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quarta-feira, 13 de novembro de 2013
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
KENNEDY, JOHN
Faz este mês cinquenta anos que um presidente americano entrou de forma trágica na mitologia do século XX. Foi a 22 de Novembro de 1963 que John Fitzgerald Kennedy foi brutalmente assassinado a tiro numa avenida de Dallas. Nasceu numa das famílias mais ricas e influentes do Massachusetts e combateu na Marinha americana na II Guerra Mundial, tendo sido condecorado pela sua prestação.
Depois de uma breve carreira na Câmara de Representantes e no Senado, John Kennedy concorreu à Casa Branca em 1960 pelo Partido Democrático e venceu as eleições por uma margem reduzida contra o republicano Richard Nixon. Estava-se ainda no início da influência da televisão, mas já nessa altura se disse que, se o debate crucial entre os dois candidatos tivesse passado apenas na rádio, Nixon poderia ter ganho, porque não se veria o seu rosto cheio de suor e, acima de tudo, não se veria um Kennedy jovem, bem-parecido e com uma segurança sorridente que atraia imediatamente a simpatia. No entanto, Kennedy era possuidor de de uma formação teórica sólida e uma rara capacidade oratória que lhe possibilitava construir frases que ainda hoje são utilizadas por imensos políticos que citam em vez de inovar. Data dessa altura a sua célebre frase: “não perguntem o que o país pode fazer por vocês, mas sim o que vocês podem fazer pelos EUA”.
Enquanto presidente, teve fracassos e sucessos. Entre aqueles, o maior será certamente o fiasco da invasão da Baía dos Porcos em Cuba. Mas os sucessos ultrapassam certamente os fracassos. Era o tempo do apogeu da Guerra Fria, que acompanhava os grandes sucessos políticos da União Soviética e do pico do seu poderio militar. Apesar de Kennedy e Nikita Krustchov terem chegado a acordo sobre o Tratado para a Proibição da Armas Nucleares em 1961, a União Soviética decidiu instalar bases de mísseis em Cuba, colocando os EUA à mercê directa das suas armas. Kennedy foi de uma firmeza total, tendo Krustchov acabado por ceder, retirando os mísseis e levando-os de volta para a URSS.
Kennedy foi um defensor dos direitos humanos, apoiando decisivamente o combate ao racismo, chaga vergonhosa da sociedade americana de então. Se não esteve presente na manifestação em que Martin Luther King soltou o seu famoso “I have a dream”, recebeu na Casa Branca os seus principais responsáveis logo após a sua realização, prestando-lhes assim a sua homenagem ao mais alto nível.
É inesquecível a deslocação de Kennedy a Berlim, aquando da construção do infame Muro pelo regime comunista da RDA e a sua célebre frase “Eu sou um berlinense”, que acompanhou com uma gigantesca ponte aérea de apoio aos cidadãos aprisionados na parte sitiada da cidade.
Muitos de nós já o esqueceram ou os mais novos até não o saberão, mas no fim dos anos 60 do século passado, houve homens que foram á Lua. Também isso se deve a Kennedy, tendo sido o mote de mais uma das suas frases famosas que ficaram para a História: “escolhemos ir à Lua nesta década, e fazer mais coisas, não por serem fáceis, mas por serem difíceis”.
Mas tudo acabou para John Kennedy naquele cortejo de má memória em 22 de Novembro de 1963, na capital do Texas. E com ele morreu também grande parte do mundo como era, porque é impossível que tudo o resto fique como era quando um grande Homem com os seus defeitos e virtudes desaparece daquela forma trágica, sem que até hoje haja uma explicação credível para o que aconteceu.
Depois de uma breve carreira na Câmara de Representantes e no Senado, John Kennedy concorreu à Casa Branca em 1960 pelo Partido Democrático e venceu as eleições por uma margem reduzida contra o republicano Richard Nixon. Estava-se ainda no início da influência da televisão, mas já nessa altura se disse que, se o debate crucial entre os dois candidatos tivesse passado apenas na rádio, Nixon poderia ter ganho, porque não se veria o seu rosto cheio de suor e, acima de tudo, não se veria um Kennedy jovem, bem-parecido e com uma segurança sorridente que atraia imediatamente a simpatia. No entanto, Kennedy era possuidor de de uma formação teórica sólida e uma rara capacidade oratória que lhe possibilitava construir frases que ainda hoje são utilizadas por imensos políticos que citam em vez de inovar. Data dessa altura a sua célebre frase: “não perguntem o que o país pode fazer por vocês, mas sim o que vocês podem fazer pelos EUA”.
