segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

PADRE ANTÓNIO VIEIRA




Comemoram se este ano quatrocentos anos sobre o nascimento do Padre António Vieira, que nasceu em Lisboa em 6 de Fevereiro de 1608.

Dele disse Fernando Pessoa ser o imperador da língua portuguesa com tudo o que tal classificação implicará de não facilidade de leitura e interpretação. Apesar disso, ou quem sabe por isso mesmo, é hoje soberanamente quase esquecido a nível de ensino básico e secundário. Ainda me lembro de o estudar no segundo ciclo do Liceu, equivalente ao 9º ano da escolaridade de hoje, altura em a Selecta Literária lhe dedicava um grande espaço. Ao contrário do que se passa no Brasil, onde o Padre António Vieira é objecto de imensa veneração e de estudo a todos os níveis.

Foi uma figura maior da nossa História, a nível religioso, cultural e até politico.

São justamente famosos os seus sermões, onde usava abundantemente de alegorias, como é o caso do conhecido “Sermão de S. António aos peixes”.

Padre jesuíta formado em Salvador da Baía, António Vieira distinguiu-se pela sua acção apostólica junto dos índios, adoptando a perspectiva característica dos missionários da Companhia de Jesus baseada num grande respeito pela cultura dos povos locais. Em consequência, defendeu intransigentemente os índios dos colonos, o que lhe valeu aliás grandes inimizades.

Numa atitude rara e de grande avanço no seu tempo, opôs-se frontalmente à escravatura cuja abolição defendeu e foi ainda defensor dos judeus, opondo-se à distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos.

Claro que todas estas posições lhe valeram ataques da Inquisição a que ripostou, tendo mesmo obtido do Papa Clemente X a suspensão do Tribunal do Santo Ofício em Portugal durante algum tempo.

Durante a sua vida e particularmente no tempo de D. João IV, levou a cabo numerosas missões diplomáticas, tendo a sua acção sido crucial para o reconhecimento internacional da independência de Portugal recuperada em 1640. Em Roma, conheceu o maior sucesso tanto junto do Papa e da cúria romana, como da Rainha Cristina da Suécia que havia abdicado do trono e abraçado o catolicismo.

Depois de toda uma vida recheada, voltou ao Brasil e à defesa dos índios, tendo falecido na Baía em 18 de Julho de 1697.

O Padre António Vieira, pela obra que nos legou e pela acção de toda uma vida de afirmação de valores que deveriam ser de todos os tempos e ainda hoje muitas vezes esquecidos, bem merece toda a atenção e comemoração como exemplo maior da nossa História.


Publicado no DC em 11 de Fevereiro 2008


Sem comentários: