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segunda-feira, 25 de abril de 2016
quarta-feira, 20 de abril de 2016
segunda-feira, 18 de abril de 2016
Offshore da decência
A resolução de
problemas financeiros pessoais ou empresariais tem um determinado tipo de
opções, desde que a honestidade, a ética e, mais prosaicamente a simples
decência, estejam bem arrumadas num qualquer local a recato de observações
incómodas. Tal como acontece com o próprio dinheiro arrecadado de uma forma
digamos, menos convencional.
Os chamados “Panama
papers” vieram avivar o interesse público pela utilização dos chamados
“offshores”, paraísos fiscais e zonas francas existentes um pouco por todo o
mundo e até mesmo, cá em Portugal. Curiosamente, a publicação a conta gotas
daqueles documentos, não veio trazer grandes surpresas no que diz respeito aos
portugueses envolvidos, que já estariam mesmo a ser objecto de investigações
por parte das nossas autoridades. Boa parte dos nomes incluídos seriam uma
surpresa mas ao contrário, isto é, se não estivessem na lista, quase como um
“noblesse oblige”. O mesmo não se dirá da inclusão de dirigentes chineses, a
começar pelo presidente, o seu irmão e vários outros altos cargos do partido
comunista chinês na lista dos detentores de empresas e contas bancárias
offshore, o que mostra bem que a ganância e a ética não têm cor política.
Nesta era em que,
pelos vistos, se dá tanto valor à amizade, os “Panama papers” vieram também
tornar pública a fortuna colocada em offshore de um grande violoncelista russo
que é um grande amigo de Vladimir Putin e é o feliz possuidor da singela maquia
de 2.000 milhões de dólares que o próprio também justificou como dádivas de
amigos e admiradores.
Lá está, costuma dizer-se que os amigos são para as
ocasiões e são tantas e tantas vezes a solução para problemas financeiros e não
só, que essa bela instituição da amizade se não existisse já há muito tempo,
teria que ser inventada de novo.
Claro que tudo o
que tenha a ver com bancos não tem, à partida, nada a ver com decência. Mas
resolver os problemas dos bancos portugueses que foram eles próprios a criá-los
com as suas escolhas empresariais ao longo dos anos através de um banco mau que
será com toda a certeza pago pelos contribuintes, é a prova disso mesmo. Quando
Portugal assinou em 2011 o famigerado “Protocolo de Entendimento” com a troika com
o empréstimo no valor de 78.000 milhões de euros visou apenas resolver os
problemas do Estado, deixando de lado o sistema bancário, que já na altura
necessitava de 30 a 40 mil milhões para se equilibrar.
A consequência foi os bancos,
um após o outro, serem objecto de resolução ou venda forçada ao primeiro que
aparecer, deixando de lado os “activos” mal parados para mais tarde resolver enviando
a conta aos cidadãos contribuintes. Alguém achará decente não deixar falir os
bancos, responsabilizando os donos/accionistas, protegendo-se apenas os
depositários até ao valor previsto na Lei? Porque já se sabe quem pagará a
conta dessa protecção e quem beneficia com isso.
E o que dizer de
altos responsáveis da Polícia Judiciária detidos por se terem deixado envolver
no tráfico da droga de cujo combate eram até há pouco tempo a cara? E dos
funcionários do Fisco que decidiram montar o seu próprio negociozinho privado
de venda de declarações falsas a empresários que delas precisavam? A boa
notícia é que as forças policiais funcionaram e não tiveram dúvidas em acabar
com o regabofe.
Tal como
anteriormente os responsáveis máximos dos serviços envolvidos na emissão de
Vistos Gold a estrangeiros foram detidos por suspeita de montarem o seu próprio
negócio co-lateral, envolvendo o próprio Ministro responsável por essa área
governativa.
Longe da decência
andará igualmente a proposta estapafúrdia de transformar as mulheres em mero
instrumento reprodutivo, através da proposta de aprovação das “barrigas de
aluguer”. Que diabo de direitos de terceiros podem justificar que as mulheres
possam ser legalmente reduzidas àquela condição?