Enquanto presidente, teve fracassos e sucessos. Entre aqueles, o maior será certamente o fiasco da invasão da Baía dos Porcos em Cuba. Mas os sucessos ultrapassam certamente os fracassos. Era o tempo do apogeu da Guerra Fria, que acompanhava os grandes sucessos políticos da União Soviética e do pico do seu poderio militar. Apesar de Kennedy e Nikita Krustchov terem chegado a acordo sobre o Tratado para a Proibição da Armas Nucleares em 1961, a União Soviética decidiu instalar bases de mísseis em Cuba, colocando os EUA à mercê directa das suas armas. Kennedy foi de uma firmeza total, tendo Krustchov acabado por ceder, retirando os mísseis e levando-os de volta para a URSS.
Kennedy foi um defensor dos direitos humanos, apoiando decisivamente o combate ao racismo, chaga vergonhosa da sociedade americana de então. Se não esteve presente na manifestação em que Martin Luther King soltou o seu famoso “I have a dream”, recebeu na Casa Branca os seus principais responsáveis logo após a sua realização, prestando-lhes assim a sua homenagem ao mais alto nível.
É inesquecível a deslocação de Kennedy a Berlim, aquando da construção do infame Muro pelo regime comunista da RDA e a sua célebre frase “Eu sou um berlinense”, que acompanhou com uma gigantesca ponte aérea de apoio aos cidadãos aprisionados na parte sitiada da cidade.
Muitos de nós já o esqueceram ou os mais novos até não o saberão, mas no fim dos anos 60 do século passado, houve homens que foram á Lua. Também isso se deve a Kennedy, tendo sido o mote de mais uma das suas frases famosas que ficaram para a História: “escolhemos ir à Lua nesta década, e fazer mais coisas, não por serem fáceis, mas por serem difíceis”.
Mas tudo acabou para John Kennedy naquele cortejo de má memória em 22 de Novembro de 1963, na capital do Texas. E com ele morreu também grande parte do mundo como era, porque é impossível que tudo o resto fique como era quando um grande Homem com os seus defeitos e virtudes desaparece daquela forma trágica, sem que até hoje haja uma explicação credível para o que aconteceu.
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
ALLÔ ALLÔ
A espionagem rivaliza com outra atividade bem conhecida sobre a classificação de atividade mais velha do mundo, sendo que ambas concorrem ainda em muitos outros aspetos que ajudam na baixa consideração que o comum dos cidadãos tem por qualquer uma delas.
Em tempos de conflitos mais aguçados, como é o caso das guerras, percebe-se facilmente o papel precioso da chamada “informação”, sendo que nessas alturas a espionagem quase ganha foros de cidadania. Basta lembrarmo-nos da importância que o MI5 e o MI6 britânicos tiveram no desfecho da segunda guerra mundial e do trabalho tantas vezes heroico de homens e mulheres que frequentemente deram a própria vida na obtenção de segredos inimigos e na ajuda aos combatentes nas frentes de combate.
Também durante a chamada “guerra fria” a actividade da espionagem dos blocos ocidental e soviético foi extremamente intensa, constituindo frequentemente a ponta visível do iceberg que era a guerra surda que então se travava. Nos seus romances, John Le Carré descreveu como ninguém esse mundo subterrâneo e perigoso, onde não há amigos nem aliados. Mundo esse que não desapareceu após a queda do muro de Berlim, antes pelo contrário, apenas mudando os objetivos da atividade que, de uma forma evidente, passaram a ser muito mais económicos do que militares ou simplesmente políticos. Chegou-se a um ponto em que hoje se desconfia, com boas razões, que interesses económicos inconfessáveis terão levado comunidades de espionagem a montar um cenário artificial que enganou líderes políticos levando-os a decidir pela invasão do Iraque, com as consequências que todos bem conhecemos.
O desenvolvimento das comunicações e, em particular da internet, levou as capacidades da espionagem a um novo patamar anteriormente inimaginável. Deixou de ser necessário plantar os informadores no terreno, recorrendo-se à velha técnica das escutas, mas agora de uma forma completamente sistemática.
