Eh eh
Roubado do blogue «corta fitas»
jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
terça-feira, 4 de fevereiro de 2020
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020
COIMBRA E A SUA CIRCUNSTÂNCIA
Adicionar legenda |
Se as condições ditadas pela Natureza foram a razão original que justifica a
localização de Coimbra, foi a acção do Homem ao longo dos tempos que construiu
a Cidade que hoje conhecemos, embora sempre limitada por aquelas condições
iniciais. Por exemplo, ouvem-se frequentemente comentários sobre uma diferença
de tratamento das duas margens, sendo que a margem direita é beneficiada
relativamente à esquerda, quase apelando de forma subliminar a sensibilidades
políticas. A realidade é que essa diferença tem uma razão de ser simples, muito
anterior a os mais moderados girondinos se terem sentado à direita na
Assembleia Nacional Constituinte da Revolução Francesa enquanto os mais
radicais jacobinos se sentavam à esquerda, assim se inaugurando historicamente
a diferença entre direita e esquerda. A Natureza dita, de forma imutável, que a
margem direita do rio Mondego apanhe luz solar durante a maior parte do dia,
enquanto a esquerda é sombria e mais húmida, logo com piores condições de
salubridade. Em consequência, a margem direita foi, desde sempre, mais
valorizada para habitação como, aliás, sucede em Lisboa e no Porto.
Claro que as novas técnicas de construção permitem artificializar ambientes,
diminuindo as desvantagens naturais, pelo que a ocupação urbana se vai
homogeneizando nas duas margens do rio. Contudo, o historial criou situações
urbanísticas na margem esquerda que hoje deveriam ser revistas procurando
introduzir qualidade urbana em boa parte de, pelo menos, as freguesias urbanas
de Sta. Clara e de S. Martinho do Bispo e Ribeira de Frades. Para tal seria
necessário estudar seriamente o existente de forma a permitir «agarrar» a
situação e encontrar soluções para diminuir a actual degradação e preparar um
futuro com qualidade urbana, através de um plano de urbanização adequado.
Mas, para quem conheceu Coimbra há 40/50 anos, a nossa cidade está muito
diferente, para melhor. Surgiram novas centralidades como a Solum e Celas,
dispondo hoje a cidade de infra-estruturas essenciais como vias circulares que,
em muito, beneficiam a circulação viária interna. Contudo, houve também
intervenções urbanas de fundo, levadas a cabo por diversas instituições, no
mínimo muito discutíveis. Infelizmente, a começar pela Universidade. O chamado
pólo1 foi alvo do maior crime patrimonial do século XX apadrinhado na altura
por poder local e órgãos dirigentes da Universidade. É hoje um conjunto de
edifícios históricos de uma beleza indiscutível lado a lado com outros muito
imponentes mas representantes de um gosto muito datado que marcou a necessidade
de afirmação de regimes não democráticos europeus, curiosamente de sinais
políticos opostos.
O pólo2, apesar da excelência da localização, permanece
inacabado, não logrando atingir o objectivo de «campus universitário». O pólo
3, o mais recente, é o exemplo acabado de se «tentar meter o Rossio na Betesga»
e, inacreditavelmente, ainda vai receber mais equipamentos, como o anunciado
Instituto Multidisciplinar do Envelhecimento. Não colocando em questão a
necessidade destes equipamentos nem a vantagem de se localizarem em Coimbra,
penso ser evidente a falta de força (ao longo de muitos anos) da Autarquia que,
recordo, tem a legitimidade da vontade popular, para obrigar as outras
entidades a estudar em conjunto a optimização urbana da implantação dos novos
edifícios.