Muitos milionários
colocam os seus haveres a bom recato de fiscos e outros olhares “incómodos”,
utilizando para isso os “offshores” que as autoridades deste mundo permitem e
até patrocinam. Mas tudo isto que vamos vendo e lendo por todo o lado mostra
que há algo que anda muito mais longe da vista e chama-se, apenas, decência.
segunda-feira, 11 de abril de 2016
Para memória futura.
Detesto militarismos.
Mas fiz serviço militar e sei que, como em tudo na vida, só se respeita quem se dá ao respeito.
Mas fiz serviço militar e sei que, como em tudo na vida, só se respeita quem se dá ao respeito.
Criminosos de guerra, dos nossos dias
Por estes dias de
grande azáfama informativa, ou antes de enxurrada de notícias que mais parece
construção de biombo para esconder a realidade, houve uma que passou
praticamente despercebida nos nossos meios de comunicação social: “Radovan Karadžić,
líder dos sérvios bósnios na guerra da Bósnia de 1992-95 foi considerado
culpado de genocídio e crimes de guerra pelo Tribunal
Penal Internacional da ex-Jugoslávia na Haia. Foi condenado a 40 anos de prisão.” Para este
texto tive que me socorrer da revista Economist e outros textos de imprensa
internacional porque, por cá, parece só nos interessarmos por denúncias anónimas
e umas pueris ameaças de bofetadas queirosianas.
Os mais jovens nem
saberão o que foi a guerra na Bósnia e, provavelmente, nem imaginam que na
nossa Europa, há uns escassos 20 anos, houve uma guerra cuja brutalidade e
selvajaria não ficou a dever nada ao que se passa hoje no Médio Oriente.
Após a II Guerra
Mundial, um dos países surgidos para lá daquilo a que Churchill chamou Cortina
de Ferro, foi a Jugoslávia. O regime comunista instalado foi dominado com mão
de ferro pelo Marechal Tito possuidor de personalidade muito forte mas que não
tentou sequer solucionar as divisões entre as repúblicas, especialmente a
Sérvia e a Croácia temendo-se que, quando o seu regime acabasse, se desse a desintegração
do país.
De facto, após a
sua morte e o fim do bloco soviético, os demónios dos ultra-nacionalismos
libertaram-se e deram origem à guerra civil que surgiu entre 1992 e 1995,
conhecida como Guerra dos Balcãs. As atrocidades cometidas por todos os lados
deste conflito são indescritíveis, colocando em causa todo o nosso conceito de
civilização e de respeito pelos outros, de uma forma ainda mais acentuada por
acontecer no centro da Europa, em pleno final do século XX. Todos os fantasmas
da região, que já tinham dado origem à I Grande Guerra, continuando pelas lutas
entre extremistas nazi-fascistas e comunistas durante a II Grande Guerra e que
tinham sido contidos pelo regime do Marechal Tito, pareceram transformar-se em
verdadeiros cavaleiros do apocalipse, eliminando qualquer pequena mostra de
humanidade.
O massacre de mais
de 7.500 homens e rapazes muçulmanos bósnios no enclave de Srebrnica em Julho
de 1995 foi apenas um dos dez crimes de que Karadžić foi considerado culpado
pelo Tribunal
Penal Internacional da ex-Jugoslávia, das onze acusações de genocídio, crimes de guerra,
crimes contra a humanidade e outras atrocidades. Evidentemente, Karadžić não
andava sozinho. O seu comandante militar Ratko Mladic está também a ser julgado,
devendo conhecer a sentença do Tribunal ainda no decorrer do corrente ano, mas
o principal responsável, o ex-presidente jugoslavo Slobodan Milosevic já se
livrou de qualquer penalização, por ter morrido em 2006, enquanto era julgado.
