quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

PSD e Portugal

Portugal, como qualquer democracia, precisa de alternativas governativas claras. A invenção da geringonça está a fazer muito mal ao país, empurrando-nos para a cauda da Europa, numa governação mentirosa e falha de qualquer vontade de reformas.
O PSD não se tem afirmado como A alternativa a este estado de coisas, como devia. Imaginar sequer que o PSD possa servir de muleta ao PS para se livrar do PCP e do BE é estúpido e um insulto a toda a História do Partido.
É por isso que esta direcção amorfa e sem orientação clara para o país tem que dar lugar a outros que mostrem querer e ter capacidade para  fazer esse serviço.
O resto, discussão de lugares de deputados e coisas assim não interessam para nada nesta situação.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

HOMENS E MULHERES

Uma coisa que não percebo é esta mania de querer provar que as mulheres são capazes de fazer tudo o que os homens podem fazer, quando podiam mostrar tudo o que fazem e que os homens nunca conseguirão fazer.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

POPULISMO

O populismo à portuguesa é, de repente, a nove meses das eleições, desatar a prometer tudo e mais alguma coisa, depois de se ter estado mais de três anos sem fazer absolutamente nada, a não ser distribuir dinheiro pela função pública.
Algumas promessas: novo aeroporto, plano de investimentos públicos de 20  mil milhões de euros, montes de residências para estudantes, propinas gratuitas para estudantes universitários, hospital pediátrico no S. João . E por aí fora.
Quem é que não concorda com isto tudo?
Populismo é isto, antes das eleições. Telefonar para apresentadoras de televisão é apenas popularucho.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Breves encontros com a morte




A notícia breve surgiu na última página de uma das últimas edições deste jornal. Um casal, vindo de França para passar uns dias de férias com a família, foi encontrado morto, provavelmente devido à intoxicação com monóxido de carbono produzido por uma braseira, enquanto dormiam. Infelizmente é uma notícia que se repete e que toca sempre muito ao autor destas linhas. 
Aquando da minha adolescência nos anos 60, a minha família ia de férias para o Algarve na altura uma região ainda quase desconhecida do turismo de massas. Num desses anos os meus pais arrendaram uma casa em Portimão, no mês de Agosto, sendo a praia frequentada a então magnífica Praia da Rocha.
Uma tarde, ao tomar duche depois do regresso da praia, comecei a sentir tonturas e tentei desligar a água. Não fui capaz. Rodava as torneiras da água quente e da água fria para um lado e para o outro sem controlo, não tendo já consciência completa dos movimentos que fazia. Até que desmaiei e caí no chão da casa de banho. Por sorte, o meu Pai ouviu o ruído provocado pela queda e retirou-me do compartimento, levando-me para um quarto. O esquentador de gás, que estava instalado dentro da própria casa de banho, como era vulgar nesse tempo, tinha uma deficiência de funcionamento e foi produzindo monóxido de carbono que foi aumentando de concentração na atmosfera do compartimento sem ventilação. O meu estado de consciência ficou rapidamente alterado sem que desse conta da causa, dado que o gás é incolor e inodoro. O monóxido de carbono é um gás altamente tóxico por interferir com a capacidade do sangue de transportar oxigénio.
Vários minutos se passaram, antes que fosse possível dispor de uma viatura que me transportasse ao hospital. Foi nesse intervalo de tempo que passei por uma experiência que calei durante muitos anos, dado que a sua estranheza me impedia de a contar com facilidade, mas que hoje já me é possível partilhar, mesmo nas páginas de um jornal.
Tive aquilo a que os autores chamam “experiência de quase morte - EQM”. No meu caso observei, a partir do tecto do quarto, a família à minha volta na maior aflição, chamando-me na tentativa de me acordar, enquanto o meu pai corria a buscar o automóvel. Estava fora do corpo e via-me a mim mesmo de cima deitado e os familiares em redor. Não sei quanto tempo durou esse estado, mas terei começado a reagir alguns minutos depois com o ar da janela aberta do carro, tendo ficado totalmente desperto já no hospital, com o oxigénio puro a ser-me administrado através do nariz. O sucedido foi ultrapassado, tendo no entanto deixado uma sequela que consistiu num notório enfraquecimento da capacidade de memorização que alterou de forma substancial o funcionamento intelectual, já que estava habituado a uma excelente memória que, como tal, desapareceu. A vontade de falar sobre o caso com estranhos nunca foi muito grande e a internet não existia para fazer pesquisas, pelo que só mais tarde abordei o sucedido com alguém que me pudesse prestar algum esclarecimento.
Sei hoje que este tipo de experiência é muito mais frequente do que supunha, havendo outras semelhantes como o surgimento de um túnel ou de uma luz brilhante. Cientificamente dever-se-á a uma espécie de alucinação provocada pela falta de oxigenação do cérebro, embora haja ainda hoje quem creia numa consciência de separação da alma do corpo e outras justificações mais do tipo religioso. Talvez seja também este um motivo que leve a que este assunto tenha estado “enterrado” tanto tempo na minha mente, sem lhe tocar.
Mas o importante é que passar por uma experiência destas tem duas consequências vivenciais a que não se pode fugir. Em primeiro lugar, adquire-se a certeza concreta de que só temos uma vida que é muito frágil e que deve ser vivida plenamente. Depois, ao contrário da prática da nossa sociedade actual que tende a escondê-la, a morte deixa de ser algo a temer permanentemente com a consciência de que virá quando tiver que ser, já que faz tanto parte da nossa existência como o nascimento.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra de 7 de Janeiro de 2019

