Em Agosto de 1929 os muçulmanos atacaram o bairro judeu de Jerusalém, mutilando e matando os judeus que encontraram. Foi o início de massacres que duraram vários dias e se estenderam a cidades vizinhas, tendo-se praticado atrocidades horrorosas, incluindo decapitação de crianças. No fim, contaram-se algumas centenas de mortos, judeus e árabes. Por respeito aos leitores dispenso-me de descrever os horrores praticados pelos muçulmanos, de acordo com relatórios feitos na altura.
Em 7 de Outubro de 2023, quase cem anos depois destes acontecimentos, palestinianos pertencentes ao grupo terrorista Hamas saíram da faixa de Gaza e atacaram civis israelitas que estavam nas suas casas e a participar num festival de música. O ataque saldou-se por mais de mil mortos, muitos deles com os mesmos requintes de sadismo de há cem anos e ainda pelo rapto de quase 200 pessoas levadas à força para Gaza.
Há algumas diferenças relativamente aos factos de 1929. Em primeiro lugar, o de 2023 foi longamente planeado e preparado, ao contrário do de há cem anos. Em segundo lugar, o ataque mais recente foi testemunhado praticamente em directo pelo mundo inteiro através dos actuais meios de comunicação. Em terceiro lugar, foram feitos reféns. Em quarto lugar, há cem anos ainda não havia Estado de Israel, sendo o território um protectorado britânico, na sequência da I Grande Guerra e do fim do Império Otomano que antes dominava a zona.
De notar que naquela terra os judeus, até meados do sec. XIX, estavam sob um regime introduzido no sec. VIII chamado “dhimma” segundo o qual eram seres inferiores e só poderiam viver e praticar o culto se aceitassem esse estatuto. A terra chamava-se “Palestinae” desde que o Imperador Adriano riscou a anterior designação “Judeia” na sequência da última revolta judaica violentamente reprimida. A título de curiosidade o nome “Palestina” é da autoria de Heródoto que assim designava os povos que, vindo de barco da Egeia, se instalaram nas costas. Na altura, até Jerusalém viu o seu nome alterado para “Aelia Capitolina” e os judeus foram proibidos de lá habitar. Como se vê, a existência de judeus naquelas terras é de séculos, nunca tendo sido interrompida apesar de tudo o que, entretanto, se passou.
Desta vez Israel decidiu reagir ao ataque de 2023, com o objectivo declarado de destruir o movimento Hamas, para além de recuperar os reféns levados para Gaza. Essa reacção, que se traduziu num ataque do exército israelita à faixa de Gaza mantém-se ainda em actividade. A acção militar provocou a deslocação de centenas de milhares de habitantes da Faixa que vivem em condições desumanas em campos de refugiados, vendo as suas habitações e cidades serem sistematicamente destruídas pelo exército israelita.
Para além de terroristas do Hamas, há milhares de mortos civis, embora esteja por fazer a contabilidade correcta, dado que os elementos existentes são os dados fornecidos por um dos lados, no caso o Hamas. E não esqueço a eficácia da propaganda palestiniana desde que há uns anos fiquei muito impressionado com uma fotografia de um pai sentado desesperado num passeio com uma criança morta nos braços. Sucede que, poucos dias depois, apareceu um vídeo em que se vê pai e filho irem calmamente embora depois da montagem para a fotografia. E não devo estar sozinho ao detestar ser vítima de propaganda mentirosa, principalmente quendo mexe com os sentimentos.
Israel responde sempre que é atacado, o que não pode deixar de fazer para defender a sua própria existência, reconhecida internacionalmente desde 1948. Pessoalmente recordo as Guerras dos Seis Dias e do Yom Kippur, para além dos outros inúmeros conflitos. Razão por que suspeito que o fim do Hamas ao realizar o ataque de 7 de Outubro era mesmo esse: provocar a reacção. E Israel desta vez excedeu-se claramente não conseguindo atingir os objectivos para além da destruição: o Hamas ainda existe, os palestinianos nunca esquecerão o sucedido e ainda há mais de cem reféns nas mãos do Hamas.
O conflito está agora a passar para um patamar internacional. O Irão, que está por detrás do Hamas, aliou-se à Rússia de Putin e o primeiro-Ministro israelita é um claro aliado de Trump. Sabendo-se do interesse de Putin na eleição de Trump, o destino do mundo está nas mãos dos eleitores americanos.
Nota: os elementos históricos foram recolhidos na obra “As origens do Conflito Isaraelo-Árabe” da autoria de Georges Bensoussan, editado em 2024 pela Guerra e Paz
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 26 de Agosto 2024
Imagens recolhidas na internet