A história pessoal
de Radovan Karadžić deve ser conhecida, dado ser a demonstração de como uma
pessoa comum pode degenerar num criminoso sanguinário. Karadžić, nascido no
Montenegro na Jugoslávia em 1945 é um psiquiatra com formação nas Universidades
de Sarajevo e Colúmbia em Nova Iorque, sendo além disso um poeta com obra
publicada.
Apesar de tudo isso, as circunstâncias do fim da Jugoslávia e da sua
herança política familiar, sendo filho de um antigo combatente da Chetniks,
levaram-no a participar activamente numa das facções políticas e mais, a pegar
em armas e comandar e participar nos crimes odiosos pelos quais foi agora
condenado. Terminada a guerra dos Balcans, Karadžić pôde viver calmamente no
centro de Belgrado, sem ser denunciado por ninguém, apesar dos mandados de
busca internacionais que sobre ele pendiam, tendo deixado crescer umas barbas e
usando identidade falsa, fornecida pelas próprias autoridades sérvias. Só em
2008 a polícia internacional o identificou, deteve e apresentou ao Tribunal
onde aguardava ser julgado, tendo ele próprio assegurado a sua defesa, perante
as mais de três milhões de folhas que compunham a acusação.
A História mostra
que, quando os conflitos são mal resolvidos, há sempre consequências. Que as
sentenças do Tribunal
Penal Internacional da ex-Jugoslávia sirvam, pelo menos, para demonstrar que nos nossos
dias a barbárie, mais tarde ou mais cedo, não fica impune.
segunda-feira, 4 de abril de 2016
FMI novamente com más notícias
Neste período de
“distensão política” poderíamos ser levados a pensar que o tempo do FMI em
Portugal foi apenas um sonho mau e que já estávamos livres desses senhores. No
entanto, a realidade tem muita força e acaba sempre por se impor, por mais que
muitos tentem cobri-la com o manto diáfano da fantasia.
Portugal já tem um
Orçamento de Estado para 2016, que foi promulgado pelo Presidente da República
em apenas quatro dos vinte dias de que dispunha para o fazer. Não tendo sido
levantadas quaisquer dúvidas sobre a existência de inconstitucionalidades no
documento, não havia razões para que não entrasse rapidamente em vigor, até
porque já estamos em Abril. É claro que não haveria inconstitucionalidades como
em tempos recentes de aplicação do memorando com a troika, no fio da navalha
das receitas e despesas, com a necessidade de fugir à bancarrota nacional que,
essa, afinal não é inconstitucional.
Claro que, mais
importante que ter um orçamento, é a sua concretização tendo em vista a
recuperação da economia do país. E foi aqui que o relatório da terceira avaliação
pós-programa do FMI veio como um duche de água gelada, por mais que se tente
esconder isso do povo. O FMI mostra não acreditar nas metas contidas no
Orçamento e pede que sejam tomadas medidas adicionais, quer do lado da despesa,
quer do lado da receita, para que os valores do défice e da dívida no final do
ano se aproximem dos objectivos fixados. A fim de diminuir a despesa do Estado,
o FMI considera que “as propostas que dizem respeito à reversão total dos
salários dos funcionários públicos este ano devem ser reconsideradas para um
período de tempo mais longo”. Já do lado da despesa, o FMI considera que “ a
reversão da sobretaxa de IRS e a redução do IVA para algumas categorias deve
ser adiada até que seja identificado espaço orçamental para o fazer”.
Tudo isto porque o
FMI prevê para este ano um défice das contas públicas de 2,9%, portanto 0,7%
acima do previsto no Orçamento, quando em 2015 foi de 3,0% não contando com o
efeito do BANIF, que por si acrescenta 1,4%, estando ainda por explicar a razão
disso. No que respeita ao défice estrutural, o FMI prevê um agravamento de 0,5%
do PIB, para o valor de 2% do PIB.
