores para os contribuintes que deixaram aliás, de ter capacidade de perceber o que se passa nessa nova esfera e portanto de reagir em conformidade. Os bancos passaram de financiadores da economia a intermediários de capitais e mesmo financiadores da dívida pública.
A “financeirização” da economia trouxe ainda consigo outras alterações na socidade e na política, que estão longe de ser bem percebidas e compreendidas pela população em geral, mas que vão ter consequências sérias a curto ou médio prazo. Sempre se assistiu à existência e trabalho de lobbies das diferentes actividades económicas junto dos governos. O que se passa hoje é, no entanto, muito diferente. O poder político foi tomado por dentro pelas diversas actividades económico/financeiras. As próprias leis são feitas, não por serviços públicos, mas por sociedades de advogados contratadas para tal. A promiscuidade da passagem directa de pessoas entre cargos governamentais e gestão de empresas é apenas a face mais visível da tomada da política pela economia. E não é por qualquer economia, é mesmo a finança, até porque residem aí as únicas pessoas que entendem bem as técnicas sofisticadas de gestão dos “produtos financeiros”: como exemplo, basta ver o que se tem passado com os “SWAPS”.
Quem não tem nem quer ter nada a ver com este estado de coisas, afasta-se. É por isso que a política atrai cada vez menos aqueles se preocupam verdadeiramente com a coisa pública, com o servir os seus concidadãos: esquerda e direita alternarão cada vez mais como fantoches ao serviço de quem efectivamente manda, quando não juntas como agora na Alemanha, mostrando à luz do dia que na realidade não são hoje alternativa uma à outra. Até quando? Não sei. Mas tenho medo do que se seguirá.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 2 de Dezembro de 2013
O que vemos à nossa volta quer nas proximidades, quer no resto do mundo, é no entanto demasiado complexo, sério e novo para ser explicado pelos velhinhos manuais simplistas dos ricos a viverem à custa dos pobres.
A economia mundial mudou muito nos últimos anos e ainda vai mudar muito mais, assim como a forma como se faz política, e também cá em Portugal. A globalização e opções políticas erradas patrocinadas pela então Comunidade Europeia levaram à desindustrialização do país, com a miragem dos serviços a substituir com menos esforço os trabalhos duros da agricultura, da pesca e da fábricas.
Entretanto, o mundo foi mudando com grande rapidez. As tecnologias informáticas associadas à desmaterialização do dinheiro permitiram aos detentores e gestores de grandes quantidades de dinheiro como os fundos soberanos e de pensões investir naquela parte do mundo e no momento em que a rentabilidade é a maior. Os investimentos financeiros passaram a ser mais atractivos do que os investimentos na chamada economia real, porque com maires lucros, obtidos mais rapidamente e sem o trabalho de criar empresas para criar e vender produtos transacionáveis.
A finança acabou por entrar também na área dos investimentos públicos. Fazer estradas, hospitais e escolas deixou de ser uma actividade económica para passar um negócio essencialmente financeiro através das parcerias público-privadas, com custos muito maiores para os contribuintes que deixaram aliás, de ter capacidade de perceber o que se passa nessa nova esfera e portanto de reagir em conformidade. Os bancos passaram de financiadores da economia a intermediários de capitais e mesmo financiadores da dívida pública.
A “financeirização” da economia trouxe ainda consigo outras alterações na socidade e na política, que estão longe de ser bem percebidas e compreendidas pela população em geral, mas que vão ter consequências sérias a curto ou médio prazo. Sempre se assistiu à existência e trabalho de lobbies das diferentes actividades económicas junto dos governos. O que se passa hoje é, no entanto, muito diferente. O poder político foi tomado por dentro pelas diversas actividades económico/financeiras. As próprias leis são feitas, não por serviços públicos, mas por sociedades de advogados contratadas para tal. A promiscuidade da passagem directa de pessoas entre cargos governamentais e gestão de empresas é apenas a face mais visível da tomada da política pela economia. E não é por qualquer economia, é mesmo a finança, até porque residem aí as únicas pessoas que entendem bem as técnicas sofisticadas de gestão dos “produtos financeiros”: como exemplo, basta ver o que se tem passado com os “SWAPS”.
Quem não tem nem quer ter nada a ver com este estado de coisas, afasta-se. É por isso que a política atrai cada vez menos aqueles se preocupam verdadeiramente com a coisa pública, com o servir os seus concidadãos: esquerda e direita alternarão cada vez mais como fantoches ao serviço de quem efectivamente manda, quando não juntas como agora na Alemanha, mostrando à luz do dia que na realidade não são hoje alternativa uma à outra. Até quando? Não sei. Mas tenho medo do que se seguirá.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 2 de Dezembro de 2013
domingo, 1 de dezembro de 2013
Calafetar a Alemanha
"Para
evitar a repetição da I Guerra e das cenas de 1940, Mitterrand resolveu
exigir o euro, que teoricamente evitaria uma nova hegemonia de Berlim.
