segunda-feira, 28 de abril de 2008

RELATIVISMO


O Papa Bento XVI tem vindo a referir-se com muita ênfase sobre a questão do relativismo nas sociedades ocidentais, particularmente na Europa, denunciando as ameaças que contém para as novas gerações.

Mais recentemente voltou a focar esta grave questão na sua viagem aos Estados Unidos da América.

A sociedade ocidental cada vez mais “light” tende a confundir relativismo com tolerância, que é coisa muito diferente. Não há uma preocupação em conhecer em profundidade as diversas posições em causa na sociedade de forma a assim perceber os seus fundamentos e objectivos. Em consequência, não se estabelece uma clara distinção entre as diversas posições, caindo-se frequentemente na posição de tolerar tudo como tendo o mesmo valor e sendo igualmente aceitável.

Nada de mais errado e perigoso.

Torna-se pois necessário pugnar pelo conhecimento e pela cultura histórica, a fim de defender toda a nossa civilização de quem, e são muitos, a tenta minar por dentro. Não se pense que muitos dos ataques aos fundamentos culturais e religiosos da nossa civilização acontecem por acaso. Na realidade, fazem parte de uma agenda oculta de partidos e movimentos oriundos quase todos da extrema-esquerda de outros tempos que passo a passo vão destruindo os fundamentos da civilização ocidental, que as revoluções dos “amanhãs que cantam” não conseguiram derrubar pela força. Como afirmou Bento XVI em Washington, “0s conflitos pessoais, a confusão moral e a fragmentação do conhecimento colocam novos desafios para a formação académica e a educação, fundados na unidade da verdade e no serviço à pessoa e à comunidade”.

Dotar a juventude de uma educação sólida que forneça bases de cultura sustentada é a única via para fugir ao flagelo do nosso tempo que é o relativismo. Caso contrário será a nossa própria civilização que ficará fragilizada e à mercê de qualquer fundamentalista, já que os critérios de valoração estarão genericamente destruídos.

Eis por que é tão importante para todos nós a luta que Bento XVI tem vindo a travar pelo reconhecimento das bases cristãs da civilização ocidental e pela Verdade.

Publicado no Diário de Coimbra em 28 de Abril de 2008

domingo, 27 de abril de 2008

PASSEIO


Como estive fora uns dias, não acompanhei a actualidade, não tendo provavelmente perdido grande coisa.
Aqui fica uma foto de recordação de um desses lugares que ainda vale a pena visitar.

CIDADANIA


Ao propor o desafio de escrever sobre cidadania, o Director do Campeão das Províncias sabia bem as dificuldades em que colocava quem aceitasse o repto.

Aceitando escrever sobre cidadania, estou bem consciente de que, no meu caso pessoal, não poderei ir pela exploração dos conceitos filosóficos, que obviamente não domino, pretendendo tão-somente discorrer sobre as questões práticas que lhe estão ligadas.

Desde logo, o termo cidadania deriva da palavra cidade, no seu sentido comunitário, o que significa que ninguém pode ser cidadão sozinho. Tanto do ponto de vista político como do ponto de vista jurídico, o exercício da cidadania obriga a um relacionamento com os restantes elementos da sociedade, assumindo o respeito por um conjunto de deveres e direitos, em igualdade de circunstâncias.

Representando uma perspectiva minimalista do exercício dessa mesma cidadania, há quem considere que, para se ser bom cidadão, bastaria então cumprir todas as leis, por ter automaticamente acesso aos chamados direitos de cidadania, em virtude de se ser cidadão (logo, tendo uma atitude passiva). A cidadania seria, desta forma, o exercício rotineiro dos seus direitos e obrigações; por exemplo, indo votar sempre que há eleições, ou pagando os impostos devidos. Fazendo o mínimo, na convicção de que basta esse mínimo para ser cidadão pleno.

Nada de mais errado, a meu ver. Isto acontece porque muita gente confunde hoje em dia os deveres com os direitos.