Como se a negritude
do cenário traçado não fosse ainda suficiente, o FMI avisa que o crescimento da
economia já atingiu o máximo, indo descer a partir de agora, com as opções
orçamentais aprovadas, se não houver mais reformas estruturais. Quando se sabe
que o anémico crescimento de 2015 que terá sido de 1,46 depois de ser de 0,91
em 2014 e claro, negativo nos anos anteriores, ainda pode descer mais, as
preocupações não podem deixar de ser grandes. O FMI não se refere a outros
factores como o desemprego, mas a verdade é que no primeiro trimestre de 2016
esta taxa voltou a crescer, o que já não sucedia há vários trimestres, o que
não vem ajudar nada a sermos optimistas.
Por fim, o FMI
alerta para o grave risco da revisão da única nota de investimento atribuída em
Portugal, pela única sociedade de rating
que não nos classifica como “lixo”. A acontecer, o que poderá ser consequência
de incerteza política ou se as previsões do Orçamento de Estado não se vierem a
verificar, particularmente no crescimento económico, as consequências para o
país serão muito más, quer pelo lado da falta de investimento estrangeiro quer,
pior ainda, por o Banco Central Europeu (BCE) deixar de poder comprar dívida
pública portuguesa e os bancos portugueses deixarem de poder usar a dívida
soberana como colateral para se financiarem.
É bem sabido que o
FMI não colhe a simpatia generalizada dos cidadãos, e isso acontece por boas
razões. A simples referência à deslocação das suas delegações significa más
notícias para os países que os recebem. A razão principal é que o FMI só tem
que se deslocar a países que o chamam por estarem em situação financeira
desesperada. Não vão àqueles que têm políticas que conduzem a crescimentos
económicos e bem-estar dos cidadãos, porque não é preciso. As soluções que
apresentam são também normalmente pesadas e exigem sacrifícios de grande parte
das populações, principalmente das que não podem fugir, o que obviamente não é
nunca o caso dos muito ricos.
No nosso regime
democrático já fomos obrigados a chamar o FMI por três vezes, o que constitui um
triste recorde internacional. Seria bom que todos tivéssemos consciência disso
e das razões que levaram a essa resposta desesperada. Em vez de clamar contra o
mensageiro das más notícias, que não é mais do que isso, devemos antes ter
atenção ao que diz e exigir rigor nas contas públicas e na governação. Nada
mais, aliás, do que o que o Presidente Marcelo fez na sua declaração ao país ao
comunicar a promulgação do Orçamento de Estado.
domingo, 3 de abril de 2016
Concordo com José Manuel Fernandes:
"foi vergonhoso o voto contra do PSD na condenação, pela Assembleia da República, dos julgamentos de Luanda. Vergonhoso. Tal como o do CDS, pois o do PCP foi apenas… lógico."
Para onde vão as reversões? Quem tem mais cuidado em favorecer os desprotegidos, na prática?
https://desviocolossal.wordpress.com/2016/02/08/as-consequencias-redistributivas-de-um-governo-de-esquerda/
segunda-feira, 28 de março de 2016
Assassinos. Em todo o mundo.
E voltaram a
fazê-lo. Os agentes do autoproclamado Estado Islâmico voltaram a matar pessoas
na Europa, desta vez em Bruxelas que, para além de ser a capital da Bélgica,
funciona também, na prática, como capital da União Europeia. Por isso mesmo, todos
os que nos sentimos europeus, sentimos esses atentados como sendo contra nós
próprios, o que nos faz sentir também atacados e vítimas da barbárie, em
completa solidariedade com os 31 mortos e centenas de feridos em Bruxelas.
No entanto, e sem
ir mais longe, uma revisão dos atentados de raiz islâmica desde 13 de Novembro
de 2015 em que morreram pelo menos 137 pessoas em Paris, dá-nos um quadro
tenebroso que não deixa praticamente nenhuma parte do mundo livre destas
acções. Assim, de forma resumida, no mesmo mês de Novembro, um atentado em Beirute
provocou 43 mortos, outro em Bamako no Mali, 27 mortos, e um em Tunes, 12
mortos. No mês de Dezembro, em San Bernardino nos EUA morreram 14 pessoas e em
Panaclim no Paquistão, 23 pessoas. Já em Janeiro do corrente ano, um atentado
em Zliten na Líbia, fez 65 mortos e outro em Jacarta na Indonésia, 8 mortos. Em
Fevereiro, um atentado em Bagdad no Iraque, provocou 73 mortos.
