No entanto, como se
costuma dizer, o caminho faz-se caminhando. E, ao fim de 40 anos de poder local
democrático, o sistema que foi montado foi-se integrando no sistema político
nacional, havendo mesmo a ideia de que, perante tudo o resto, não é o que
funciona pior, muito pelo contrário.
De propósito, não
abordo neste texto, as fragilidades do poder local que derivam na maior parte
das vezes mais de defeitos e erros dos partidos políticos do que da organização
política decorrente do texto constitucional. Essa análise pessoal ficará para
outra oportunidade, espero que próxima.
O facto de os
executivos municipais integrarem vereadores do partido do seu presidente, mas
também outros de partidos que recolheram suficientes votos para neles
participarem cria, nos vereadores ditos da oposição, um determinado tipo de
responsabilidades políticas, mas não só, de que, infelizmente, não tomam muitas
vezes consciência. Na realidade, os municípios não têm um governo de um partido
e sim representantes escolhidos pelo povo que, umas vezes estão em desacordo
com as medidas propostas pelo partido com responsabilidades de pelouros e votam
em conformidade, mas outras vezes estarão de acordo e aprovam-nas. De uma
posição e de outra não vem mal ao município, desde que todos assumam o seu
papel.
Mas algo vai mal
quando os edis escolhidos pelo povo se ficam pela participação nas reuniões do
executivo para aprovar ou reprovar o que é proposto. A filosofia da
Constituição é que o Executivo Municipal é composto por todos os vereadores
eleitos, sejam da “situação” ou da “oposição”. E isso deverá transparecer para
fora da “sala de reuniões da Câmara”, com a comparência em actos políticos,
culturais ou mesmo apenas sociais promovidos pelo Município.
Não foi sempre assim, mas de há bastante tempo a esta parte tem-se notado que, quando um partido tem a presidência da Câmara, os vereadores dos outros partidos alheiam-se e não comparecem em actos públicos e a situação inverte-se quando muda o partido da presidência. Claro que cada um pode adiantar as razões que entender para a sua atitude, eventualmente responsabilizando o outro por falta de convite, ou qualquer coisa do género. Fica mal. Vereadores são todos os membros do Executivo e, se todos têm responsabilidades legais inerentes à sua eleição, têm igualmente responsabilidades representativas que, caso alijadas, bem poderão ser sentidas como desconsideração pelos eleitores que lhes confiaram o seu voto.