quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

REABILITAR A BAIXA DE COIMBRA



A Baixa de Coimbra encerra diversas fragilidades de ordem física, social e económica que se interligam no espaço e no tempo e cuja percepção imediata se traduz na actual degradação de grande parte dos edifícios.

O diagnóstico está basicamente feito nas suas diversas vertentes. Os caminhos para sair desta situação são diversos e implicam escolhas e tipos de intervenção pública ou privada diferentes.

Um dos caminhos seria o de promover a recuperação do edificado tal como previamente existente, sem preocupação com a sua adequação às necessidades dos utentes dos dias de hoje. Corresponde a uma visão museológica da cidade, não cuidando da sua sustentabilidade económica e exigindo a aplicação de fundos públicos em quantidades massivas. Como é bom de ver, se esta actuação é possível perante um ou outro edifício mais representativo do ponto de vista patrimonial, a evolução económica do país é completamente incompatível com esta atitude perante grandes áreas da cidade.

Outro caminho é o preconizado pela legislação existente com vista à reabilitação de zonas urbanas históricas, que deu origem à formação das Sociedades de Reabilitação Urbana cujo objectivo é promover o procedimento de reabilitação urbana nessas áreas.

Nos termos definidos para as SRU, a reabilitação urbana deverá ser prioritariamente realizada pelos proprietários dos prédios localizados nas áreas definidas para a sua acção. As SRU começarão por preparar os documentos que regem as intervenções do ponto de vista urbanístico, devendo os projectos de reabilitação sujeitarem-se às normativas por eles definidas. Apenas nos casos em que os proprietários não podem ou não pretendem realizar a reabilitação dos seus prédios, as SRU avançarão com os seus poderes de intervenção que incluem os de expropriação.

No caso de Coimbra, a Coimbra Viva SRU tem já elaborado e aprovado o denominado Documento Estratégico de uma significativa zona da Baixa, estando a decorrer o procedimento que corresponde ao período em que os proprietários decidem se avançam ou não para a reabilitação dos seus prédios. Está igualmente a decorrer um concurso para escolher a entidade que elaborará o Documento Estratégico de outra zona importante da Baixa, que abrange o Terreiro da Erva.

Deve-se realçar que o Estado não intervém financeiramente neste processo, isto é, não existem subsídios para a reabilitação. Estão no entanto previstos alguns apoios relevantes, como sejam o IVA especial para a realização destas obras que é de 5% em vez de 21% normais, bem como a quase total dispensa de pagamento de taxas urbanísticas municipais e isenções de pagamento de IMI durante alguns anos.

A questão do financiamento das operações é muito relevante, dado que um apreciável número de proprietários entendem não fazer as obras pelos mais diversos motivos: ou porque são herdeiros que pelo seu elevado número não conseguem entender-se, ou porque não têm condições económicas, ou porque são muito idosos e entendem já não ter condições físicas e psicológicas para entrar neste processo, ou apenas porque não estão dispostos a fazer as obras.

A legislação em vigor permite que as SRU adoptem o princípio das parcerias público-privadas para a realização da reabilitação. As condições externas para o surgimento de parceiros privados para a reabilitação não são, no entanto, muito favoráveis neste momento, quer por uma certa retracção económica geral, quer pela crise financeira internacional ligada precisamente a alguns sectores do imobiliário. Sabendo-se que a reabilitação não é à partida uma actividade económica concorrencial face à construção nova em outras zonas urbanas, será necessário encontrar vantagens comparativas que compensem aquela desvantagem, designadamente para todos aqueles que preferirão residir numa zona histórica, o que exigirá esforços não só da SRU, mas também de outros sectores sejam públicos, sejam privados.

Outra solução será a constituição de fundos de investimento imobiliário, em que a subscrição de unidades de participação poderá ser feita em dinheiro ou através da entrega de prédios a reabilitar. Na conjuntura actual, talvez seja esta a via mais favorável para obter o necessário financiamento das operações de reabilitação. Uma vantagem será a possibilidade de os próprios proprietários participarem na reabilitação, sem terem de despender dinheiro, entrando com o valor dos seus prédios. Também as empresas e outras entidades interessadas na reabilitação poderão participar, bem como investidores a nível pessoal ou empresarial que pretendam rentabilidades competitivas com as oferecidas normalmente pelos depósitos bancários.

A Coimbra Viva SRU, em colaboração estreita com a Câmara Municipal de Coimbra e com o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana analisa as vantagens e desvantagens de cada uma das soluções. Não se poderá perder de vista que a reabilitação urbana da Baixa só será um sucesso se, além de manter moradores actuais, tiver a capacidade de atrair novos residentes, se conseguir reanimar economicamente o comércio local e se conseguir atrair novas actividades económicas e lúdicas, isto é, se conseguir recuperar a centralidade perdida.

Publicado em o "Campeão das Províncias" em 14 de Fevereiro de 2008

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

ABORTO

Segundo o Diário de Notícias de hoje, (ver link em baixo), uma rapariga de 19 anos, aluna de uma escola profissional de Viseu, tentou abortar nas instalações da própria escola, estando grávida de 5 meses. Como é natural correu mal e acabou por ser levada para o hospital local, onde se confirmou que a criança já estava morta.

Nestas circunstâncias, a brilhante actual lei do aborto obriga a levar esta rapariga a tribunal.