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Fundo ambiental

Alguns destinos de verbas do Fundo Ambiental (ambiental, dizem eles):


- Transferência de 10 500 000 (euro), do Fundo Ambiental para o Metropolitano de Lisboa, E. P. E., para financiamento da aquisição de material circulante e do sistema de sinalização.
- Transferência, até ao limite de 3 800 000 (euro), do Fundo Ambiental para a Metro do Porto, S. A., para financiamento da aquisição de material circulante.
- Transferência, até ao limite de 781 053 (euro), do Fundo Ambiental para a Transtejo, S. A., para financiamento do Projeto de Renovação da Frota da Transtejo.
- Transferência de receitas do Fundo Ambiental, até ao limite de 15 764 200 (euro), do Fundo Ambiental, para financiamento do Projeto de Expansão da Rede do Metropolitano de Lisboa, E. P. E.
- Transferência de receitas do Fundo Ambiental, até ao limite de 24 248 400 (euro), do Fundo Ambiental, para financiamento do Projeto de Expansão da Rede da Metro do Porto, S. A.

Nem é preciso comentar.Já agora, não se arranjam uns euros para o metro de Coimbra, ou seja lá o que querem fazer? É que mesmo para os tais autocarros eléctricos - Metrobus ainda faltam uns 50 milhões de euros, além dos fundos europeus.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