Coimbra tem sofrido também de um evidente abandono, para não dizer ataque
cruzado, por parte de entidades oficiais nacionais. O metro de superfície já foi
transformado num sistema de autocarros eléctricos. E não podemos considerar que
seja por acaso que a Estação Velha se mantenha no estado que todos conhecemos,
que o IC6 esteja inacabado, a A13 idem aspas aspas e que o IP3 seja aquilo que
é. As ligações de qualidade que servem Coimbra apenas o fazem em função dos
interesses de Lisboa e Porto. As ligações de Coimbra para o interior, isto é,
para as Beiras de que supostamente deveria ser a capital, ou são inexistentes
ou completamente ineficientes para os dias de hoje. A tão decantada
multi-polaridade da região Centro apenas tem servido para diminuir
artificialmente o papel que Coimbra sempre desempenhou na região, fazendo temer
as consequências, para a nossa cidade, da falada
descentralização/regionalização encapotada.
É por tudo isto, factores externos, mas também internos, que Coimbra tem que
se conhecer, tem que perceber os actuais contextos e tem que encontrar
consensos para além de partidarites para readquirir amor-próprio, fazer por si
própria e não aceitar mais ser menosprezada em nome de uma História riquíssima,
mas sobretudo pelos seus cidadãos, actuais e futuros.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 3 de Fevereiro de 2020
Como enganar o povo
Diferença entre o orçamentado e o executado em 2019. As despesas com pessoal e bens e serviços excederam o previsto. Quanto ao resto, bom, é ver e tirar conclusões.
quinta-feira, 30 de janeiro de 2020
PERGUNTA
Alguém me pode esclarecer se em Portugal pode haver crime de branqueamento de capitais se o eventual crime que lhe deu origem teve lugar noutro país, em Angola por exemplo?
quarta-feira, 29 de janeiro de 2020
terça-feira, 28 de janeiro de 2020
RUI PINTO E ISABEL DOS SANTOS
PARA MEMÓRIA FUTURA
«Comunicado de Imprensa
Os advogados abaixo assinados declaram que o seu cliente, o Sr. Rui PINTO, assume a responsabilidade de ter entregue, no final de 2018, à Plataforma de Proteção de Denunciantes na África (PPLAAF), um disco rígido contendo todos os dados relacionados com as recentes revelações sobre a fortuna de Isabel DOS SANTOS, sua família e todos os indivíduos que podem estar envolvidos nas operações fraudulentas cometidas à custa do Estado angolano e, eventualmente, de outros países estrangeiros.
Rui PINTO procurou, assim, ajudar a entender operações complexas conduzidas com a cumplicidade de bancos e juristas que não só empobrecem o povo e o Estado de Angola, mas podem ter prejudicado seriamente os interesses de Portugal.
Rui PINTO esclarece que entregou este disco rígido, no cumprimento do que entende ser um dever de cidadania, e sem qualquer contrapartida, depois de tomar conhecimento das missões realizadas pela organização PPLAAF, permitindo que usassem os dados como entendessem.
Rui PINTO está satisfeito por ver que, graças ao intenso trabalho do consórcio de jornalistas ICIJ, todos os dados foram explorados, verificados, validados e, portanto, encabeçaram as revelações que necessariamente levarão à abertura de investigações criminais em muitos países, incluindo Portugal.
Está feita a prova de que, sem as imensas revelações de Luanda Leaks, tornadas possíveis graças ao nosso cliente, as autoridades reguladoras, policiais e judiciais nada teriam feito. Graças ao nosso cliente, os cidadãos portugueses e o mundo têm acesso à verdade de um extraordinário sistema de predação e corrupção, gravemente prejudicial para Portugal, Angola e outros países.
As decisões já tomadas pelo Banco de Portugal, PWC e outras que estão por vir demonstram a importância excepcional das revelações de Luanda Leaks. A responsabilidade das autoridades é agora agir e abrir as investigações necessárias – já abertas em Angola – e ao mesmo tempo recuperar elevadas somas de dinheiro, mas é preciso dizer que são as mesmas autoridades portuguesas que mantêm Rui Pinto na prisão há quase um ano, sob o pretexto de uma tentativa de extorsão, e que, até este momento, apenas pediram a sua colaboração com o exclusivo intuito de o autoincriminar.
