segunda-feira, 8 de outubro de 2018

COIMBRA, CAPITAL DE



O título desta crónica vai propositadamente inconclusivo, oferecendo a quem a lê a hipótese de colocar o remate que achar mais adequado.
Na realidade Coimbra já foi capital de muitas coisas e pretendeu ser de outras tantas. Foi, imagine-se, a primeira capital de Portugal, a Cidade onde o nosso primeiro Rei estabeleceu a sua Corte e onde vieram a nascer quase todos os reis da Dinastia que fundou.
Durante séculos Coimbra foi a verdadeira “Capital do Conhecimento” por nela se localizar a única Universidade do país. Por isso se diz que era também a Capital da Língua Portuguesa, onde aprendiam todos os doutores ou bacharéis que se espalhavam posteriormente pelo mundo, difundindo o conhecimento adquirido em Coimbra.
Foi capital de Distrito até essa divisão territorial e política desaparecer, para ser integrada numa Região Centro de que os mais diversos poderes sempre impediram que fosse capital, o que faria todo o sentido para bem de Coimbra e da própria região que não apresenta mais nenhuma cidade de dimensão média. Também não é capital da Região de Turismo em que se insere, nem lhe empresta o nome ou a sede.

Alguém sonhou que fosse Capital da Saúde, o que não sucedeu e está cada vez mais longe da realidade. Quando ouvi um antigo ministro da Saúde cá em Coimbra afirmar que a nossa cidade tinha uns HUC com uma dimensão que não se justificava e que ainda por cima existia do outro lado do Mondego o Hospital dos Covões também plenamente utilizado, o que era algo que já tinha desistido de entender, antevi o que hoje é já a plena e triste realidade. O Parque Tecnológico que era para ser também da Saúde é hoje uma pálida imagem do que poderia ter sido.
É, contudo, capital de obras e projectos inacabados. Sobre o Metro Mondego a que os governantes até em tempos deram a pomposo designação de Plano de Mobilidade do Mondego não é preciso grandes considerações face à vertiginosa descida de expectativas que, com sorte, ainda terminarão com mais uns autocarros sem via dedicada. A auto-estrada A13, talvez pelo azar que a designação lhe trouxe, incluiu uns viadutos gigantescos, mas morreu contra um monte ali pelas bandas de Ceira, ficando-se por ser uma excelente ligação a Tomar onde, de vez em quando, lá passam uns carros. A auto-estrada A14 vem da Figueira da Foz para desaparecer em Coimbra, dando lugar ao malfadado IP3, desgraçada via que substitui a auto-estrada que nos devia ligar a Viseu.
É também a capital das promessas falhadas. O novo Tribunal, que até já teve um projecto completo elaborado para o mesmo local onde ainda hoje está “previsto”, pago e tudo, continua a existir apenas numas vagas declarações ministeriais sobre novos projectos e estudos; claro que as últimas eleições proporcionaram que o estacionamento que lá existe há dezenas de anos passasse a ter melhor aspecto, mas não mais que isso. A nova Maternidade sai de vez em quando do esquecimento para ser motivo das mais desencontradas discussões, mais apetecendo dizer como em Alqueva: “construam-me, porra!”. E o mesmo direi para o parque de estacionamento dos HUC, sem mais comentários. Quanto à promessa do aeroporto internacional em Cernache, nem vale a pena falar, porque Coimbra não pode ser a Capital do ridículo isso, decididamente, nunca.
Perante tudo isto, que resta aos conimbricenses no ano da graça de 2018? Que Coimbra seja a Capital da Esperança. E a Esperança tem que estar nas pessoas de Coimbra. É tempo de acreditarmos nos conimbricenses todos, no conhecimento que detêm e na capacidade de realizar, com excelência, de que por cá se dá provas em suficiência. As mudanças nos paradigmas urbanos têm sido avassaladoras nos últimos anos e só se pode esperar que acelerem no futuro próximo. As actividades humanas, a todos os níveis, estão a sofrer profundas alterações e as cidades não fogem a essas mudanças Por isso é mais do que nunca necessária e urgente a máxima exigência para com os governantes nacionais, mas também e sobretudo para com os governantes mais próximos e para com todos os que democraticamente nos representam independentemente das ideologias e partidos. Para que Coimbra seja realmente a capital da Esperança para todos, progressiva, culta e progressista, finalmente livre de atavismos seculares ainda hoje causadores de injustiças e atrasos a todos os níveis.

domingo, 7 de outubro de 2018

Visualizações do blog

É sempre uma surpresa verificar quantas das visualizações deste blog são feitas em países como os EUA, a Itália, o Brasil ou a Polónia. Um mistério interessante.


