As obras
de construção do “Centro de Convenções e Espaço Cultural do Convento de S.
Francisco”deverão estar concluídas dentro de alguns meses, após um imbróglio
entre dono de obra e empreiteiro adjudicatário que, ao que tudo indica, só
terminará em tribunal. Partindo da recuperação do antigo convento, que também
já foi fábrica de lanifícios, o projecto do “Convento de S. Francisco”-
chamemos-lhe assim para abreviar e também para abrigar todas as alternativas
funcionais que poderá, ou não, vir a ter - passou a integrar uma sala de
espectáculos com 1.200 lugares e um parque de estacionamento com mais de 500
lugares.
Desde o
seu início que várias contradições atravessaram o caminho do projecto do
“Convento de S. Francisco”. Desde logo, Centro Cultural ou Centro de
Convenções? Conforme a decisão, o projecto (no seu sentido estrito de
Arquitectura) seguiria caminhos diferentes, através de programas específicos.
Não se sabendo o que escolher, resta a solução à portuguesa da actualidade, que
é pedir ao arquitecto projectista para decidir e colocar lá tudo, que depois se
vê o que se lá conseguirá fazer.
Aqui está o primeiro erro fatal. Qualquer
promotor privado de um grande investimento faz estudos prévios de mercado, faz
contas sobre a sustentabilidade do projecto e só escolhe a solução final de
arquitectura depois de analisadas diversas hipóteses quer sob o ponto de vista
de funcionalidade, quer de custos. Tudo isto com vista a várias coisas: em
primeiro lugar, conseguir a resposta mais eficiente para aquilo que se quer; em
segundo lugar, criar condições para que a obra decorra nos prazos indicados e
que não tenha acréscimos de custos, isto é, que seja passível de ser
controlada. Mas antes de tudo, para que isto seja possível, o promotor tem de
saber exactamente o que quer, para que os projectos sejam claramente definidos
e as soluções técnicas sejam as melhores e mais económicas. Depois, durante a
obra, escolhe-se uma equipa com um responsável bem definido, que abranja as
diversas áreas necessárias para assegurar a boa execução dos trabalhos, com
capacidade para responder em tempo útil a todas as questões que os empreiteiros
sempre colocam. Como costumo dizer, o dono de obra tem a faca e o queijo na mão
antes de entregar a obra; depois disso, dono de obra, fiscalização e
empreiteiro estão todos no mesmo barco numa tempestade que é tanto mais
turbulenta, quanto maior a dimensão da obra; se o barco se afundar, vão todos
ao fundo e não apenas um deles.
Nas
obras do Estado, infelizmente, nada disto se passa e o Convento de S. Francisco
é disso exemplo acabado, não sendo necessário analisar cada um dos pontos acima
referidos, tal é a evidência do sucedido.
Discute-se
hoje o que lá fazer depois das obras acabadas. Isto é, aquilo que deveria ter
sido feito antes do próprio projecto, é agora o assunto do dia do Convento de
S. Francisco, quando se vê finalmente a luz ao fundo do túnel das obras.
Constata-se que, nem durante os anos que duraram as obras a Autarquia foi capaz
de elaborar um plano de utilização do equipamento. Faz-se agora, tarde e a más
horas, parecendo que gente conhecedora da matéria e competente se dedica finalmente
ao assunto.
Este é
um equipamento tão importante para a Cidade e região, que todas as forças
políticas e entidades devem colaborar para que venha a ser um sucesso,
ultrapassando um historial já de si negativo. No entanto, vem agora o anterior
presidente da Câmara comentar sobre as aspirações de Coimbra quanto ao Convento
de S. Francisco. Quanto a mim fez mal. Deveria ter algum pudor e até um pouco
de bom senso ao abordar este assunto. Teve muito tempo para cuidar que as obras
se desenvolvessem adequadamente e não o fez, embora tivesse sido aconselhado a
tempo; teve muito tempo para definir o modelo de utilização do equipamento e
nada se viu.
O Estado
tem farta e poderosa legislação para evitar a corrupção nas obras públicas. O
que muitas vezes falta, para que os investimentos públicos corram bem e sejam
sustentáveis, é competência e humildade dos decisores desses investimentos para
entenderem que não sabem tudo e se devem rodear de quem sabe.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 8 de Junho de 2015
1 comentário:
Assino por baixo. Quantos milhões (ou milhares de milhões) o Estado Português devia a menos hoje se a ponderação dos custos em relação aos benefícios fosse acompanhada de projectos bem feitos?
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