Nessa altura vamos observar de novo as habituais manifestantes à porta do tribunal a clamar pela injustiça da situação e “a defender o direito a mandar na sua barriga”?

http://dn.sapo.pt/2008/02/12/sociedade/estudante_19_anos_aborta_escola.html

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

URGÊNCIAS

Foi demitido o Director do INEM. Depois daquele famoso "prós e contras", fiquei esclarecido sobre o "iluminismo esclarecido" do ministério de Correia de Campos. A jactância demonstrada seria absolutamente inaceitável se não fosse apenas ridícula pela falta de ligação com a realidade.
No entanto, perante a divulgação pública daquela gravação de uma chamada telefónica entre o INEM e os bombeiros de uma terra qualquer abandonada do interior, dado que de certeza que não foram os bombeiros a fazer e publicar a gravação passada obsessivamente pelas televisões (incluindo a RTP), concluí imediatamente que alguém estava a "esturrar" o ministro. E não teria sido a oposição, que não tem meios tão sofisticados.
Só me resta concluir que, no mínimo, a nova ministra mostrou prudência com este acto de afastar o responsável do INEM, não vá o diabo tecê-las.

PADRE ANTÓNIO VIEIRA




Comemoram se este ano quatrocentos anos sobre o nascimento do Padre António Vieira, que nasceu em Lisboa em 6 de Fevereiro de 1608.

Dele disse Fernando Pessoa ser o imperador da língua portuguesa com tudo o que tal classificação implicará de não facilidade de leitura e interpretação. Apesar disso, ou quem sabe por isso mesmo, é hoje soberanamente quase esquecido a nível de ensino básico e secundário. Ainda me lembro de o estudar no segundo ciclo do Liceu, equivalente ao 9º ano da escolaridade de hoje, altura em a Selecta Literária lhe dedicava um grande espaço. Ao contrário do que se passa no Brasil, onde o Padre António Vieira é objecto de imensa veneração e de estudo a todos os níveis.

Foi uma figura maior da nossa História, a nível religioso, cultural e até politico.

São justamente famosos os seus sermões, onde usava abundantemente de alegorias, como é o caso do conhecido “Sermão de S. António aos peixes”.

Padre jesuíta formado em Salvador da Baía, António Vieira distinguiu-se pela sua acção apostólica junto dos índios, adoptando a perspectiva característica dos missionários da Companhia de Jesus baseada num grande respeito pela cultura dos povos locais. Em consequência, defendeu intransigentemente os índios dos colonos, o que lhe valeu aliás grandes inimizades.

Numa atitude rara e de grande avanço no seu tempo, opôs-se frontalmente à escravatura cuja abolição defendeu e foi ainda defensor dos judeus, opondo-se à distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos.

Claro que todas estas posições lhe valeram ataques da Inquisição a que ripostou, tendo mesmo obtido do Papa Clemente X a suspensão do Tribunal do Santo Ofício em Portugal durante algum tempo.

Durante a sua vida e particularmente no tempo de D. João IV, levou a cabo numerosas missões diplomáticas, tendo a sua acção sido crucial para o reconhecimento internacional da independência de Portugal recuperada em 1640. Em Roma, conheceu o maior sucesso tanto junto do Papa e da cúria romana, como da Rainha Cristina da Suécia que havia abdicado do trono e abraçado o catolicismo.

Depois de toda uma vida recheada, voltou ao Brasil e à defesa dos índios, tendo falecido na Baía em 18 de Julho de 1697.

O Padre António Vieira, pela obra que nos legou e pela acção de toda uma vida de afirmação de valores que deveriam ser de todos os tempos e ainda hoje muitas vezes esquecidos, bem merece toda a atenção e comemoração como exemplo maior da nossa História.


Publicado no DC em 11 de Fevereiro 2008


domingo, 10 de fevereiro de 2008

AINDA AS URGÊNCIAS

Após o afastamento de Correia de Campos tende a esbater-se a avalanche de notícias muitas vezes rocambolescas sobre os fechos de urgências.
Permanece, no entanto, um problema grave para além do sentimento de orfandade das populações do interior e da falta de coordenação entre INEM e bombeiros.
Nas urgências dos Hospitais da Universidade de Coimbra, que não são as de Faro e foram ampliadas para o Euro 2004 estavam, numa destas noites às 4 da manhã, 44 doentes em macas (a lotação prevista é de 17). Quando a uma situação destas se adiciona a circunstância (possível e pelos vistos frequente) de o chefe da equipa da urgência ter de apoiar ainda o seu serviço uns andares acima, a situação não andará longe do famoso caos.
Acresce que as unidades de saúde cujas urgências encerraram deixaram igualmente de internar esses doentes que vão para os hospitais centrais como os HUC que, com a sua lotação própria, dispensavam bem esta sobrecarga. Mais uma vez saliento que o SNS não cai fragosamente devido ao profissionalismo de médicos e enfermeiros que, como é habitual entre os portugueses, entendem colmatar com o seu empenho pessoal as falhas organizativas do sistema.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

SCHUBERT - continuação( 5)

Da banda sonora do Barry Lyndon faz igualmente parte o PIANO TRIO:

SCHUBERT - continuação( 4)

Quem se lembrar do Barry Lyndon de Kubrick recorda igualmente a DANÇA ALEMÃ (as imagens não são desse filme):

SCHUBERT - continuação( 3)

Aqui temos aquilo que para mim é o nec plus ultra de Schubert: o 4º andamento do Quinteto A TRUTA. Ainda por cima tive a sorte de encontrar a versão absolutamente superior tocada ao vivo por Daniel Barenboim, Zubin Mehta, Itzhak Perlman, Pinchas Zuckerman e a saudosa Jacqueline Du Pre.


