Coimbra ganhou um novo espaço de usufruição pública com muito significado.
De facto, o novo jardim construído pela Câmara em Montes Claros, veio ocupar de uma forma inovadora, um espaço com muita História, embora eventualmente desconhecida de muitos nós.
Ao contrário do que tem acontecido nas últimas dezenas de anos, um espaço vazio no interior de uma zona citadina consolidada e não resultado de urbanização recente, foi ocupado com um jardim e não “rentabilizado” com outra utilização. Por acaso, para aquele local até estava prevista a construção de um equipamento, no caso o Arquivo Municipal. O edifício teria cinco pisos e constituiria mais uma “carga” para uma zona urbana já muito utilizada, como tem acontecido por toda a Cidade, com as consequências que todos conhecemos. Exactamente o contrário do que foi feito, por exemplo nos anos setenta, com a construção da Biblioteca Municipal que foi ocupar uma fatia significativa da zona verde do parque da Sereia, vendendo a Autarquia para urbanização o espaço que lhe estava destinado e que fora comprado com esse fim ainda antes do 25 de Abril, na Av. Calouste Gulbenkian.
O que muitos conimbricenses talvez não saibam é que aquele espaço vazio ao lado da Av António José de Almeida foi originado pela demolição do antigo “Bairro Operário” que ali existiu, ao lado do que nessa altura era o antigo Matadouro Municipal, onde hoje está a Igreja de Montes Claros.
O “Bairro Operário de Santa Cruz” era constituído por pequenas moradias viradas para a Rua António José de Almeida e para a actual Rua João Porto, com pequenas hortas no espaço situado entre elas e terá sido o primeiro bairro deste tipo em Portugal. O “Bairro Operário” foi construído com as verbas provenientes da oferta da diocese ao Bispo D. Manuel Bastos Pina em Maio de 1895, no vigésimo aniversário da sua sagração episcopal, tendo o Bispo colocado como condição de aceitação do dinheiro a sua utilização com esta finalidade. Ao lado do bairro existia uma pequena capela, cujo retábulo do Altar-mor se encontra hoje na Igreja provisória de Nossa Senhora de Lurdes.
Trata-se, pois, de um local com muita História, sendo a utilização como jardim, incluindo um parque infantil, particularmente feliz. Mereceria talvez que fosse chamado “parque do bairro operário”, atendendo a que a rua que o ladeia se chama já, e muito justamente, rua D. Manuel Bastos Pina.
1 comentário:
Este espaço, "Parque Infantil", faz-me recordar - "Recordar É Viver", coloridamente, quando era criança e me deslocava à capelinha aos domingos à missa e durante o mês Maio, pelas 20H00, ao terço. Subir a Rua Trindade Coelho, o cheirinho das Rosas de Sta. Teresinha, os rapazes de um lado do passeio e as meninas do outro lado. As crianças (8 aos 12 anos)eram eventuais portadoras de mensagens, sem maldade alguma, de eventuais namoriscos dos mais adolescentes. Sou cota mas era lindo. Há chegada rapazes à frente, junto ao altar, e raparigas propriamente dentro da Igreja. O terço, no entanto, estava dentro dos nossos corações com grande intensidade. E hoje? Não o rezo. Porquê? Desabituei-me destes hábitos. Nada mais fácil do que dizer "no time". Lamento.
Manucha
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