A cidadania exercida sem uma atitude de aproximação aos outros cidadãos é inteiramente vã. Cria apenas uma sociedade fria e burocrática, que funciona bem oleada, de um ponto de vista estritamente mecânico. Pode até suceder que a generalidade dos indivíduos cumpra os seus deveres, mas não se cria uma comunidade coesa. A cidadania plena implica um esforço de compreensão pelas dificuldades dos outros cidadãos. Desde logo, porque à igualdade formal em deveres e direitos perante a lei se sobrepõem as desigualdades reais, enquanto indivíduos naturalmente diferentes. O exercício da cidadania exige a prática de deveres, implica a construção de plataformas de entendimento e pontes com os outros cidadãos, nos mais diversos níveis. Por isso é tão necessária a existência de associações que agreguem cidadãos com perspectivas semelhantes da organização social e da definição de objectivos de futuro e sua prossecução, como é o caso dos partidos políticos, por exemplo, cuja importância social tantos tentam denegrir.

Mas a cidadania não se esgota com a actividade política. Uma sociedade bem estruturada não prescinde de uma rede de ligações entre cidadãos que permita o exercício de solidariedade organizada, como por exemplo as numerosas Organizações Não-Governamentais ou as Instituições Particulares de Solidariedade Social, que, através do voluntariado de cidadãos, preenchem as lacunas no apoio aos desprotegidos da sociedade, a quem o Estado por qualquer razão não chega. Exige ainda a existência de estruturas de organizações apartidárias, que agregam cidadãos com interesses semelhantes patrocinando a livre discussão de temas importantes, esforçando-se por contribuir para melhorar um ou outro aspecto da organização social, como é o caso dos “Clubes de Serviço” (exemplo dos Lions e Rotários). Muitas outras formas de participação cívica existem, servindo praticamente todos os gostos, desde a publicação de artigos de opinião assinados à participação em Associações de Pais, entre tantas outras.

As novas tecnologias permitem novas intervenções cívicas mais ou menos personalizadas, possibilitando a qualquer cidadão a activa – e imediata – intervenção na sociedade, como é o caso dos “blogues”.

Fundamentalmente, o que é necessário é ter a consciência de que só somos verdadeiramente cidadãos em liberdade e exercendo os nossos direitos cívicos, quando temos consciência dos deveres para com os outros cidadãos, e os exercemos efectivamente.

Publicado no Campeão das Provincias em 24 de Abril de 2008

segunda-feira, 21 de abril de 2008

ELEIÇÕES NO PSD

Agora que o PSD vai a eleições havendo diversas hipóteses de escolha seria interessante que, por uma vez, os diversos candidatos se pronunciassem sobre os temas principais da sociedade portuguesa, para que toda a gente saiba ao que vai quem ganhar.
A Democracia funciona assim e era bom que nos pudéssemos habituar a isso, para não haver surpresas depois da escolha.
O processo de escolha dos candidatos republicano e democrata dentro dos respectivos partidos nos EUA é, nesse sentido, impressionante. Só para a escolha do candidato democrático entre Hillary Clinton e Barak Obama , já houve 21 debates em directo na televisão. E não são debates a fingir em que os candidatos se podem esconder em meias palavras ou mentiras, porque são imediatamente desmascarados em frente de toda a gente.
Este processo de escolha exige dos candidatos tomadas de posição claras sobre todas as matérias importantes, que obviamente até vão evoluindo durante o processo. Significa isto que as estruturas de apoio dos diversos candidatos têm que fornecer informação completa sobre as diversas matérias, como sustentabilidade económica, consequências sociais, percepção política dos eleitores, etc.
Por outro lado, a comunicação social vai acompanhando as tomadas de posição concretas dos candidatos, cruzando-as com as importâncias relativas atribuídas pelos eleitores.
Um exemplo é o acompanhamento feito pela CNN, em que os temas estão claramente definidos como se pode ver pela reprodução da página da CNN, retirada daqui :


Campaign Issues
From concerns about the economy and the war in Iraq to the perennial topics of Social Security and the health care system, a range of issues is guiding this year's presidential race.
Abortion Housing
Economic stimulus Immigration
Education Iran
Energy Iraq
Environment Same-sex marriage
Free trade Social Security
Guns Stem cell research
Health care Taxes
Homeland security


Esta atitude pode ser surpreendente para muitas pessoas entre nós que não acompanham a campanha americana e se deixam levar pela conversa da treta dos nossos anti-americanos do costume, mas como se verifica é mesmo assim e está a anos luz do nosso primarismo na escolha dos candidatos.

INGRID BETANCOURT


Ainda mais que a política interna dos países, a cena política internacional encontra-se cheia de situações de incongruência e frequentemente da maior hipocrisia.