SCHUBERT - continuação( 2)

AVÉ MARIA, numa interpretação absolutamente fora de série:

FIM DE SEMANA SCHUBERT - continuação

A célebre SERENADE:

FIM DE SEMANA FRANZ SCHUBERT

O compositor austríaco Franz Schubert nascido em 31 de Janeiro de 1797 é bem o exemplo de um artista incompreendido no seu tempo e que só alguns anos depois da sua morte foi (re)descoberto.

Apesar de ter morrido aos 31 anos deixou centenas de obras escritas de vários géneros musicais.

Levou uma vida descuidada, tendo ficado célebres as “shubertiadas” com manifestações artísticas misturadas com farras e copos. Muitas das suas obras devem ter-se perdido, tendo em conta que várias foram encontradas por acaso, ou por amigos que as recolhiam quando ele as abandonava, depois de as ter escrito num repente num papel qualquer. Foi o que sucedeu com a célebre “serenata” que foi escrita na parte de trás de uma ementa de restaurante durante uma dessas refeições festivas.

Para começar, nada como Artur Rubinstein interpretando IMPROMPTU:




quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

UMA QUESTÃO DE MACAS

Pela SIC ficámos a saber que os bombeiros ficam frequentemente muito tempo à porta das urgências do hospital de Aveiro à espera que lhes devolvam as macas em que trouxeram os doentes. E porquê? Simples. Como o hospital não dispõe de um número suficiente de camas, faz uso das macas das ambulâncias que sem as ditas não se podem ir embora para socorrer outras urgências. Nós ouvimos isto e não acreditamos que estamos na Europa em pleno século XXI.
Também no caso dos doentes que têm de ir de maca às consultas externas dos hospitais se passa algo semelhante. Nestes casos, os doentes pura e simplesmente utilizam as macas das ambulâncias que os transportaram ao hospital durante todo o tempo da espera e da consulta. e ainda se acha que isto é normal. De repente descobre-se todo um país em que a saúde tem estas bases de trabalho para o serviço médico que, esse sim, é normalmente de superior qualidade porque só depende da competência dos profissionais de saúde.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

CORRUPÇÃO



Com a cadência de um metrónomo, o tema da corrupção tanto enche as páginas dos jornais como sai delas rapidamente, substituído por questões magnas como a idade dos jogadores de futebol.
É um tema que dá sempre grandes parangonas e protagonismo a quem desata a fazer grandes denúncias, infelizmente quase sempre genéricas.
Não é certamente por acaso que se vê personalidades que publicamente tentam lutar contra este fenómeno serem convidadas para exílios dourados no estrangeiro.
O que é um facto é que todos temos a noção de que ela existe e tem uma grande importância no contexto da nossa economia.
De acordo com a “transparency international” Portugal é o terceiro país mais corrupto da união europeia a 15. Pior mesmo só a Grécia e a Itália. A nível mundial estamos na média, o que não é nada satisfatório.
Não há muito tempo um estudo do Banco Mundial concluiu que, se a corrupção fosse completamente eliminada no nosso país, o rendimento “per capita” triplicaria, colocando-nos ao nível da Finlândia. É fácil concluir que ao lado do Estado que nos cobra impostos, existe uma outra entidade que, de uma forma oculta, nos impõe genericamente um outro imposto que não serve para pagar educação, saúde nem outras funções do Estado e sim para engordar contas situadas sabe-se lá onde. E ainda por cima é uma canga sobre a economia que a puxa para baixo, baixando de forma gravosa o nível de vida médio dos portugueses.
Ouvimos constantemente personalidades ao mais alto nível afirmarem que a sua Ética é a lei da República. Isto é, pode-se fazer tudo, desde que não seja expressamente proibido.
Claro que os valores éticos têm que ser assumidos individualmente e que, quando não existem, não se pode esperar que sejam seguidos.
Nos dias de hoje em que a organização social e económica valoriza o sucesso a qualquer preço, para além da perseguição aos casos concretos que deve ser permanente, há duas saídas para evitar o crescimento da corrupção. Uma delas é regulamentar tudo para evitar aberturas por onde se possa corromper e ser corrompido. Como é evidente, isto é impossível, sob pena de se asfixiar toda uma sociedade. A outra passa pela Educação, o que notoriamente não está a ser feito. O actual caminho laicista para a Educação tende a eliminar uma das principais fontes de ética pessoal, que é a Moral. A política educativa existente torna-se assim um dos principais factores de sustentação da corrupção em Portugal e há que tomar consciência disso.

Publicado no DC em 4 Fevereiro 2008

domingo, 3 de fevereiro de 2008

FAMÍLIA

A revista “Pública” de hoje traz um artigo muito interessante de Daniel Sampaio.

Nele se analisa a interacção entre os filhos e os pais, começando pelo primeiro filho, cuja chegada corresponde ao verdadeiro início da família, pelas alterações que introduz nas relações entre os membros do casal e também com as famílias de proveniência.

Daniel Sampaio mostra que de certa forma é o filho que faz a mãe e o pai, necessitando dos dois lados da parentalidade para o seu crescimento harmonioso.