Mal preparado e mal pensado, o euro levou em pouco tempo ao resultado
contrário: ao empobrecimento dos países mais fracos, da própria França
ao nosso pindérico Portugal, e estabeleceu a Alemanha como a única
potência económica e financeira da região – o que não deixa de a
consolar e satisfazer e a conduziu a um isolamento pacato e certamente
feliz, que não quer ver perturbado pelas raças inferiores do Sul e os
seus sarilhos. O acordo entre os socialistas do SPD e as tropas de
Merkel revela bem o estado da Alemanha em 2013. O SPD conseguiu alguns
limitados gestos a benefício da populaça mais pobre. Merkel conseguiu
que não se mexesse no resto, nomeadamente na política europeia: nada de
dívidas soberanas, nada de défices para esconder a miséria de cada um e,
principalmente, nada de eurobonds para obrigar o contribuinte alemão a
pagar a irresponsabilidade e a incúria de estranhos. O contribuinte
alemão usará as suas poupanças para viver bem, embora modestamente, e
para se passear no Verão por climas quentes, como de resto inteiramente
merece. Do que Merkel mais gosta na Alemanha são janelas bem
calafetadas. Chegou agora a altura de calafetar a Alemanha. Por aqui,
nem a esquerda, nem a direita falaram disso. Continuam ainda em 1988."
Vasco Pulido Valente, Público
sábado, 30 de novembro de 2013
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
VIVA O ALMADA, PIM!
Quem algum dia teve aulas no “Edifício das Matemáticas”,
terá eventualmente uma vaga lembrança dos frescos que decoram as paredes
laterais do átrio de entrada. Recordar-se-à, talvez, que são bonitos e
diferentes e têm relação com as ciências exactas – as mais exactas de todas –
que lá se ensinam e investigam, mas provavelmente pouco mais. Os conimbricenses
em geral também saberão só isso ou, eventualmente, ainda um pouco menos.
E no entanto, aqueles frescos são obras de arte a
conhecer. Não só pela beleza e significado artístico e cultural, mas porque são
as únicas obras daquela dimensão existentes em Coimbra, da autoria de Almada
Negreiros.
Passam este ano 120 anos sobre o nascimento da figura
ímpar da Cultura portuguesa do século XX, que um dia escreveu ser Portugal “A
Pátria onde Camões morreu de fome e onde todos enchem a barriga de Camões”.
Almada foi um artista multifacetado, tendo colaborado logo em 1915 no primeiro
número da revista “Orpheu” e o seu modernismo ainda hoje surpreende pela
irreverência iconoclasta, tendo assumido desde cedo a bandeira do futurismo com
Santa Rita Pintor.
Revoltando-se
contra o cinzentismo da literatura portuguesa e a decadência passadista da
cultura nacional em geral, Almada fez de Júlio Dantas o seu alvo e escreveu o
famoso “Manifesto Anti-Dantas” que muitos contemporâneos nossos deveriam ler
para fugirem do bolor mal cheiroso de algum academismo que ainda hoje para aí
anda, por vezes a coberto se um pseudo modernismo de pacotilha e, na realidade,
velho, muito velho. No entanto, Dantas foi para Almada apenas o símbolo daquilo
que era preciso mudar com urgência, uma sociedade tradicionalista, um país que
já então precisava da “Invenção do Dia Claro”: “Basta pum basta!!! Uma geração que consente deixar-se representar por um
Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d'indigentes, d'indignos e de
cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!”
Almada caminhou sempre na vanguarda, desde o ballet (depois
de assistir às representações dos Ballets Russes de Diaghilev) à pintura,
passando pela literatura. São suas as decorações a fresco das Gares Marítimas
de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos, bem como o painel “Começar” da
entrada da Fundação Calouste Gulbenkian. O seu auto-retrato de 1943 e o retrato
de Fernando Pessoa para o restaurante Irmãos Unidos, antigo ponto de encontro
do grupo do Orpheu são justamente famosos e icónicos da pintura portuguesa do
século XX.
Neste mês de Novembro, integrado nas comemorações dos 120
anos do seu nascimento, decorreu em Lisboa, na Fundação Gulbenkian, o Colóquio
Internacional Almada Negreiros. As comemorações incluíram ainda tertúlias,
exposições e visitas guiadas. Tudo em Lisboa, claro, como é de uso.
O leitor, se quiser dar-se a esse trabalho, vá ver por si
os frescos da entrada do Departamento de Matemática da FCTUC da Universidade de
Coimbra, que não perderá o seu tempo Os frescos de Almada estão lá a cumprir a
sua função, não num museu, mas no local para que foram criados. Um deles é
dedicado à “Matemática portuguesa ao serviço da epopeia nacional” e o outro
representa as principais figuras de “A Matemática desde os Caldeus e Egípcios
até aos nossos dias” que, curiosamente, não esquece o “encontro com os árabes
na península”.