O nosso cliente gostaria de lembrar que esta colaboração com o PPLAAF e o ICIJ está relacionada exclusivamente com a entrega deste disco rígido e que não prejudica a cooperação histórica que tem realizado com o consórcio European Investigative Collaborations (EIC) desde as primeiras revelações do Football Leaks.
William BOURDON & Francisco TEIXEIRA DA MOTA
27.01.2020»
«Comunicado de Imprensa
Os advogados abaixo assinados declaram que o seu cliente, o Sr. Rui PINTO, assume a responsabilidade de ter entregue, no final de 2018, à Plataforma de Proteção de Denunciantes na África (PPLAAF), um disco rígido contendo todos os dados relacionados com as recentes revelações sobre a fortuna de Isabel DOS SANTOS, sua família e todos os indivíduos que podem estar envolvidos nas operações fraudulentas cometidas à custa do Estado angolano e, eventualmente, de outros países estrangeiros.
Rui PINTO procurou, assim, ajudar a entender operações complexas conduzidas com a cumplicidade de bancos e juristas que não só empobrecem o povo e o Estado de Angola, mas podem ter prejudicado seriamente os interesses de Portugal.
Rui PINTO esclarece que entregou este disco rígido, no cumprimento do que entende ser um dever de cidadania, e sem qualquer contrapartida, depois de tomar conhecimento das missões realizadas pela organização PPLAAF, permitindo que usassem os dados como entendessem.
Rui PINTO está satisfeito por ver que, graças ao intenso trabalho do consórcio de jornalistas ICIJ, todos os dados foram explorados, verificados, validados e, portanto, encabeçaram as revelações que necessariamente levarão à abertura de investigações criminais em muitos países, incluindo Portugal.
Está feita a prova de que, sem as imensas revelações de Luanda Leaks, tornadas possíveis graças ao nosso cliente, as autoridades reguladoras, policiais e judiciais nada teriam feito. Graças ao nosso cliente, os cidadãos portugueses e o mundo têm acesso à verdade de um extraordinário sistema de predação e corrupção, gravemente prejudicial para Portugal, Angola e outros países.
As decisões já tomadas pelo Banco de Portugal, PWC e outras que estão por vir demonstram a importância excepcional das revelações de Luanda Leaks. A responsabilidade das autoridades é agora agir e abrir as investigações necessárias – já abertas em Angola – e ao mesmo tempo recuperar elevadas somas de dinheiro, mas é preciso dizer que são as mesmas autoridades portuguesas que mantêm Rui Pinto na prisão há quase um ano, sob o pretexto de uma tentativa de extorsão, e que, até este momento, apenas pediram a sua colaboração com o exclusivo intuito de o autoincriminar.
O nosso cliente gostaria de lembrar que esta colaboração com o PPLAAF e o ICIJ está relacionada exclusivamente com a entrega deste disco rígido e que não prejudica a cooperação histórica que tem realizado com o consórcio European Investigative Collaborations (EIC) desde as primeiras revelações do Football Leaks.
William BOURDON & Francisco TEIXEIRA DA MOTA
27.01.2020»
segunda-feira, 27 de janeiro de 2020
Munda: da Serra da Estrela ao Atlântico
Para pensar o futuro, devemos questionar-nos
sempre sobre as razões da actualidade que conhecemos, suportada pela Natureza e
pela História.
O Rio Mondego, o Munda dos romanos e
da Idade Média, determinou Coimbra onde a conhecemos. Nasce nas faldas dos
montes hermínios e, ao contrário do seu irmão gémeo Zêzere, desce pelas
encostas viradas a Norte. O seu percurso é montanhoso e agitado até que chega
um ponto em que não tem mais obstáculos até ao mar, passando a espraiar-se por
campos onde vai deixando o que arrastou no seu caminho. Este é também o último
ponto até onde as embarcações marítimas conseguiam chegar desde os tempos
imemoriais em que os povos fenícios passavam além das portas de Hércules,
deixando o conhecido Mediterrâneo e se aventuravam pelo oceano sem fim,
procurando os minerais preciosos da costa ocidental da península que seria
Ibérica. A situação estratégica do monte aí localizado levou a que fosse
habitado desde muito cedo. Antes da ocupação romana lhe chamar Aeminium, outros
povos celtas já aí se tinham estabelecido. Depois dos romanos, foi a vez dos
chamados «bárbaros» visigodos, dos mouros e, por fim, fez parte do reino de
Portugal, de que foi a primeira capital, já como Coimbra.