A legislação de proteção contra o terrorismo permitiu que nos EUA se desenvolvesse uma agência especializada na intercepção de mensagens, seja por telefone, por fax, por telemóvel ou por mensagem electrónica (e.mail), a NSA – Agência de Segurança Nacional.
Sabe-se agora que ninguém, mas mesmo absolutamente ninguém, em qualquer parte do mundo, está a salvo da NSA e das suas escutas. Data de 2006 um memorando em que a NSA solicitava à Casa Branca, ao Departamento de Estado e ao Pentágono que os seus oficiais lhe entregassem as listas de números de telefones de individualidades estrangeiras que possuíssem, com o objetivo de controlar as suas comunicações telefónicas e dos números contactados.
É assim que o telefone da própria chanceler alemã Angela Merkel foi sistematicamente objeto de escutas por parte da NSA, pelo menos nos últimos dez anos. Para além de Ângela Merkel, é provável que todos os líderes europeus sejam objeto desta atividade por parte dos americanos, para além de milhões de cidadãos anónimos por todo o mundo, como eu próprio e o leitor. Na última semana soube-se por exemplo que, só num mês, a NSA espiou mais de 60 milhões de chamadas telefónicas em território espanhol.
O número de líderes políticos que já protestaram contra as actividades da NSA continua a aumentar, abrangendo países como o Brasil, a Alemanha, a Espanha, a Itália e a França
A NSA tem mesmo utilizado os serviços de grandes empresas tecnológicas como a Yahoo, a Google e ainda dezenas de outras na análise de escutas, coordenação de agentes secretos e mesmo no controlo de aviões de guerra não pilotados, os drones.
A tecnologia não para no seu desenvolvimento e o mundo é cada vez mais uma aldeia global. Dever-se-ia exigir, de todos os governos, uma ação firme na rejeição de toda esta ação que mistura interesses privados com espionagem e mesmo guerra. Em causa está mesmo a continuação dos regimes democráticos, tal como hoje os conhecemos.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 4 de Novembro de 2013
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
PRIMAVERAS (no outono)
Na noite da passada sexta-feira, a Biblioteca Joanina encheu-se para um concerto inédito, integrado nos VII Encontros Internacionais da Guitarra Portuguesa, organizados pela Orquestra Clássica do Centro. Para além de peças de compositores clássicos como Schubert e Mozart, foi possível ouvir composições de alguém que Coimbra bem conhece e ama: as Primaveras e outras peças de Francisco Martins.
A interpretação esteve a cargo de Natália Pikoul ao piano e de Richard Thomes ao violino. O leitor estará esta hora a perguntar-se sobre o que farão as obras de Francisco Martins neste programa, conhecendo-as como conhece, tocadas no instrumento mais característico da canção de Coimbra: a guitarra de Coimbra. E o ineditismo deste concerto esteve precisamente aí: no facto de composições habitualmente interpretadas à guitarra de Coimbra acompanhada por guitarra clássica serem tocadas por um duo composto por pianista e violinista.
A possibilidade de isto ter acontecido tem uma história longa e interessante. Há cerca de um ano, aquando dos VI Encontros de Guitarra Portuguesa, a Orquestra Clássica do Centro decidiu publicar em livro as partituras de algumas das composições de Francisco Martins. A razão dessa publicação percebe-se pelo facto de essas obras constarem de discos publicados e poderem portanto ser ouvidas e apreciadas pelos ouvintes interessados, mas não estarem à disposição de intérpretes, por não estarem escritas; situação esta que acontece alias com grande parte do reportório da guitarra portuguesa, que é passado de intérprete para intérprete, limitando a sua interpretação. Com a publicação das partituras, qualquer guitarrista em qualquer parte do mundo pode tocar as músicas, desde que as saiba ler, podendo ainda ser transcritas para outros instrumentos.
Quem fez esse trabalho difícil e exigente foi precisamente a compositora Natalia Pikoul, a partir das gravações existentes interpretadas pelo próprio Francisco Martins. Natália Pikoul é, tal como a sua irmã Marina uma excelente pianista, mas também compositora saída das melhores escolas de música de Moscovo, tendo passado ainda por Paris antes de se radicar em Portugal. As irmãs Pikoul são a prova de que a suposta supremacia histórica dos homens na área da composição musical não é mais do que o resultado do esmagamento da capacidade das mulheres também nessa área, que eliminou um património riquíssimo da história cultural da humanidade.