O FUTURO É HOJE




Se nos é vedado conhecer o futuro, pela simples razão de que ainda não existe, é nossa obrigação de cidadania observar com atenção o que se passa hoje à nossa volta, bem como conhecer o passado o mais aprofundadamente possível Tudo isto com o fim entender as razões do que acontece e tentar que o presente dos nossos vindouros venha a ser o melhor possível. A China tem crescido a níveis que se julgam insustentáveis sob uma perspectiva de pura economia de mercado Sucede que a China é um país governado com mão de ferro por um partido Comunista em que o presidente tem um mandato vitalício, pelo que o seu capitalismo é falso, usando as ferramentas desse sistema para melhor dominar a economia mundial, através de compras sucessivas de sectores vitais de diversos países que necessitam do seu capital como de pão para a boca, assim chocando o ovo da serpente. A federação Russa continua a crescer lentamente com um sistema oligárquico totalmente dependente do Kremlin, recuperando paulatinamente a capacidade militar com que os impérios russos sempre se afirmaram, independentemente dos sistemas em vigor a cada momento Putin informou o mundo, há poucos dias, que a Rússia possui um novo sistema de mísseis invencível, dado que as armas atingem velocidades vinte vezes superiores à do som. Donald Trump prossegue a sua política anunciada de desconstrução da ordem económica mundial, mostrando-se completamente nas tintas quanto ao funcionamento dos equilíbrios económicos, políticos e militares internacionais construídos ao longo de décadas Internamente, a política é substituída pelos negócios que tudo justificam, desde as mentiras ao desrespeito pelas chefias militares e mesmo desmontagem dos célebres poderes e contra-poderes criados pelos “pais fundadores”. O Reino Unido, por sua inteira responsabilidade, encontra-se perante os maiores desafios da sua História, cabendo-lhe decidir sobre uma saída sem acordo da União Europeia, um acordo que nenhum britânico defende de cara lavada, ou um segundo refendo que atiraria para o lixo uma decisão soberana do povo O desmembramento do Reino Unido está à vista, não só com uma possível unificação da Irlanda, como por uma declaração unilateral de independência pela Escócia. O Japão decidiu voltar a caçar baleias com fins comerciais, juntando-se à Noruega e à Islândia, esses faróis nórdicos de desenvolvimento humanista e preocupações ecologistas. Também os descendentes dos Vikings, os dinamarqueses normalmente apontados como ultra-civilizados, decidiram que não havia melhor maneira de instalar os imigrantes indesejados que lá chegam do que mandá-los todos para uma ilha remota. A destruição sistemática do “estado social” que está a ser levada a cabo entre nós, incluindo o “buraco negro” do investimento público seja em obra nova seja em manutenção, não motiva a mínima reacção de todos os que viam na “austeridade da troika” a implantação do neo-liberalismo, quiçá do próprio fascismo A única coisa que parece mexer em Portugal é a manifestação das corporações ligadas à administração pública, ditas sindicais, Isto num país em que os funcionários públicos trabalham menos 20 horas por mês do que os restantes trabalhadores, têm segurança de emprego e ainda vão ter um ordenado mínimo de 635 euros, enquanto o dos outros é de 600 euros E “no pasa nada” A geringonça já acabou sem festa, com os partidos apoiantes na AR a agirem como cônjuges enganados e sendo interessante observar o “pas de deux” que Costa e Rio ensaiam enquanto se espera calmamente pelas eleições do novo ano que amanhã começa, que esta história de fazer oposição a sério dá muito trabalho e muitas dores de cabeça O processo Marquês aproxima-se rapidamente de um ponto sem regresso, o juiz “calhou-me a mim” só o foi à quarta tentativa do computador e até já começaram a perder-se elementos processuais nas profundidades do Citius Quem teve a paciência de ler esta crónica até aqui deverá estar a pensar que o autor, talvez devido ao facto de “cronicar” neste jornal semanalmente sem interrupções desde há 13 anos, se “passou dos carretos” e tal até poderá ser possível mas, na realidade, a aparente falta de rumo reflecte apenas o desejo de espelhar com alguma fidelidade o caos generalizado dos nossos tempos.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 31 de Dezembro de 2018

Elgar, Pompa e Circunstância nº 1



Para ajudar a receber 2019 com pompa e circunstância, já que 2018 foi para esquecer