É por tudo isto que o Mondego é,
para Coimbra, muito mais do que motivo para poesias e canções românticas e
mesmo de preocupações por causa das suas cheias. O rio Mondego É a razão da
existência de Coimbra. Se hoje já não é a via de circulação de bens e pessoas
como foi até aos séculos XVI/XVII em que ainda havia portos na cidade por onde
se escoavam produtos industriais como cerâmica, o rio continua a ser a ligação
natural da gente beirã que vive entre o interior serrano e o litoral atlântico.
Desde aqueles tempos é evidente que
muito mudou, e ainda bem. Coimbra já não é a única cidade universitária,
havendo diversos estabelecimentos de ensino superior espalhados pela região.
Significa isto que Coimbra deve encontrar outros atributos para se afirmar, ultrapassando
de vez a sua dependência social e económica da Universidade. A área da saúde é,
evidentemente, uma delas. Já não apenas a formação de médicos, mas também a
formação de enfermeiros e técnicos de saúde e a prestação de serviços de saúde.
Isso está a acontecer, havendo hoje em dia diversos hospitais particulares que
concorrem entre si, para além do Centro Hospitalar e Universitário que continua
a ser um farol de capacidade e qualidade dentro do Serviço Nacional de Saúde
devendo ser defendido e acarinhado por todas as instituições políticas e
sociais da Cidade para que assim continue e ultrapasse mesmo as deficiências,
que também as tem.
Mas o papel de Coimbra tem que ser
muito mais do que isso. Para ultrapassar as suas dependências crónicas, deve
construir laços sólidos com as comunidades vizinhas sendo que as que
historicamente se lhe encontram socialmente próximas são mesmo as da bacia
hidrográfica do rio Mondego. Para qualquer cidadão desta região é
incompreensível a situação de costas voltadas entre Coimbra e Figueira da Foz,
por exemplo. Não é de agora, mas ambas as cidades ganhariam se juntassem forças
para defender e promover o que lhes é comum e ainda as suas complementaridades.
Sei do que falo, porque trabalhei em cada uma delas, para além das memórias que
guardo carinhosamente das férias da meninice na Praia da Claridade ouvindo
Maria Clara a cantar a partir do altifalante na torre do relógio e apreciando o
movimento do «pátio das galinhas» depois do jantar.
Entre a Figueira e Coimbra
está Montemor-o-Velho onde, também no monte mais elevado, se ergue um dos mais
antigos e maiores castelos de Portugal, de onde é possível ver os magníficos e
ricos campos do Mondego, assim as autoridades saibam cuidar deles. Esta é,
entre outras como o turismo, uma área em que, pelo menos estes três municípios
poderiam e deveriam estabelecer laços de colaboração efectiva, a bem do futuro
dos seus cidadãos.
Mas Coimbra tem ainda muito a ganhar
com um relacionamento mais íntimo com os municípios ribeirinhos do Mondego, a
montante. A ganhar e a dar a ganhar, em colaborações mutuamente vantajosas,
desde Penacova até Oliveira do Hospital onde o Instituto Politécnico de Coimbra
até já tem um pólo com áreas de investigação pioneira e duplamente frutífera como
sobre o cultivo da maçã bravo de esmolfe.
A capacidade de Coimbra partilhar recursos, capacidades e sonhos com os
seus vizinhos históricos será, certamente, o factor de metropolização, hoje já
visível embora ainda incipiente, que definirá o seu papel nacional, no futuro.Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 27 de Janeiro de 2020
Subscrever:
Mensagens (Atom)