A classificação da
Universidade e da Rua da Sofia como património da Humanidade pela Unesco não foi
mais do que o reconhecimento do extraordinário valor patrimonial de Coimbra que,
aliás, não se fica por ali. Basta recordar toda a Alta, a Igreja de Sta. Cruz
com os túmulos dos nossos primeiros reis e a Sé Velha, para além do Mosteiro de
Sta Clara-a-Velha, jóia patrimonial hoje patente em todo o seu esplendor. Tal
como Sta. Clara-a-Nova que abriga o túmulo da Rainha Santa numa Igreja, toda ela
espantosa.
O afluxo turístico
crescente que procura Coimbra encontra uma oferta hoteleira variada e de
qualidade, ao contrário de há poucas décadas.
A oferta cultural
de Coimbra conta hoje, para além dos tradicionais organismos académicos, com
diversas companhias de teatro profissionais dotadas de instalações devidamente
equipadas. Coimbra afirma-se hoje também por ter uma orquestra profissional de
música erudita residente que não poderá deixar de vir a ser aproveitada pelo
novo equipamento do Convento de S. Francisco o qual, pela sua dimensão e
qualidade, deverá levar Coimbra a competir culturalmente num campeonato
completamente diferente do que conhecíamos antes. Não poderemos esquecer que é
pela Cultura que actualmente qualquer Cidade se afirma a nível internacional. A
cultura é a manifestação pura da liberdade e o maior diferenciador entre uma
cidade perdida no passado e uma cidade viva e promotora da qualidade de vida
das suas gentes.
Os conimbricenses
criticam, muitas vezes com razão, aspectos menos felizes da Cidade e devem
certamente continuar a fazê-lo porque a exigência é sempre uma atitude cívica
correta e mesmo necessária. Mas desafio os leitores a, de vez em quando, saírem
das suas voltas habituais e a fazerem turismo dentro da sua Cidade, a pé de
preferência, e tentarem vê-la como os visitantes o fazem. Percorram os
trajectos dos turistas, visitem a Universidade e a sua Biblioteca Joanina, vão
ao Machado de Castro e criptopórtico, desçam à Baixa, uma vez pelo Quebra-Costas,
outra vez pela Couraça de Lisboa, vão até à Praça Velha e passem pela casa
medieval, olhem à volta e deliciem-se com aquilo por onde se passa tantas vezes
sem ver com olhos de ver, como se costuma dizer. Da esquina do antigo governo
civil encham os olhos com uma das vistas mais belas que conheço. Vão aos
espectáculos de teatro e de música, visitem as exposições, que as há sempre em
vários locais. Verificarão como Coimbra é hoje uma cidade diferente, virada
para o futuro, e que espera de todos nós uma atitude consentânea com essa
realidade, a começar pelos que, de uma forma ou outra, têm a responsabilidade
de propor respostas políticas.
Os anos setenta e oitenta
do século passado levaram grande parte do tecido económico de Coimbra. Não
adianta chorar pelas indústrias que desapareceram interessa, sim, perceber porque
isso aconteceu e de que maneira estamos a ultrapassar essa situação que não foi
exclusiva de Coimbra, antes pelo contrário, basta ver as enormes áreas
industriais abandonadas em Lisboa e no Porto. A adaptação a uma economia que
está a transformar-se rapidamente em todo o mundo exige uma capacidade de
resposta que passa muito pela flexibilidade e pela formação plural.
Características essas proporcionadas pela existência de um ensino superior
moderno e não elitista, virado para a investigação de topo, mas também para a
ligação ao mundo da economia e da cultura, exigência da tecnologia dos nossos
dias que rapidamente está a mudar as nossas vidas.
A saúde é um dos
nossos bens mais preciosos e a garantia de que todos podem ter acesso às
melhores condições para dela dispor é certamente um avanço civilizacional,
mesmo dos mais importantes. E é uma área em que a afirmação de Coimbra a nível
nacional, mas hoje também a nível mundial é uma verdade insofismável. A
qualidade da formação superior em medicina, enfermagem e farmácia, bem como a
investigação em todas as áreas ligadas à saúde, tem levado a uma afirmação que
vai muito para além da oferta de excelentes serviços de saúde. A economia
ligada à saúde é hoje em dia um “cluster” que em Coimbra tem uma importância
extraordinária e condições para continuar a desenvolver-se e a aumentar o seu
valor.
Estimado leitor,
embora possa parecer uma declaração de amor a Coimbra, esta crónica que acabou
por exceder o tamanho habitual e se dividiu em duas, é muito mais do que isso,
é a minha demonstração de que Coimbra é muito melhor do que muitos dizem.