Sobre a sua arte passou já o crivo do tempo, único que
atesta a qualidade e importância artística de um autor. Nos dias de hoje, não
há uma arte moderna, porque coexistem todas as correntes. É por isso
surpreendente que ainda hoje as manifestações artísticas de Almada Negreiros
surjam associadas à palavra “moderno” e que muitas das suas provocações ainda
choquem tantos espíritos.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 25 de Novembro de 2013
sábado, 23 de novembro de 2013
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
KENNEDY, ROBERT
As efemérides são uma boa ocasião para lembrar alguém ou
alguma situação marcante, para daí extrair algo que nos pareça interessante ou
mesmo exemplar para os dias de hoje. É quase sempre impossível, no reduzido
espaço de uma crónica, dizer tudo aquilo que respeita a um assunto ou pessoa
que nos marcou intensamente. Com John Kennedy, a quem dediquei a minha última
crónica, tudo parece atingir uma grandiosidade excepcional, o que tem dado
origem a numerosos livros e filmes sobre as circunstâncias da sua morte, mas
também sobre a sua vida e até sobre quão diferente poderia ter sido o mundo se
não tivesse ocorrido o 22 de Novembro de 1963 em Dallas. Basta pensar na guerra
do Vietname, da qual Kennedy discordava. Mas quando se aborda um assunto
destes, aparecem tantos fios para puxar, que é difícil escolher.
Falando de John Kennedy, não se pode deixar de falar da
sua própria família. Por exemplo, dos quatro filhos de John e Jackie Kennedy,
hoje apenas sobrevive Caroline Bouvier Kennedy. E é alguém que faz bem jus aos
pais que teve. Com ideias próprias que defende com firmeza, é escritora e
advogada, sendo desde o mês passado a Embaixadora dos EUA no Japão.
Mas de toda a família Kennedy, uma pessoa há que desde
sempre me habituei a considerar como exemplar e a admirar como homem público.
Trata-se de Robert Kennedy, um dos irmãos do antigo presidente. Robert foi o
grande apoio de Jonh enquanto candidato a presidente e depois enquanto exerceu
a presidência dos EUA, estando presente em todas as suas grandes decisões
políticas. Diferentes um do outro até mais não, completavam-se no entanto de
uma forma tão impressionante que deles disse o historiador Arthur Schlesinger:
“John era um realista brilhantemente disfarçado de romântico, sendo Robert um
romântico obstinadamente disfarçado de realista”.
Robert Kennedy foi nomeado pelo irmão como Ministro da
Justiça (General Attorney) tendo sido um perseguidor determinado do crime
organizado. De tal forma se dedicou a esta tarefa, que até morrer carregou a
cruz da ideia de a sua acção ter de alguma forma contribuído para o assassinato
do seu irmão John.
Robert dedicou-se à vida pública com toda a sua energia,
levando para essas tarefas as suas características pessoais de entrega total.
Robert Kennedy tinha uma enorme sensibilidade para as causas sociais,
revoltando-se contra as injustiças, onde quer que elas surgissem, fosse na
segregação racial, fosse nas questões dos índios ou apenas na pobreza. É
preciso lembrar que Robert nasceu na família Kennedy que, sendo uma família
riquíssima, nunca deixou de manifestar solidariedade para com os fracos. Basta
dizer que o enorme hospital pediátrico de Boston todos os anos apresenta a
factura dos prejuízos à família Kennedy, que os cobre sistematicamente, isto
desde muito antes do aparecimento do conceito de responsabilidade social das
empresas.
Após a morte do irmão, Robert deixou-se abater, criando a
ideia de que abandonaria a vida pública. Mas por volta dos fins de 1967,
pareceu que uma nova vida o tomou e decidiu em Março de 1968 candidatar-se à
presidência dos EUA. E entrou na campanha da única maneira que sabia: sem medo
e como se fizesse uma cruzada contra o que achava serem os males do seu país.
Dizia que vivia um dia de cada vez, sabendo perfeitamente que desafiava a sorte
ao agir daquela maneira.
Tal como o irmão Jonh, caiu às balas de um assassino, em 6
de Junho de 1968 logo após a vitória no Estado da Califórnia para a sua
nomeação a candidato pelo Partido Democrata.
Não tendo sido presidente, a memória da sua vida e da sua
actividade, designadamente a favor dos direitos dos negros em plena década de
60 e a luta contra o crime organizado mas, essencialmente, a alegria e a
energia que colocava no que fazia e no que acreditava, fazem de Robert Kennedy
um símbolo e um exemplo a seguir, bem diferente do cinismo e falta de alma da
generalidade dos políticos de hoje.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em !8 Novembro 2013
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