Um dos obstáculos à
prossecução do caminho europeu foi ultrapassado na semana passada, com os
resultados das eleições holandesas. O partido de extrema direita PVV de Gert
Wilders que colocava em causa a continuidade da Holanda no Euro ou mesmo na
União Europeia com as suas posições extremistas e populistas ficou longe da
vitória. Apesar de ter descido na votação, ganhou o partido VVD do actual primeiro-ministro
Mark Rutte, que terá agora de refazer a coligação governamental, já que o
partido socialista praticamente desapareceu.
Faltam as eleições francesas em Abril e Maio e as alemãs em finais
de Setembro. A campanha eleitoral francesa está paralisada pelo escândalo do
candidato da direita François Fillon que ocupa todo o espaço mediático,
impedindo qualquer discussão política séria entre os candidatos. Apesar do
sucedido e da hecatombe da sua campanha Fillon recusou-se a desistir, deixando
o campo da direita praticamente sem candidato. O jovem candidato centrista Emmanuel
Macron vê-se assim numa situação que não desejava e que notoriamente o traz com
um discurso algo perdido. Mesmo Marine le Pen se vê em dificuldades perante uma
situação política que baralha os discursos, sem que as suas habituais propostas
anti europa se sobreponham ao noticiário dos escândalos de Fillon. Os outros
candidatos da esquerda Jean-Luc Mélenchon. e Benoît Hamon queixam-se de pura e
simplesmente não serem ouvidos no meio do ruído mediático que abafa a campanha.
Perante este cenário torna-se muito difícil fazer previsões sobre os
resultados.
Na Alemanha
os motores dos partidos ainda não aqueceram, havendo apenas sondagens em que,
algo surpreendentemente, o social-democrata Martin Schulz
que fez carreira política mais no parlamento europeu do que na Alemanha surge
com intenções de voto semelhantes às de Angela Merkel. Se o resultado eleitoral
do partido de extrema-direita “Alternativa para a Alemanha” (AfD) liderado por
Frauke Petry permanece ainda uma incógnita, não deverá no entanto ser
significativo se Le Pen sair derrotada em França. Sendo Merkel ou Schulz
chanceler, há uma grande probabilidade de haver de novo uma grande coligação a
governar a Alemanha de uma forma não muito diferente da actual.
Quanto à União
Europeia, está notoriamente paralisada à espera dos resultados eleitorais da
França e da Alemanha. Caso os populistas saiam derrotados, restará a questão do
Reino Unido que, recorda-se, não integra a zona Euro, podendo então
ultrapassar-se a situação pantanosa em que tem vivido no último ano.
Aí Portugal terá
que enfrentar uma nova situação e deixarão de folgar as costas. O BCE tem
amenizado os problemas da nossa gigantesca dívida, que continua a crescer a um
ritmo preocupante, com a compra de dívida pública, ou “quantitative easing”,
como forma de estímulo à economia, o que deverá cessar antes do fim do ano.
Recorda-se que, mesmo com essa política do BCE, em 2016 o nosso crescimento
económico ficou abaixo do previsto no Orçamento, sendo mesmo inferior ao de
2016 e os spreads da nossa dívida relativamente à alemã continuam num nível
altamente crítico. No que respeita ao défice de 2016 que tem sido apresentado
como tendo sido de 2,1% do PIB, já não é segredo para ninguém que esse valor
não é sustentável como foi salientado pelo Conselho de Finanças Públicas, tendo
sido obtido por receitas extraordinárias e por adiamento de pagamentos e um
corte drástico no investimento que foi o mais baixo das últimas décadas. Num
recente artigo num jornal diário nacional, o ex-deputado socialista Vítor
Baptista sustentava ter sido o défice real de 3,4 na lógica da contabilidade
nacional. Por alguma razão o ministro das Finanças alemão nos convidou na
semana passada a verificarmos com cuidado se não vamos precisar de outro
resgate.
A União Europeia sabe muito bem o que se passa em Portugal e nas nossas
contas, preferindo assobiar e olhar para o lado enquanto não se resolverem as
eleições nos grandes países europeus. E depois? Bem, depois a realidade cairá em
cima de nós e, eventualmente, tomará força a ideia da Europa a duas
velocidades. Os países do Norte da Europa deixarão de ter razões para puxar por
nós deixando de nos financiar e em pouco tempo sairemos do Euro e mesmo da
União. Tal como é desejado pelos populistas de toda a Europa, (que defendem o
fim da moeda única, do livre comércio, o restabelecimento das fronteiras e do
controlo nacional sobre a moeda, a renegociação da dívida, etc.,) incluindo os
que cá temos, que entre nós são de extrema-esquerda, e que suportam o Governo
minoritário socialista.