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Técnicos incómodos



No meio da torrente impetuosa de notícias das últimas semanas, uma houve que viu a luz do dia para logo desparecer na penumbra da actualidade e, provavelmente, não deveria. Foi conhecido que a CP decidiu prolongar o prazo de circulação das automotoras, de 1,7 milhões de quilómetros para 2 milhões de quilómetros. Isto é, as composições podem circular mais 300.000 quilómetros sem que os seus rodados sejam sujeitos a uma vistoria que, no caso de se verificar a necessidade da sua substituição, obrigariam a uma paragem que pode durar meses. “Mal acomparado”, como se costuma dizer, seria como autorizar os automobilistas a circular nas estradas com os pneus mais gastos do que a lei permite.
A CP coloca assim a poupança no prato de uma balança e os riscos de falta de segurança na outra, deixando que o prato da primeira suba além do da segurança. Claro que a empresa pública de transporte ferroviário argumenta que não está a colocar em causa a segurança dos passageiros, apresentando daqueles estudos técnicos que sempre aparecem nestas situações. O que toda a gente percebe é que os prazos para as manutenções têm sempre tolerâncias maiores ou menores definidas pelos fabricantes e o que a CPO está a fazer é cortar valentemente nessas tolerâncias não havendo, para quem está de fora, maneira de confirmar que não são ultrapassadas.
Contudo uma segunda notícia, que surgiu praticamente ao mesmo tempo que aquela, veio introduzir uma segunda componente à mesma questão, levantando sérias dúvidas sobre a correcção técnica da decisão da CP. Segundo os jornais, o director de material circulante da CP não concordou com a decisão de prolongamento do ciclo de manutenção dos rodados daquelas composições. O técnico, por o ser, sabe bem que tal decisão pode colocar em causa a segurança dos passageiros e como, no caso de acidente, recairia sobre si parte da responsabilidade.

Esta notícia viria a ser completada com o conhecimento do despedimento desse técnico pela CP no início deste mês. A empresa pública veio negar qualquer ligação entre as duas situações, justificando-se com “a não verificação de condições objetivas para o exercício da função” por parte do ex-director, como se um técnico, numa empresa com o grau de tecnicidade da CP, chegasse a director sem que aquele pressuposto se verificasse. Claro que as “condições objectivas” podem muito ser aquelas que todos estamos a imaginar.
As limitações de funcionamento da CP estão à vista de todos há muitos meses, sendo consequência de uma “austeridade” governamental que cortou violentamente nos investimentos públicos. A paragem sem substituição, durante meses, destas automotoras utilizadas nas ligações entre Lisboa e Tomar, na ligação entre Coimbra e a Figueira da Foz e ainda na ligação a Évora iria aumentar o grau de insatisfação dos utentes, situação muito inconveniente, principalmente em ano de eleições.
Mas o que mais motivou esta crónica foi o despedimento do técnico que levantou a voz, em nome da segurança dos passageiros. Felizmente, vivemos em democracia, senão as consequências para o técnico poderiam ser outras. Seria, por exemplo, o sucedido a técnicos semelhantes na União Soviética nos anos 30 do século passado, como Alexandre Soljenitsine descreveu no seu “Arquipélago de Gulag”. Os dirigentes comunistas precisavam de fazer circular os comboios permanentemente para cumprir as quotas de produção definidas pelo partido. Assim, quando os engenheiros informaram que era preciso parar os comboios durante algum tempo para tratar dos rodados, foram acusados de pertencerem a um partido reaccionário, o partido dos técnicos, e lá foram também vítimas de mais um daqueles processos kafkianos à boa maneira soviética, engrossando os milhões de fuzilados ou remetidos para os campos de trabalho forçado na Sibéria.
Os tempos são outros, as circunstâncias também, mas há algo que se mantém: a propensão de políticos para adaptar artificialmente a realidade aos seus interesses imediatos, ainda que à custa da segurança dos cidadãos. E pior, a capacidade de perseguir quem levante algum obstáculo à prossecução dos seus fins. Os regimes podem ser democráticos mas as atitudes das pessoas, ainda que com elevadas responsabilidades, mostram como é difícil respeitar quem faz o seu trabalho de maneira séria e responsável, deixando à imaginação como se portariam em sistemas de poder absoluto como o descrito pelo inesquecível Nobel da Literatura de 1970.

 Publicado no Diário de Coimbra em 24 de Dezembro de 2018