Curiosamente, esta análise parte da existência de um casal, isto é, de um homem e de uma mulher, como base para a constituição da família. Nos dias de hoje é refrescante.

WHERE HAVE ALL THE FLOWERS GONE?

Interpretada como só Marlene Dietrich era capaz, eis "where have all the flowers gone?" de Pete Seeger.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

LIBERDADE E BEM ESTAR ECONÓMICO

O progresso das nações está ligado ao respectivo nível de liberdade. Todos nós temos uma noção disso, embora a prova nem sempre esteja ao nosso dispor.
O seguinte gráfico retirado de "Heritage Foundation" tira todas as dúvidas:

AVEC LE TEMPS: LEO FERRÉ por DALIDA

Com o tempo tudo se vai...talvez, acrescento eu.

IMPRENSA VS POLITICA

O caso WATERGATE fez escola, não apenas pelas consequências que teve na política interna americana, o que foi importante na altura, mas acima de tudo pelo que mostrou sobre as relações entre a liberdade de imprensa e a política.
A esse propósito, talvez fosse boa ideia oferecer um exemplar do filme "TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE" de Alan J. Pakula de 1976 com Robert Redford e Dustin Hoffman a todos os políticos quando ganham eleições.


quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

GiGI

Esta canção, assuma-se ou não, faz parte do património afectivo de toda uma geração: a minha.
Desafio os visitantes a cantarem-na em coro com os amigos.

LA FEMME EST L'AVENIR DE L'HOMME

Eu sei que não está na moda, longe disso.
Mas de França também já veio música muito boa: Jean Ferrat

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

DIÁLOGO

Neste dia de remodelação, saúdo vivamente o súbito regresso em força da palavra diálogo à política portuguesa. Desde a partida do saudoso Eng. Guterres que não ouvia esta palavra tantas vezes num só dia. A mudança é radical e significativa.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

ORTODRÓMIAS E LOXODRÓMIAS

Ao contrário das viagens terrestres, em que o caminho a percorrer se encontra bem delineado por caminhos ou estradas, nas viagens marítimas e aéreas de longas distâncias exige-se a utilização de métodos que recorrem a cálculos astronómicos.
Nessas viagens é necessário conhecer as coordenadas do ponto de partida e do ponto de destino e escolher um itinerário.
Como a Terra é esférica, o itinerário tem que ser adaptado a essa circunstância, havendo dois tipos de trajecto a escolher: derrota ortodrómica e derrota loxodrómica (derrota é nome marítimo de percurso).
Uma ortodrómia utiliza o troço de um círculo máximo que passa pelos dois pontos, à superfície da Terra. É um trajecto que minimiza assim a distância a percorrer entre os dois pontos.
No entanto, como as cartas que se utilizam na navegação são planas, sendo a de Mercator a mais utilizada, aquele trajecto aparece como uma curva nestas cartas.
Para navegar, é necessário seguir um rumo, pelo que a ortodrómia é muito difícil de seguir, exigindo que se estivesse permanentemente a mudar o rumo.
O processo alternativo mais fácil é traçar uma recta entre os dois pontos na carta plana, traçando uma loxodrómia e definindo assim um rumo constante com um azimute fixo marcado na girobússula.
Só que o que na planta parece o trajecto mais direito, significa um trajecto que em grande parte dos casos é muito mais longo. Pode-se fazer uma mistura, adoptando um conjunto de loxodrómias que se aproximem mais da ortodrómia.
A nossa vida não é uma esfera, mais se assemelhando a uma viagem com altos e baixos. Mas também neste caso a maneira de chegar a um objectivo não é muitas vezes aquela que à primeira vista parece a mais direita, já que os sistemas de coordenadas em que nos movemos fazem parecer simples o sistema terrestre já de si bem complexo.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

D CARLOS



Cumprem-se esta semana (dia 1 de Fevereiro) cem anos sobre o Regicídio em que foram assassinados o Rei D. Carlos e o Príncipe Herdeiro D. Luís Filipe.

Apesar de não haver acções oficiais associadas a este importante acontecimento da nossa História, verifica-se que a sociedade civil não o esqueceu, multiplicando-se a publicação de livros e de artigos e ensaios em jornais e revistas com análises sobre o sucedido e o seu significado.

A figura de D. Carlos foi sendo objecto de diferentes apreciações ao longo destes cem anos. Logo após o Regicídio era comum uma perspectiva muito negativa assente sobretudo na necessidade de os republicanos daquela época desculpabilizarem os autores materiais e morais do assassinato. Uns anos depois houve uma alteração radical, passando a ser oficial observar a figura de D. Carlos sob um ponto de vista nacionalista.

Hoje em dia já é possível uma certa distanciação e proceder a uma análise mais objectiva. D. Carlos surge assim como um homem um pouco solitário, porque praticamente não tinha família directa em Portugal, estando os seus parentes nas casas reais da Europa de então. Era um homem de educação liberal, culto, afável, com talento artístico, que simultaneamente gostava dos prazeres da vida, mas com grandes preocupações com a governação do país, dentro dos poderes que a Constituição lhe concedia.

As condições políticas do seu tempo não lhe foram favoráveis, dadas as características do sistema de rotatividade entre os partidos Regenerador e Progressista que se havia instalado.

Por outro lado, os republicanos e a carbonária fizeram o possível e o impossível para o denegrir, a fim de eliminar a Monarquia, até acabarem no seu assassinato e do seu filho herdeiro da Coroa, apenas falhando a morte do filho mais novo.