No corrente mês
de Março, ainda antes de Bruxelas os terroristas islâmicos atacaram em Ancara
na Turquia onde fizeram 37 mortos e em Grand-Bassam na Costa do Marfim,
causando 18 vítimas mortais. Não refiro o nº de feridos, que é de largas
centenas. Antes destes atentados, recorda-se o sucedido em Bruxelas em Maio de
2014 quando um islamita matou 3 pessoas no Museu Judaico, dando início a este
ciclo de atentados, a que se seguiu a matança do Charlie Hebdo em Paris, em
Janeiro de 2015, em que morreram 12 pessoas.
Há evidentemente um
ponto comum em todos estes atentados, que é o facto de em todos eles os autores
se reivindicarem de islamitas e agirem em nome da sua religião, pela construção
de um dito califado e contra os cruzados do ocidente. Notoriamente são
tele-comandados pela organização do dito Estado Islâmico ou DAESH que em muitos
casos envia os terroristas, mas em muitos outros utiliza agentes nascidos nos
próprios países europeus onde atacam.
Estes ataques
terroristas, juntamente com os milhões de refugiados que há anos procuram a
segurança da Europa, são uma das consequências do estado actual do Médio-Oriente.
Se até ao final dos anos 70 do século passado a vida naquela zona do globo era
minimamente aceitável, bastando ver as fotografias dessa altura, a implantação
dos estados teocráticos desfez as ilusões de quem imaginaria que a civilização,
tal como a conhecemos no resto do mundo, era ali possível. O regime dos aiatolas
no Irão e a monarquia da Arábia Saudita acirraram os ódios seculares entre as
duas principais facções islâmicas, favorecendo o surgimento de pequenos grupos
radicais que foram crescendo de importância, até se tornarem no que são hoje. A
invasão soviética do Afeganistão em 1979 e a guerra selvagem que se seguiu,
criou as condições para o regime dos talibans e o desenvolvimento da Al-Qaeda,
o atentado do 11 de Setembro e posterior invasão americana, a que se seguiram
as guerras do golfo. As chamadas primaveras árabes que descambaram nos mais
sombrios invernos e a guerra civil na Síria formaram o caldo em que os mais
radicais dos radicais islâmicos começaram a fazer o que se considerava
impossível, isto é, conquistar grandes áreas de terreno, estabelecer uma
organização económica também ela toda baseada em terrorismo e formar algo com
aparência de estado, o DAESH.
Os ataques
internacionais contra o dito Estado Islâmico têm sido importantes e estarão a
ter consequências quer na sua organização, quer na reconquista de terreno. Mas
existe a sensação de que não está a ser tudo feito para acabar com ele, o que
levanta dúvidas e mesmo suspeitas sobre os seus financiamentos e aquisição de
armamento. A venda de petróleo e bens culturais tem que ser feita através de
países vizinhos, tal como a entrada de armamento.
Discute-se muito, e
bem, sobre o controlo dos possíveis terroristas no interior dos países europeus
e a necessidade de prevenir os actos terroristas; discute-se igualmente a
necessária segurança associada aos milhões de refugiados vindos do Médio
Oriente. Mas essas, repito, são consequências de algo e não o verdadeiro
problema. E esse consiste na situação caótica no Médio Oriente, de que muitos
são historicamente responsáveis, mas para o qual é necessário, acima de tudo,
encontrar solução. Há o problema militar do Estado Islâmico que exige solução
drástica e rápida, através da concertação internacional, na qual a Europa tem
que ter voz decisiva, dado que é a primeira a sofrer as consequências.