Ingrid Betancourt é uma senadora colombiana, de origem francesa, que foi raptada em Fevereiro de 2002 pelas auto intituladas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que a mantêm em cativeiro na floresta desde essa altura.

Quando foi raptada, Ingrid Betancourt era candidata às eleições presidenciais da Colômbia. De acordo com testemunhos de outros reféns entretanto libertados, Ingrid Betancourt permanece presa com correntes metálicas ou atada a uma árvore durante a maior parte do tempo. É fácil de imaginar o estado de saúde de uma mulher retida na floresta nestas condições, contra a sua vontade e sem acesso aos medicamentos necessários.

O rapto não tem qualquer justificação, a não ser o valor de Ingrid para uma eventual troca por membros das FARC feitos prisioneiros pelas autoridades colombianas.

As FARC constituem um caso interessante na cena internacional. Foram constituídas em 1964 na sequência de um daqueles casos de injustiça frequentes na América Central, sendo um movimento de esquerda de inspiração marxista.

Esta força paramilitar terrorista utiliza essencialmente dois métodos para se financiar e continuar na senda da instituição do socialismo revolucionário na Colômbia: em primeiro lugar, através do negócio da coca, para produção de cocaína que, como se sabe, é plantada em larga escala nas florestas colombianas – negócio esse bastante rentável embora absolutamente desprezível e condenável; a outra fonte de recursos é precisamente o sequestro de pessoas, e sua posterior troca por prisioneiros ou dinheiro, dispondo as FARC permanentemente de várias centenas de pessoas nessas condições, o que é igualmente demonstrativo do carácter daquela gente.

Curiosamente, ou talvez não, as FARC são desculpadas e até muito bem toleradas em certos meios europeus. É conhecida a sua presença nos festivais do Avante até há poucos anos. Por outro lado, é frequente encontrar entre nós articulistas que culpam o governo colombiano pela situação de Ingrid Betancourt.

A França, dado que Ingrid Betancourt possui também nacionalidade francesa, tem feito todos os esforços para providenciar apoio médico à prisioneira, até agora sem resultados.

Espera-se que esta situação seja rapidamente ultrapassada, antes que a prisioneira, que não tem qualquer culpa pelo sucedido, seja mais um vítima mortal dos movimentos terroristas que pululam pelo mundo em nome de uma utopia que já provou ser a mais sanguinária da História.

Publicado no Diário de Coimbra em 21 de Abril de 2008

domingo, 20 de abril de 2008

HERBERT VON KARAJAN

O canal arte da TV CABO transmitiu hoje de manhã o concerto de homenagem da Orquestra Filarmónica de Berlim ao seu antigo Maestro Herbert Von Karajan, pelo centenário do seu nascimento.
A obra escolhida foi o Concerto para Violino de Beethoven, tendo a Filarmónica sido dirigida por Seiji Ozawa.
A solista, claro, só podia ser Anne-Sophie Mutter.
SUBLIME

sábado, 19 de abril de 2008

BRÁS GARCIA DE MASCARENHAS


Expectativas largamente ultrapassadas.
Música adequada para este encontro:


Não vou fazer comentários ao que se passou.
Fica apenas uma foto de grupo actual (a possível) de uma turma do 5º ano no longínquo ano de 1969:

sexta-feira, 18 de abril de 2008

BRÁS GARCIA DE MASCARENHAS

Amanhã vou ter uma das experiências pessoais mais interessantes dos últimos anos.
Vou participar num encontro de antigos alunos do antigo Colégio Brás Garcia de Mascarenhas em Oliveira do Hospital, que frequentei do 1º ao 5º ano do Liceu em finais dos anos 60.
Foram anos felizes.
Vou rever colegas, homens e mulheres porque o Colégio era misto o que os amigos da Cidade não compreendem muito bem porque nos liceus não havia mistura, que não vejo há quase 40 anos.
Para não falar de professores e professoras que não faço ideia se estão vivos.
Desejo um bom fim-de semana a todos, com uma musiquinha desse tempo feliz e despreocupado:



Da mesma cantora que aposto poucos recordam, (Esther Ofarim) aqui fica outra belíssima interpretação que faz uma boa ligação aos nossos dias, esperando que me perdoem a deriva romântica e nostálgica.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

COMUNIDADES DE AFECTOS

A Assembleia da República aprovou ontem as alterações ao regime jurídico do divórcio. Basicamente é eliminada a culpa para a concretização do divórcio.
A Esquerda em bloco age assim contra um dos pilares essenciais da sociedade, e não sou só eu que o digo.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem tão incensada pela Esquerda quando lhe convém, afirma a este respeito o seguinte:

“A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado”

Como é evidente, este novo regime fragiliza a situação da mulher e dos filhos.