D. Carlos é hoje uma figura que surge naturalmente com as suas qualidades e os seus defeitos, liberto de muitas infâmias, invejas e até de uma certa má-consciência histórica de quem justificou a eliminação da Monarquia por este processo. Monarquia essa que era de tradição constitucional e liberal. Em seu lugar surgiu uma República jacobina e violentamente anti-clerical que, mercê da total incapacidade dos seus responsáveis em governar decentemente o país, cavou os alicerces da Ditadura Militar e do longo regime não democrático e anti-liberal do Estado Novo que só veio a terminar em 1974. Esta é a história do século XX que o Regicídio nos deixou em herança.

Lembrar D. Carlos hoje é, para além de justamente honrar a sua memória, perceber melhor todo o século XX português.

Publicado no DC em 28 Janeiro 2008

domingo, 27 de janeiro de 2008

Ainda os relógios mecânicos - o TURBILHÃO




No topo das chamadas "complicações" em relojoaria, encontra-se o TURBILHÃO.
Esta tecnologia foi inventada em 1801 pela casa BREGUET, num tempo em que os relógios ainda eram fixos, estando permanentemente na posição vertical, portanto sujeitos a que a gravidade terrestre afectasse o movimento do "escape", introduzindo variações indesejáveis com influência negativa na precisão da máquina.
O TURBILHÃO consiste numa cápsula móvel que contém o "escape" e o "balanço" que assim rodam em conjunto, efectuando normalmente uma rotação completa em cada minuto, compensando assim as variações.
Hoje em dia, os relógios andam nos nossos pulsos, mudando constantemente de posição, pelo que o turbilhão não seria necessário para compensar a gravidade, sendo uma curiosidade e, acima de tudo, um desafio para os construtores.
O turbilhão aparece normalmente colocado às 12 horas ou às seis horas, havendo um modelo, fabricado pela OMEGA com o turbilhão no centro dos ponteiros, o que em minha opinião não resulta muito bem. A Jaeger leCoultre apresentou há pouco tempo um modelo com um turbilhão esférico, que roda sobre dois eixos, parecendo flutuar livremente no espaço de uma forma absolutamente extraordinária.
O efeito do turbilhão a rodar perante os nossos olhos tem no entanto um efeito quase mágico, pelo que as grandes marcas (muito poucas têm a capacidade técnica para produzir esta maravilha de miniaturização) apresentam modelos muito exclusivos com esta função.

Aqui fica um exemplo da BLANCPAIN :




O modelo da OMEGA:













Um brinde

Para os amigos (e amigas) da minha geração que me acompanham nesta viagem bloguítica, aqui fica um brinde, com a SUZANNE do Leonard Cohen, mas numa versão ainda melhor, pelo toque feminino da Judy Collins - aquela da "suite Judy blue eyes"dos Crosby, Stills, Nash & Young, se é que se recordam.

sábado, 26 de janeiro de 2008

PIENSA EN MI






Luz Casal na praia ao fim da tarde, em pleno Inverno, com Sol.

OBRIGADO À VIDA





Este sem abrigo que dorme ao relento em pleno Dezembro de 2007 na Baixa de Coimbra no rebate da montra de um banco é a nossa vergonha colectiva.
Ainda há poucos anos praticamente não havia sem-abrigos em Coimbra. Hoje são largas dezenas. O que é que a nossa geração está a fazer ao país para gerar cada vez mais e mais grave exclusão social?
O espantoso "gracias a la vida " de Mercedes Sosa faz-nos pensar seriamente no que temos que agradecer ao que a vida nos trouxe, mas também nas nossas responsabilidades colectivas.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

CLARABOIA 2


Esta clarabóia passa despercebida, porque está num edifício situado na Baixa, onde as ruas são estreitas e os prédios relativamente altos. Desta forma, só se vê de longe.
Tem características peculiares que a tornam muito interessante. Repare-se na outra clarabóia mais pequena ao lado, com uma esfera vermelha de vidro no cimo.

CLARABOIA 1


Há pormenores da Cidade que muitas vezes nos passam despercebidos, como é o caso desta clarabóia do edifício da Câmara Municipal de Coimbra.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

CAPITALISMO ÉTICO

Aconselho vivamente uma leitura atenta do relatório especial sobre a responsabilidade social das empresas incluído no último número da ECONOMIST (ver ligação ao lado).
Como se pode verificar, este é um tema que chama cada vez mais a atenção pela sua importância. Os consumidores têm aqui um papel essencial .

http://www.economist.com/opinion/displaystory.cfm?story_id=10533974

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

ATITUDES

Terá finalmente chegado ao fim o longo período de turbulência que caracterizou a vida do maior banco privado português durante quase todo o último ano.

Durante este período assistiu-se a quase tudo aquilo que seria impensável que pudesse acontecer numa grande instituição bancária.

Desde logo, as lutas intestinas entre órgãos de gestão do banco que reflectiram divisões profundas sobre a governação do BCP que se esperaria fossem mantidas no interior da instituição e que acabaram por ser travadas na praça pública.

Depois, o conhecimento público de decisões de gestão que no mínimo se podem considerar altamente controversas.

As ingerências políticas no processo foram também públicas e notórias, o que não augura nada de bom para a cada vez mais necessária libertação da economia relativamente ao Estado.

