Estas eleições
autárquicas ficam desde já marcadas pela promessa de transformar o Aeródromo Municipal
Bissaya Barreto em aeroporto internacional. Tendo em consideração as
responsabilidades de quem a fez, o actual Presidente da Câmara que se
recandidata, trata-se, obviamente, de uma questão a merecer análise, sob
diversos pontos de vista.
Que faz sentido
haver um equipamento deste tipo na Região Centro, não parece haver grandes dúvidas,
pela distância aos aeroportos internacionais existentes e pela população
presente na zona, para além do seu elevado interesse turístico.
A distância entre
Lisboa e Porto, cidades onde se situam os dois aeroportos internacionais mais
próximos é de 300 quilómetros. Em Lisboa, o aeroporto Humberto Delgado situa-se
a Norte da cidade, embora praticamente no seu interior, o que significa que,
quem vai do Centro, não tem que atravessar a cidade para o alcançar, muito
menos passar o rio Tejo. Contudo, mais cedo ou mais tarde haverá um segundo
aeroporto em Lisboa que, se fosse na Ota como previsto durante alguns anos, o
aproximaria algumas dezenas de quilómetros da região Centro. Já a localização
actualmente prevista, na margem Sul do Tejo, afastará irremediavelmente essa
infra-estrutura de quem vive no centro do país. O aeroporto Sá Carneiro está
localizado cerca de 20 quilómetros a Norte do Porto.
A sua acessibilidade é, no
entanto, muito fácil indo de Coimbra, sendo a deslocação de cerca de 120
quilómetros rápida e económica usando o comboio até Campanhã e o metro até ao
interior do aeroporto.O aeroporto Sá Carneiro apresenta uma proximidade, relativamente a Coimbra, que não foge muito a aeroportos que servem muitas cidades pela Europa, ao contrário do aeroporto Humberto Delgado que está, à luz desse critério, algo afastado, o que só piorará caso seja deslocalizado para a margem esquerda do Tejo. Se considerarmos a distância entre os dois aeroportos referidos, uma alternativa intermédia, a ser necessária, deveria situar-se no triângulo Figueira da Foz, Coimbra. Leiria, o que sugere a hipótese da utilização civil da Base Aérea de Monte Real como a mais viável, pela localização e baixos custos da alteração para utilização comum, à semelhança do que sucede na Base das Lages, na Ilha açoriana da Terceira.
A procura de um
aeroporto internacional tem a ver com a população residente na sua área de
influência e, embora hoje menos devido às companhias low-cost, com o rendimento
gerado na mesma área. A Área Metropolitana do Porto tem mais de um milhão e setecentos
mil habitantes, enquanto a de Lisboa tem mais de dois milhões e oitocentos mil
habitantes, que comparam com a população da região Centro, de dois milhões e duzentos
e cinquenta mil habitantes.
O Aeródromo Municipal
Bissaya Barreto foi construído no cimo de um monte, apresentando, pois,
semelhanças com um porta-aviões terrestre, com o vazio nas duas extremidades da
sua pista que, na sua parte pavimentada, tem uma extensão de 920 metros que
poderá ser aumentada para cerca de 1.200 metros utilizando toda a extensão até
aos limites das duas extremidades.
Colocando de parte a hipótese do
prolongamento da pista através da construção de laje sobre estacaria como foi
feito no Funchal pela óbvia inviabilidade financeira, aquela será a extensão
máxima da pista, não permitindo qualquer falha nas operações de aterragem ou de
levantar voo. Fica assim impossibilitada a sua utilização por aviões comerciais
médios, designadamente os utilizados pelas companhias low-cost, que necessitam
de uma extensão dupla daquela. Acresce que um aeroporto internacional não se
resume às pistas, sendo necessária a instalação de táxi-ways, edifícios e
equipamentos para os quais o aeródromo Bissaya Barreto manifestamente não
possui área suficiente. Observar um avião C-295 da FA a aterrar neste aeródromo
e daí concluir da possibilidade da sua utilização por aviões comerciais de
médio porte não parece fazer sentido, porque aquele avião militar necessita
apenas de 700 metros para aterrar.
De facto, é
reconhecido que o Aeródromo Municipal Bissaya Barreto necessita de ser dotado
com novas estruturas e equipamentos que lhe permitam uma utilização mais
frequente e diferenciada e essas obras são mesmo pedidas há bastantes anos,
nomeadamente pelo Aero-Clube de Coimbra. Contudo, isso é muito diferente de
pretender transformá-lo em aeroporto comercial internacional, para o que não
dispõe de condições físicas, mais parecendo essa ideia com pretender “meter o
Rossio na Betesga”. E afirmar isto não é menorizar Coimbra e muito menos
pertencer a um clube dos que não querem o melhor para Coimbra. É precisamente
por se querer mais e o melhor para Coimbra que não se podem iniciar mais
processos de saída complicada ou mesmo sem ela e que se vêm a prolongar no
tempo sem solução e com custos desnecessários: Coimbra já tem demasiadas destas
situações e passa bem sem mais uma.
Se governar é a
arte do possível, a política é a arte de sonhar? Sim, desde que o sonho não se
venha a tornar numa frustração permanente ou mesmo em pesadelo, como no caso do
aeroporto de Beja onde se enterraram 30 milhões de euros para nada.