Uma deputada do Bloco de Esquerda dizia ontem que este novo regime defende melhor as liberdades individuais e que isso é o mais importante. Claro que um casamento pressupõe obrigações mútuas, o que pode ser visto como uma auto-limitação de liberdade individual por quem apenas vê o individualismo como valor absoluto e egoísta.

Chamar a este tipo de relacionamento casamento é uma pura falácia. Por este andar, a instituição casamento ficará apenas confinada ao casamento religioso que, como todos sabemos é muito mais, porque se trata de um Sacramento. Qualquer dia quem se quiser mesmo casar temo que ir à Igreja, porque casamento civil já não terá grande significado porque não dá qualquer segurança a nenhum dos elementos do casal.

Só para se perceber um pouco melhor os fundamentos desta nova lei, transcrevo parte da "exposição de motivos" que a justifica e peço que seja lida até ao fim sem demasiadas gargalhadas, porque o assunto é muito sério:

"Em segundo lugar, assume-se de forma explícita o conceito de responsabilidades parentais como referência central, afastando assim claramente a designação hoje desajustada de “poder paternal”, ao mesmo tempo que se define a mudança no sistema supletivo do exercício das responsabilidades parentais considerando ainda o seu incumprimento como crime. Finalmente, e reconhecida a importância dos contributos para a vida conjugal e familiar dos cuidados com os filhos e do trabalho despendido no lar, consagra-se pela primeira vez na lei e em situação de dissolução conjugal, que poderá haver lugar a um crédito de compensação em situação de desigualdade manifesta desses contributos."....

..."Para identificar o processo da sentimentalização basta analisar diacronicamente as práticas da vida conjugal e familiar nas últimas décadas para inevitavelmente concluir que os afectos estão no centro da relação conjugal e na relação pais-filhos. Não excluindo a existência de outras dimensões importantes da conjugalidade e da vida familiar, como a dimensão contratual, a económica e a patrimonial, que obviamente também é necessário ter em consideração, é no entanto inegável ser a dimensão afectiva o núcleo fundador e central da vida conjugal. Quanto às relações familiares entre pais e filhos foi ficando cada vez mais claro que o bem-estar psico-emocional dos últimos passou a estar em primeiro plano. "

Parece-me que nem são precisos mais comentários para se aquilatar do calibre de quem consegue "parir" um aborto de lei destas.









segunda-feira, 14 de abril de 2008

ANGOLA - CRIMES CONTRA A HUMANIDADE

Acabei de ler no Blogue Sorumbático o artigo que António Barreto escreveu este fim-de-semana no Público.

Ainda não estou em mim com o que acabei de ler, nomeadamente a transcrição (comprovada) de uma carta que Rosa Coutinho, à altura representante máximo de Portugal em Angola, enviou a Agostinho Neto em fins de 1974, que reproduzo com o devido respeito ao Sorumbático:

“ Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia Fanon que o complexo de inferioridade só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão à terra esses cães exploradores brancos que só o terror os fará fugir. A FNLA e a UNITA deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, de seus capitais e da sua experiência militar. Desenraízem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruíne toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reconstrução daquela”.

NOTA: bold da minha responsabilidade.

Não me passa pela cabeça que os nossos órgãos de Soberania algum dia tenha tido conhecimento desta atitude, mas agora já não é possível ignorar.

Trata-se de uma atitude criminosa que, nem por terem passado mais de trinta anos pode passar sem consequências. É obviamente um crime contra a humanidade e assim deve ser tratado nas instâncias internacionais devidas. Já no que diz respeito aos portugueses em Angola, sim porque era deles que Rosa Coutinho falava a Agostinho Neto, aquilo que ele fez sendo representante oficial de Portugal só pode ter uma classificação: TRAIÇÃO.

Espero que em qualquer dos casos o Estado Português cumpra o seu dever.