A actuação das entidades reguladoras ao longo de todo o processo terá também deixado muito a desejar, alimentando fundadas dúvidas sobre a sua real e efectiva independência.

Muito grave, e pouco esclarecida, foi ainda a ideia que perpassou ao longo de todo este processo sobre a cedência a interesses de Angola, designadamente através da Sonangol. Curiosamente no último número da revista TIME, aparece uma análise sobre a corrupção em vários países africanos. Os dados sobre Angola mostram ser este um dos piores países africanos quanto a esse aspecto, com uma taxa de controlo de corrupção de 8,7% e uma taxa de legalidade de 7,1%. Pior é quase impossível, sendo certo que o petróleo de Angola contagia praticamente todos os negócios adjacentes.

No meio de tudo isto, ressalta a atitude corajosa e independente de Miguel Cadilhe. No que à primeira vista pode parecer uma atitude quixotesca, mostrou ao país que na sociedade civil existem ainda reservas de resistência à progressiva influência estatal na economia e até na vida diária das pessoas. No momento em que se apresentou já não era possível cortar a complexa teia de interesses montada, mas poderá ter sido uma semente que germinará mais cedo ou mais tarde.

Publicado no DC em 21 Janeiro 2008



domingo, 20 de janeiro de 2008

MAHLER - despedida de fim de semana

Fazendo votos que os meus leitores (poucos mas bons, certamente) tenham apreciado esta partilha de emoções propostas por Gustav Mahler, aqui fica a pérola suprema:


Das Lied von der Erde ( A Canção da Terra)

MAHLER - continuação

Da 3ª sinfonia, o 5º movimento:

sábado, 19 de janeiro de 2008

Mahler -continuação

Da 4ª sinfonia, o final do 4º andamento: "Das Himmlische Leben".


CONVÉM NÃO ESQUECER ALGUMAS VERDADES

Evangelho segundo S. Marcos 2,13-17.

Jesus saiu de novo para a beira-mar. Toda a multidão ia ao seu encontro, e Ele ensinava-os. Ao passar, viu Levi, filho de Alfeu, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me.» E, levantando-se, ele seguiu Jesus. Depois, quando se encontrava à mesa em casa dele, muitos cobradores de impostos e pecadores também se puseram à mesma mesa com Jesus e os seus discípulos, pois eram muitos os que o seguiam. Mas os doutores da Lei do partido dos fariseus, vendo-o comer com pecadores e cobradores de impostos, disseram aos discípulos: «Porque é que Ele come com cobradores de impostos e pecadores?» Jesus ouviu isto e respondeu: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os enfermos. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.»

CAVACO TINHA RAZÃO

Na sua mensagem de ano novo, o Presidente referiu negativamente os ordenados demasiado elevados de gestores de algumas empresas. Na altura pareceu a muita gente que seria um comentário despropositado naquela comunicação.
O jornal Público informou ontem que Paulo Teixeira Pinto recebeu 10 milhões de euros à cabeça e mais 35 mil euros por mês até ao fim da vida, pela sua saída do BCP.
Se isto não é uma imoralidade, não sei o que o seja e mostra que Cavaco sabia exactamente o que dizia.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Sinfonia dos mil

A oitava sinfonia de Mahler é conhecida por "sinfonia dos mil". Precisa de mais de mil interpretes entre orquestra, solistas e coros, pelo que raramente é tocada.
Da "sinfonia dos mil" fica aqui um cheirinho (Veni creator -1º andamento, parte 1):

Adagietto

Hoje em dia esta é talvez a peça mais conhecida de Mahler, desde o filme "Morte em Veneza".
É o quarto andamento da quinta sinfonia.


Bom fim de semana

Este fim de semana é dedicado a MAHLER.
Gustav Mahler é, há muito, um dos meus compositores preferidos. Provavelmente, sem o saber, atraiu-me aquele ritmo em que alterna momentos de grandiosidade com súbitos momentos de uma intimidade desarmante.
Para começar, nada como um trecho da 1ª Sinfonia, conhecida por "Der Titan", no caso o 3º andamento onde aparece o delicioso"frère Jacques".

NO NEWS, GOOD NEWS

Só a inexistência de más notícias pode explicar que duas patetices como um frasco de mau cheiro e um F16 que quase passou a velocidade do som ocupem tanto tempo da comunicação social que temos.
Falta de más notícias ou cortina de fumo para as esconder.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

COMO ESCOLHER UM NOVO AEROPORTO

A recente decisão governamental de abandonar a localização da OTA escolhida há dez anos para o novo aeroporto internacional de Lisboa, optando pela escolha preliminar de Alcochete foi tomada com base num estudo do LNEC, sendo portanto uma decisão política sustentada tecnicamente.

Curiosamente, o primeiro estudo desenvolvido para a localização do novo aeroporto de Lisboa datado de 1972, já propunha um local próximo da zona agora escolhida, prevendo-se até mesmo nessa altura a transferência do campo de tiro de Alcochete.

Dá a impressão que se andou a tergiversar durante 35 anos, o que transmite muito má imagem da capacidade de planeamento do país.

No entanto, a decisão agora tomada tem alguns aspectos que necessitam de melhor explicação para ser bem compreendida e aceite pela generalidade dos portugueses.

Claro que o trabalho do LNEC está bem feito e é inteiramente credível.

Claro que constitui uma importantíssima ferramenta para suporte de decisão política.

