Na semana passada
deu-se o momento final de uma das mais impressivas batalhas da II Guerra
Mundial. Em Portsmouth, cidade inglesa onde se localiza o museu nacional da
Royal Navy, ouviu-se o sino do navio HMS Hood a ser tocado pela primeira vez
desde há 75 anos.
O couraçado Hood era
o maior navio da Marinha Britânica e, em Maio de 1941, participava numa
gigantesca operação naval que visava impedir que o couraçado alemão Bismarck
passasse do Báltico para o Atlântico onde poderia impedir todos os abastecimentos
à Grã Bretanha. O Bismarck era um navio de guerra impressionante construído na década
de 30 nos estaleiros Blohm & Voss em Hamburgo, com uma artilharia
poderosíssima, grande velocidade e uma blindagem resistente a quase todo o fogo
inimigo, sendo o orgulho da marinha alemã e um perigo para a armada inglesa.
Nessa altura, a
Europa estava praticamente toda ocupada pelas tropas nazis, Dunquerque tinha
acontecido há um ano, os EUA permaneciam no seu isolamento, a União Soviética
ainda não tinha sido invadida e apenas a Grã-Bretanha resistia corajosamente à
vontade de Hitler estabelecer o seu Reich de mil anos. Depois do Bismarck, juntamente
com outro couraçado alemão, o Prinz Eugen, terem conseguido passar pelo
estreito da Dinamarca sem serem detectados, foram vistos já a navegar em pleno
Atlântico, tendo vários navios ingleses seguido no seu encalço para lhe darem
batalha. No dia 24 de Maio de 1941 o Hood afrontou o Bismarck de proa para lhe
oferecer alvo mais reduzido mas a primeira salva do Bismarck atingiu-o em cheio,
afundando-o de imediato e levando para o fundo os mais de 1.400 homens da sua
guarnição. Perante o desastre, os outros navios ingleses, com menor poder de
fogo, afastaram-se e o Bismarck continuou a sua rota no Atlântico, para cumprir
a sua missão de afundar todos os navios que se dirigissem para as ilhas
britânicas, seguindo a estratégia de Hitler de as isolar completamente,
enquanto o Prinz Eugen se dirigiu para a França ocupada.
As ordens do
governo britânico chefiado por Winston Churchill foram claras: “Afundem o
Bismarck”. Seguiu-se uma gigantesca operação de caça pelo mar do Norte, com uma
frota de navios britânicos a procurar o Bismarck que apenas terminou no dia 27
de Maio quando foi cercado e alvo da artilharia naval e torpedos, já que um
ataque aéreo na noite anterior lhe avariara o leme e o colocara em situação de
inferioridade. O Bismarck, depois de ter sido atingido com gravidade, acabou
por ser afundado pela sua própria guarnição.
O afundamento do
Hood e posterior caça ao Bismarck ficou como um marco na História da Royal Navy
e da capacidade de resistência e sacrifício britânicos perante um inimigo
poderoso que destruía de forma selvagem tudo aquilo que pudesse impedir os seus
objectivos de poder total e absoluto.
No ano passado, foi
finalmente resgatado o sino do HMS Hood dos seus restos que jazem no fundo do
Atlântico norte.
Foi assim possível
realizar a cerimónia no dia 24 de Maio da semana passada, em memória dos
marinheiros do Hood afundado naquele mesmo dia, 75 anos antes. Os familiares
dos marinheiros desaparecidos naquele dia trágico em luta crucial e decisiva pela
Liberdade da Humanidade puderam assim recordá-los e prestar-lhes homenagem, com
o toque do sino que eles mesmos ouviam a bordo nas suas fainas.
Estes
acontecimentos mostram como a guerra é algo terrível a evitar com todas as
forças pelas consequências trágicas para tantos que nela combatem e para as
suas famílias. Mas são também a prova de que muitas vezes não é possível fugir
dela e de que o heroísmo também faz parte da condição humana e, muitas vezes, é
dele que depende o futuro digno de muitos. E os que assim caem devem ser
lembrados e homenageados, como agora aconteceu em Portsmouth de forma simbólica
tão cara aos marinheiros.