Estes VII Encontros deram a Coimbra a possibilidade de apreciar peças musicais de uma enorme beleza, trazidas por intérpretes do gabarito de Doc Rossi, Bruno Costa, Carlos Alberto Moniz, Artur Caldeira, Natália Pikoul, Richard Thomas, Virgílio Caseiro, ou os excelentes músicos do Fado ao Centro e ainda toda a Orquestra Clássica do Centro dirigida por David Lloyd.
Momentos houve de verdadeiro êxtase pela beleza das músicas e virtuosismo dos intérpretes, recordando-se aqui a performance superlativa de Artur Caldeira. Mas na memória perdurarão as Primaveras de Francisco Martins, monumento cultural da nossa Cidade, tocadas de uma forma nova e lindíssima na Biblioteca Joanina, em momento afectivo que uniu muitos dos presentes a quem, embora ausente fisicamente, lá estava também através da sua música.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 28 de Outubro de 2013
A interpretação esteve a cargo de Natália Pikoul ao piano e de Richard Thomes ao violino. O leitor estará esta hora a perguntar-se sobre o que farão as obras de Francisco Martins neste programa, conhecendo-as como conhece, tocadas no instrumento mais característico da canção de Coimbra: a guitarra de Coimbra. E o ineditismo deste concerto esteve precisamente aí: no facto de composições habitualmente interpretadas à guitarra de Coimbra acompanhada por guitarra clássica serem tocadas por um duo composto por pianista e violinista.
A possibilidade de isto ter acontecido tem uma história longa e interessante. Há cerca de um ano, aquando dos VI Encontros de Guitarra Portuguesa, a Orquestra Clássica do Centro decidiu publicar em livro as partituras de algumas das composições de Francisco Martins. A razão dessa publicação percebe-se pelo facto de essas obras constarem de discos publicados e poderem portanto ser ouvidas e apreciadas pelos ouvintes interessados, mas não estarem à disposição de intérpretes, por não estarem escritas; situação esta que acontece alias com grande parte do reportório da guitarra portuguesa, que é passado de intérprete para intérprete, limitando a sua interpretação. Com a publicação das partituras, qualquer guitarrista em qualquer parte do mundo pode tocar as músicas, desde que as saiba ler, podendo ainda ser transcritas para outros instrumentos.
Quem fez esse trabalho difícil e exigente foi precisamente a compositora Natalia Pikoul, a partir das gravações existentes interpretadas pelo próprio Francisco Martins. Natália Pikoul é, tal como a sua irmã Marina uma excelente pianista, mas também compositora saída das melhores escolas de música de Moscovo, tendo passado ainda por Paris antes de se radicar em Portugal. As irmãs Pikoul são a prova de que a suposta supremacia histórica dos homens na área da composição musical não é mais do que o resultado do esmagamento da capacidade das mulheres também nessa área, que eliminou um património riquíssimo da história cultural da humanidade.
Estes VII Encontros deram a Coimbra a possibilidade de apreciar peças musicais de uma enorme beleza, trazidas por intérpretes do gabarito de Doc Rossi, Bruno Costa, Carlos Alberto Moniz, Artur Caldeira, Natália Pikoul, Richard Thomas, Virgílio Caseiro, ou os excelentes músicos do Fado ao Centro e ainda toda a Orquestra Clássica do Centro dirigida por David Lloyd.
Momentos houve de verdadeiro êxtase pela beleza das músicas e virtuosismo dos intérpretes, recordando-se aqui a performance superlativa de Artur Caldeira. Mas na memória perdurarão as Primaveras de Francisco Martins, monumento cultural da nossa Cidade, tocadas de uma forma nova e lindíssima na Biblioteca Joanina, em momento afectivo que uniu muitos dos presentes a quem, embora ausente fisicamente, lá estava também através da sua música.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 28 de Outubro de 2013
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
As vezes que for necessário
“Everything that needs to be said has already been said. But since no one was listening, everything must be said again.”