Mas a leitura do estudo do LNEC, permite verificar que o referido estudo concluiu que Alcochete é melhor que a Ota em quatro dos sete factores críticos de decisão:

1.-Segurança; 2.-Eficiência e capacidade das operações de tráfego aéreo; 3.-Sustentabilidade dos recursos naturais e riscos; 4.-Compatibilidade e desenvolvimento económico e social e avaliação financeira.

A OTA é melhor nos outros três critérios: 1.-conservação da natureza e biodiversidade; 2.-Sistemas de transportes terrestres e acessibilidades; 3.-Ordenamento do território.

Aquando da apresentação da decisão governamental, a justificação apresentada foi genérica, sendo apenas apresentada como a melhor técnica e economicamente. Não foram explicitados os pesos relativos dos critérios, isto é, por exemplo, o ordenamento do território é menos ou mais importante em termos estratégicos nacionais do que o desenvolvimento económico? Os critérios mais vantajosos para Alcochete estão genericamente relacionados com a vertente aeronáutica, enquanto as vantagens da OTA têm mais a ver com a organização e estrutura do país. O que é mais importante em termos estratégicos?

Tudo isto deveria ser devidamente justificado e explicado, atendendo a que se trata de um investimento gigantesco com grandes implicações no funcionamento, capacidade e competitividade do país.

Parece-me muito mais importante analisar estes aspectos do que discutir a localização do novo aeroporto em termos puramente regionais ou partidários.

Se é evidente que a OTA seria muito mais vantajosa para os habitantes da região Centro que vão apanhar avião a Lisboa do que Alcochete, o essencial é que o novo aeroporto internacional de Lisboa seja o que melhor serve o país em termos estratégicos nacionais. Por outro lado, devemos ter consciência de que a localização na Ota traria muito maior pressão da região metropolitana de Lisboa sobre a região Centro, o que talvez nos traga algumas vantagens.

Publicado no DC em 14 Janeiro 2008



quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

EM POLITICA O QUE PARECE, É

"Antes era o Tratado Constitucional. Agora temos o Tratado de Lisboa. É muito diferente".
O que parece é que os compromissos eleitorais não são para cumprir. As consequências virão depois.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

A ESLOVENIA ACONSELHA PORTUGAL

Da Agência Lusa em 7 de Janeiro 2008:

O primeiro-ministro da Eslovénia e presidente em exercício da União Europeia, Janez Jansa, aconselhou hoje Portugal a ratificar o Tratado de Lisboa por via parlamentar e não por referendo.

"Penso que não seria sensato realizar um referendo" em Portugal, disse Janez Jansa, em declarações à Agência Lusa, na capital da Eslovénia, cujo Governo sucedeu ao português, há uma semana, na presidência rotativa semestral do bloco europeu dos 27.

Ao ler esta pérola, não pude deixar de me interrogar: será que os outros europeus sentiram o mesmo que eu ao ler isto, na altura em que ouviam as declarações do anterior "presidente em exerccício da União Europeia" até há sete dias atrás?

ACEGE EM COIMBRA



O próximo encontro da ACEGE em Coimbra terá lugar na Sé Velha no próximo dia 15 de Janeiro, à hora do almoço.
O palestrante será o Dr. Nuno Fernandes Thomaz que se debruçará sobre as seguintes questões:

- conceito de responsabilidade social das empresas (RSE) (a ética, os comportamentos, a hipocrisia)

- responsabilidade social dos empresários e gestores numa época de globalização (teoria dos 3 p’s)

- dimensão específica dos empresários e gestores cristãos (como de todos os empresários e gestores independentemente da sua orientação confessional)

- imperativos da competitividade

- a sustentabilidade das empresas (os “stakeholders”, a criação de valor, o lucro, a coesão social, o desenvolvimento, o ambiente)

- os dilemas de consciência do gestor de hoje (a segurança do emprego, as reestruturações, as deslocalizações)


Quem estiver interessado em participar (com direito a debater) poderá enviar mensagem para este blogue.

ATLÂNTICO


Já saiu o nº de Janeiro da revista Atlântico.
Aconselho a leitura. Concorde-se ou não com o tom geral, passa por aqui muito do debate sobre o futuro que nos espera, que certamente ( pelo menos, assim o espero) não será o socialismo, seja qual for o adjectivo que se lhe coloque à frente.

2008: ANO DE GRANDES EFEMÉRIDES

O ano que agora começa é pródigo em efemérides que nos deverão merecer a maior atenção, porque os acontecimentos a que se referem influíram decisivamente na formação da identidade portuguesa. Não conhecendo minimamente o nosso passado não é possível entendermos as razões de muito do que hoje somos.

No próximo dia 1 de Fevereiro passam cem anos sobre o regicídio, em que foram assassinados o Rei D. Carlos I e o Príncipe herdeiro Luís Filipe no Terreiro do Paço. Este terrível acontecimento teve implicações enormes na sociedade portuguesa, tendo levado à instauração da República escassos dois anos depois. Ainda hoje é perceptível uma clara diferença de opiniões sobre aquele assassinato que, não raras vezes, é desculpado perante um suposto abrir caminho à democracia em Portugal. Na opinião de muitos historiadores, os anos que se seguiram a estes acontecimentos não trouxeram mais democracia a Portugal, antes pelo contrário. Trouxeram sim a República, o que é uma coisa muito diferente como todos sabemos. Muitos outros países europeus mantiveram as Monarquias e não são menos democráticos e desenvolvidos que a nossa República.

