Um cidadão de Coimbra que seja minimamente atento
ao que se tem passado na Cidade e na sua região no que toca a obras públicas
não pode deixar de se interrogar sobre o que se passará para que sejamos tão
ostensiva e fortemente prejudicados. As acessibilidades saltam à vista, mas não
são caso único, já que vários outros investimentos são regularmente colocados
em cima da mesa para de lá saírem com rapidez sem concretização ou a meio.
Estas questões são de tal gravidade que obrigam a que sejam publicamente denunciadas
sem optimismos nem pessimismos ambos estéreis, mas com um realismo de que anda
igualmente distante qualquer estado de alma político-partidário.
Coimbra, apesar de tudo, tem alguma sorte em estar
no caminho entre Lisboa e Porto, certamente a única razão para ter bons acessos
às duas capitais metropolitanas. Já as acessibilidades rodoviárias de Coimbra
ao interior das Beiras parecem estar atadas num nó que ninguém parece ter
vontade (ou ser capaz) de desatar
A ligação em auto-estrada entre Coimbra e Viseu é
uma “necessidade urgente” desde há mais de vinte anos, passe a ironia da
expressão. O actual IP3 é uma estrada com condições gerais de circulação e de
segurança completamente desadequadas ao altíssimo nível de utilização que
apresenta. A resolução deste problema passa de governo para governo e muitos
utentes já fogem do IP3, através da A25 e da A1, com gastos maiores em
quilómetros e portagens, mas com compensação em termos de segurança. As
Infraestruturas de Portugal mantêm o corredor do IP3 entre Coimbra e Viseu como
“projecto prioritário” integrado no “Plano de Investimentos 15-20”, mas estamos
em 2018 e não se perspectiva projecto, quanto mais obra.
A A13 parou há anos de encontro a um monte no alto
de Ceira, aguardando-se que se construa o troço final para Norte, continuando
assim sem o tráfego que justificou o seu investimento e, claro, sem o
consequente retorno financeiro.
O IC6 parou num pinhal às portas de Oliveira do
Hospital, cortando as veleidades de existência de ligação rodoviária moderna e
segura entre Coimbra, a Covilhã e restante área da serra da Estrela.
No que respeita ao Metro Mondego, melhor dizendo,
ao pomposamente chamado Sistema de Mobilidade do Mondego, todos sabemos o que
se passou. Depois de serem gastos mais de cem milhões de Euros na beneficiação
da linha e estações da Linha da Lousã entre Coimbra e Serpins, o projecto foi
suspenso e o empreiteiro mandado para casa. Há quase um ano, antes das eleições
autárquicas, claro, o actual Ministro andou a percorrer as câmaras interessadas
a prometer um sistema alternativo, o MetroBus, sem carris, para o que faltariam
apenas uns estudos que estavam mesmo para sair. Até hoje, nem estudos, nem
projectos, nem financiamento garantido por completo, nem MetroBus. Aguardemos
pois, talvez, pelas próximas eleições.
A estação de comboios carinhosamente apelidada
“estação velha” continua calma e placidamente a envelhecer com os passageiros a
atravessar as linhas a pé, nos intervalos da passagem dos comboios. Como as outras
estações da Linha do Norte já foram modernizadas há anos, a de Coimbra ficou
certamente para mostrar como eram as estações em meados do século XX: até pode
ser que seja
classificada como património e a REFER comece a vender bilhetes só
para a visitar.
O novo Palácio da Justiça é outra das obras por que
Coimbra aguarda há décadas. Para que se saiba, já em tempos foi elaborado um
projecto completo para essa obra; imagino que, como teve que entregar em
Tribunal a adjudicação da elaboração desse projecto a um Arquitecto, por sinal
um grande Arquitecto de Coimbra, alterando a adjudicação inicial ilegal, o
projecto terá ido para uma gaveta e os respectivos custos e trabalho dispendido
para o lixo. Também antes das ultimas eleições autárquicas Coimbra teve a honra
de receber uma governante a prometer novos ante-projectos e estudos. Aguardemos
pois também, quem sabe, até novas eleições que têm sempre o condão de retirar
governantes dos gabinetes para percorrerem o país.
A nova cadeia penitenciária é que já se percebeu
que não vai mesmo acontecer, apesar de promessas antigas. Neste caso
continuaremos com a existente, sem possibilidades de ampliação, mesmo no
coração da Cidade, com os inconvenientes sabidos de todos.
Há quase dois anos veio outra governante a Coimbra
apresentar o projecto REVIVE, destinado a “promover e agilizar os processos de rentabilização e preservação de
património público que se encontra devoluto, tornando-o apto para afetação a
uma atividade económica com finalidade turística”. No caso, tratava-se da
integração do Mosteiro de S.ta Clara-a-Nova nesse conjunto de 33 edifícios por
todo o país; até hoje foram abertos 4 concursos, não incluindo o de Coimbra,
certamente por razões processuais, aguardando-se por novidades num dia destes,
talvez….
Alguma razão haverá para que Coimbra acumule tantas
promessas falhadas, obras prometidas não iniciadas e outras suspensas a meio.
Todas elas dependem do Governo, o actual, os anteriores e os que se lhe
seguirão. Mas algo haverá em Coimbra e região para que se aceite tudo isto
praticamente sem contestação e, certamente, sem qualquer manifestação de revolta
das populações e de quem as representa.