Conhecimento
"No man really knows about other human beings. The best he can do is to suppose that they are like himself." — John Steinbeck
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
Os portugueses e os Bancos
De vez em quando deparamos com uma notícia que nos atinge como um murro no estomago. De tão difícil de acreditar, até parece que alguém está a gozar connosco. Mas se a infvormação consiste no resultado de uma mega sondagem levada a cabo por uma agência credível a nível mundial como a GALLUP; o mais sensato é analisar com atenção e pensar se a nossa própria reacção não consiste num preconceito resultado da enxurrada de informação que diariamente nos inunda os jornais e os computadores.
De facto, a Gallup deu a conhecer há poucos dias o
resultado de uma sondagem que realizou nos países europeus com intervenção
financeira externa, sobre a percepção que os respectivos cidadãos têm dos seus
sistemas bancários.
O que mais surpreende é Portugal ser, dos países
intervencionados, o que manifesta mais confiança nos seus bancos. Mais, a
percentagem dos portugueses que confiam nos seus bancos é ligeiramente superior
à dos alemães, principais financiadores das intervenções financeiras. Claro que
54% dos portugueses não confiam nos seus bancos, mas os 40% que confiam são um
número que se pode considerar espantoso, até porque essa percentagem subiu 4
pontos de 2012 para 2013. Apesar do apreciável nível de confiança que ainda
manifestam nos seus bancos, os alemães estão longe dos níveis anteriores à
crise de 2008, numa queda de 20 pontos que tarda a recuperar. Os alemães sabem
bem que foram colocados mais de 640 mil milhões de euros à disposição dos seus
bancos desde 2008, para evitar mais falências no sistema bancário.
Para se perceber bem como a taxa de confiança em Portugal
é extremamente significativa, basta ver que em Espanha a percentagem dos
cidadãos que confiam nos bancos é de 11%, com descida de 7% entre o ano passado
e este ano, enquanto na Grécia é de 17%, na Irlanda de 15% e no Chipre de 11%.
Claro que em Portugal, e a Gallup não deixa de o
salientar, a crise que levou à intervenção externa foi provocada pela dívida
insustentável resultante de défice das contas do Estado exagerado e prolongado,
enquanto nos outros países foi essencialmente bancária. Mas também sabemos que
os bancos portugueses receberam uma parte do pacote financeiro da troika.
Sabemos ainda outras coisas, como seja a elevada quantidade de dívida pública
comprada pelos bancos portugueses. E todos os dias somos inundados com notícias
sobre o BPN, sobre o BPP e ultimamente sobre o Banif, que se tenta financiar
sem grande sucesso. E não esquecemos o que se passou e ainda passa como o maior
banco privado português, o BCP, que em Junho de 2012 recebeu 3 mil milhões de
euros para não desaparecer, embora o valor das suas acções seja ainda hoje
pouco mais que zero.
E mesmo assim…O que levará os portugueses a não perder a
grande confiança que continuam a manifestar nos nossos bancos? E será isso bom?
E quais as consequências da actual situação europeia para o nosso futuro
colectivo?
Na realidade, observando de fora, o elevado nível de
confiança dos portugueses nos bancos nacionais parece algo incompreensível. Mas
será necessário entender a relação pessoal dos portugueses com os seus bancos
que, no fim, ditará os valores estatísticos. E o que se vê é que, apesar da
crise, os bancos foram tentando resolver de uma maneira ou de outra os
problemas resultantes essencialmente do financiamento para habitação; ao
contrário de outros países, não se viu os bancos ficarem repentinamente na
posse de todo um património imobiliário resultante do incumprimento das
obrigações dos particulares. E deverá residir aí boa parte da razão que leva
40% dos portugueses a confiar nos bancos nacionais quando, no ano passado, eram
36%.
E é bom que os portugueses continuem a confiar na banca
portuguesa, para que ela recupere da difícil situação em que se deixou enredar,
ou em que a enredaram, particularmente num momento em que os sinais de retoma
da economia são indesmentíveis, mesmo que de dimensão ainda reduzida face às
necessidades de crescimento.
Mas a Europa continua, no seu todo, a ser a região do
mundo com mais baixos índices de confiança nas instituições financeiras. Depois
das eleições alemãs, como salienta a própria Gallup, é chegado finalmente o
momento de se encontrar acordo para aprofundar a união europeia, também no
sistema bancário.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra de 21 Outubro 2013
Nota: Gráficos retirados de Gallup: http://www.gallup.com/home.aspx?ref=b
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