No dia 7 de Março faz duzentos anos que a família real portuguesa, acompanhada de milhares de fidalgos chegou ao Rio de Janeiro após ter escapado à sua prisão pelo general francês Junot como era desejo de Napoleão, durante a primeira invasão francesa. Também estes acontecimentos vieram a ter uma importância decisiva não só para Portugal, mas também para o Brasil pela influência que teve no seu processo de independência. Ainda em relação às invasões francesas, no dia 21 de Agosto faz duzentos anos a batalha do Vimeiro que ditou a viragem dos acontecimentos a favor de Portugal.

Em 6 de Fevereiro faz quatrocentos anos que nasceu o Padre António Vieira, figura cimeira das nossas letras e exemplo maior do respeito pelos valores civilizacionais dos índios do Brasil, que defendeu contra todos os poderes.

Enfim, no decorrer de 2008 celebram-se quinhentos anos sobre a conclusão do retábulo-mor da Sé Velha de Coimbra. Perguntará o leitor a que propósito é que refiro aqui este facto, que à primeira vista nem sequer é um acontecimento. Nada de mais errado. O magnífico retábulo-mor da Sé Velha do período gótico flamejante, cuja visita se recomenda vivamente, foi construído pelos artistas flamengos Olivier de Gand e Jean d’Ypres. É a demonstração de que, ao contrário do que muito boa gente julga, no século XVI a cultura portuguesa estava intimamente ligada à cultura do norte da Europa, assim se mostrando que não é por pertencermos actualmente à União Europeia que somo mais europeus do que antes.

Publicado no DC em 7 Janeiro 2008



domingo, 6 de janeiro de 2008

INTOLERÂNCIA

Conheço alguém que costuma dizer que admite tudo, excepto fanáticos. E eu concordo.
Esta história da lei anti-tabaco do oito ou oitenta só podia acabar assim. Os grandes legisladores que temos "esqueceram-se" da regulamentação e aí temos os fumadores perseguidos como criminosos. Estamos num ponto em que os presos são proibidos de fumar, nas o Estado dá-lhes seringas para se drogarem.
Quando os Estados se metem a promover revoluções culturais normalmente os resultados são ao contrário do que se pretende.
Também os alemães têm uma lei anti-tabaco desde o dia 1 e parece que não estão a achar piada nenhuma. É que na Alemanha já houve antes uma lei contra o tabaco da autoria de Adolf Hitler, que também gostava muito de pessoas altas, magras, loiras de preferência e que praticassem muito desporto.
Aqui fica uma fotografia de dois fumadores famosos, cheios de defeitos e de vícios como o de fumar, mas de quem é muito fácil gostar:


sábado, 5 de janeiro de 2008

CRONÓMETRO OU CRONÓGRAFO?

Existe uma confusão muito vulgarizada, mesmo entre quem aprecia relógios mecânicos bonitos. Trata-se de saber a diferença entre cronógrafo e cronómetro.
Um cronómetro é actualmente um relógio mecânico que atinge um determinado patamar de precisão, que lhe permite obter um certificado específico passado pelo CSCO (Contrôle Officiel Suisse des Chronomètres) após a realização com sucesso de uma série bem definida de testes. A necessidade desta precisão nasceu na navegação marítima, para se calcular a longitude. Ainda me lembro de, a bordo dos navios da Armada, haver sempre um cronómetro, cuja responsabilidade de manutenção cabia ao Oficial de Navegação. O procedimento de dar a corda ao cronómetro que estava guardado numa caixa de madeira e possuía dois eixos de rotação a fim de absorver as movimentações do navio, era perfeitamente definido e era mesmo um ritual, com o fim de garantir que a sua variação era controlada. Claro que isto se passava antes da era do GPS.
Um exemplo de cronómetro da OMEGA que apresenta a designação no mostrador:




Já um cronógrafo é um relógio que permite medir e mostrar períodos de tempo, isto é, que possuem mecanismos que se põem a trabalhar e se param através de botões.
Um exemplo de cronógrafo é o famoso Speedmaster da OMEGA que foi até hoje o único relógio usado na Lua, por ter sido adoptado pelo programa Apollo:

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

OOPS!

Perante a anulação do Paris-Dakar 2008, o meu anterior post leva-me a esclarecer o seguinte:
1) O post foi colocado dois dias antes da anulação e espelha a minha opinião sobre o espectáculo, livre de influências estranhas.
2) Continuo a pensar que nada justifica o terrorismo.
3) Dito isto, o estado actual do mundo deveria levar-nos todos a repensar muitas das atitudes que antes julgávamos inocentes.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

LISBOA-DAKAR


Os meus amigos amantes de desportos motorizados que me desculpem.
Mas não acham que esta coisa do Lisboa-Dakar é um insulto às populações dos países atravessados pela corrida? Precisamente aqueles países de onde tantos milhares fogem de qualquer maneira e feitio, para tentarem entrar no nosso querido "castelo"?
O espectáculo das máquinas artilhadas, com apoio de helicópteros e toda a parafernália de equipamentos sofisticados a passar pelo meio dos magrebinos e negros que olham para tudo aquilo como se uma invasão de extraterrestres se tratasse seria apenas patético, se não fosse uma demonstração egoísta de arrogância, falta de decoro e de consideração pelos semelhantes.