E há o
problema cultural e religioso do Islão em confronto com o resto do mundo que há
muitos anos escolheu um modelo civilizacional assente nos direitos definidos
internacionalmente, quer os humanos, quer os das mulheres e das crianças, por
exemplo. Esse será, talvez, o mais difícil de resolver sabendo que, se sempre houve
fanáticos e sempre haverá, o que é preciso é que por detrás deles não haja
falsos moderados a instigarem o ódio e o terror.
segunda-feira, 21 de março de 2016
Política e justiça
A chamada operação
“lava-jato” leva já dois anos e promete não deixar pedra sobre pedra na
política brasileira, fazendo lembrar o que sucedeu em Itália com a operação
“mãos limpas” na década de 1990. Depois de ter descoberto as ligações entre as
maiores construtoras do Brasil, a Odebrecht, a Andrade Gutierrez e a Camargo
Correa e os principais dirigentes do Partido dos Trabalhadores tendo como placa
giratória a Petrobras, a Justiça brasileira chegou finalmente ao ex-presidente
Lula da Silva, não há muito tempo doutorado Honoris Causa pela Universidade de Coimbra,
recorde-se. A partir daqui, se antes já eram perceptíveis as manobras políticas
para travar a Justiça, passou a assistir-se a algo inimaginável num país
democrático, com a tentativa de nomear Lula da Silva para o Governo, com o
objectivo confesso de o subtrair aos juízes.
Para se perceber o
que se passa no Brasil, não se pode deixar de referir a actual situação
económica do país. Quando Fernando Henriques Cardoso entregou a presidência a
Lula da Silva em Janeiro de 2003, o Brasil tinha sofrido uma completa reforma
económica a partir do “Plano real”, que havia retirado o país de uma década
terrível do ponto de vista económico, colocando o Brasil na senda do crescimento.
Lula teve a inteligência de prosseguir com a política económica de Fernando H
Cardoso com um bom crescimento, enquanto criava uma série de programas para
reduzir a pobreza do país, como o Bolsa Família e Fome Zero. A sucessora Dilma
Rousseff veio, no entanto, a mostrar-se de uma grande incapacidade para
garantir que o Brasil continuasse no bom caminho, em termos económicos.
Em 2015 a
economia retraiu 3,8% e neste momento a economia desacelera há sete trimestres
consecutivos. O consumo caiu 4%. O investimento cai pelo segundo ano
consecutivo, acumulando actualmente 18%. O desemprego está a crescer, com 1,5
milhões novos desempregados em 2015, estimando-se para este ano que esse número
suba aos 2 milhões. De acordo com os analistas internacionais, a redução do PIB
per capita em 2015 e 2016 poderá ser superior a 10%, sem se prever sequer que
em 2017 possa recuperar, antes pelo contrário. Neste caso, o Brasil estará a
passar pela pior crise desde 1901, altura em que teve 3 anos sucessivos de
recessão. A inflação em 2105 foi de 11%, o que traz receios de descontrolo,
perante o estado geral da economia. A dívida pública deverá crescer 11 pontos
em apenas dois anos, não havendo sinais de o governo de Dilma pretender diminuir
o défice das contas públicas.
A razão
das gigantescas manifestações contra a política da Presidente Dilma reside
nesta trágica situação da economia brasileira.
Neste
contexto, a descoberta de que as elites governativas participaram num
gigantesco esquema de corrupção que lhes garantiu enormes fortunas, só poderia
criar as condições propícias à revolta das classes mais atingidas, isto é, as
classes médias. A atitude da Presidente Dilma tentando subtrair Lula à Justiça para
obstruir a sua acção é de uma imprevidência inacreditável, para dizer o mínimo.
Entre nós
espanta que, em vez de se discutirem os problemas como a situação económica do
Brasil e a corrupção ao mais alto nível, se troquem os factores e se acuse a
Justiça brasileira de perseguição a políticos, no caso precisamente com a mesma
orientação ideológica. Ao arranjarem desculpas ideológicas para os corruptos, transformando-os
em perseguidos em vez dos gangsters que na verdade são, apenas nos fazem pensar
no que fariam se o poder lhes fosse parar às mãos.
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