segunda-feira, 1 de outubro de 2018

BRITEXPULSION



É provável que Theresa May tenha entrado no último Conselho Europeu realizado em Salzburgo, convencida de que o seu plano definitivo Chequers recolheria o apoio da maioria dos líderes europeus. Nunca se saberá se algum desses líderes ou a própria Comissão lhe terão dado esperanças de que houvesse possibilidades dessa aceitação. A verdade é que, não só o plano Chequers foi liminarmente rejeitado por todos os 27, como a Primeira-ministra britânica foi desnecessariamente enxovalhada pelos seus ainda colegas líderes europeus.
Claro que, no fim do Conselho Europeu, o seu presidente Donald Tusk acabou por admitir existirem “elementos positivos” na proposta Chequers mas vincando que precisa de ser ajustada, sem o que o “mercado único” seria prejudicado. Mais tarde, viria mesmo a comparar “Chequers” a uma “fatia de bolo sem a cereja em cima”. Perante estas posições da União Europeia não podemos deixar de pensar no que estará por detrás desta aparente irredutibilidade de posições. E a justificação mais plausível é que os restantes 27 países acreditarão que, se as negociações não tiverem uma conclusão os britânicos, de uma forma ou de outra, acabarão por ser chamados de novo às urnas para, em novo referendo, dizerem de sua justiça sobre a saída ou não da União, desta vez com uma espada de Dâmocles em cima da cabeça. O que, tendo em conta as razões de carácter predominantemente nacionalista que ditaram o resultado surpreendente do referendo de 2016 é bem capaz de, mais uma vez, dar o resultado contrário ao pretendido pelos políticos europeus. E não se julgue que as consequências de um tal resultado se limitariam ao Reino Unido, porque seria certamente muito grave para a própria UE. Tendo em conta o ressurgimento de velhos nacionalismos por esse mundo fora e olhando friamente para a qualidade da generalidade dos políticos europeus, incluindo a Comissão, ninguém ficará verdadeiramente admirado se tudo o que puder correr mal, correr de facto mal.
A única manifestação de algum apoio a May veio precisamente do Primeiro-ministro nacionalista húngaro Victor Orbán que afirmou estar a tentar lutar contra um grupo de líderes europeus os quais, segundo ele, acreditam que o Reino Unido deve sofrer.
A possibilidade de saída do Reino Unido sem acordo é cada vez mais provável, atendendo ao tempo que já passou desde o referendo de 2016 e à irredutibilidade britânica na data definitiva de saída: dia 29 de Março de 2019, às 24 horas.
Ao regressar a casa May viu-se na necessidade de se dirigir aos britânicos, explicando a sua posição sobre o sucedido em Salzburgo. O discurso da Primeira-ministra britânica foi duro para com os restantes líderes europeus, mas também para com os trabalhistas e os membros do seu próprio partido que criticam o seu plano. Theresa May afirmou que não é aceitável que o seu plano Chequers tenha sido rejeitado, sem que a UE tivesse apresentado alternativas e novas bases de negociação. Afirmou mesmo que os britânicos “têm tratado a União Europeia com respeito, exigindo o mesmo da parte dela”.
Os trabalhistas vêem fraqueza na dificuldade de May em obter um acordo para o Brexit que lhes pode dar dividendos eleitorais pelo que resolveram forçar a nota, aprovando na sua convenção uma moção a pedir um novo referendo nos casos de não haver acordo ou de um acordo que seja prejudicial aos interesses britânicos. No próprio partido Conservador os defensores do “hardbrexit” consideram que o plano “Chequers” da Primeira-ministra já ultrapassou as linhas vermelhas de cedência. Neste caso, são radicalmente contra um novo referendo, defendendo, em alternativa, uma saída pura e simples sem qualquer acordo.
A incapacidade negocial de May enredada nas contradições internas do seu partido e as próprias dificuldades habituais para se obterem consensos dentro da União, criaram uma situação explosiva. O Brexit, isto é, a saída voluntária do Reino Unido, está a dar lugar a algo muito mais parecido com “BRITEXPULTION” que mais não será do que uma expulsão do Reino Unido da EU, levada a cabo pelos seus ex-parceiros, ironicamente apoiada pelos extremistas britânicos.

Morreu Charles Aznavour

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Costa e Negrão

Ontem durante o "debate" na Assembleia da República, quando ficou um pouco mais "apertado", o Primeiro-ministro disse mais ou menos isto a Fernando Negrão, líder parlamentar do PSD: o sr. não tem legitimidade para dizer isso e depois mando-lhe a justificação por mensagem particular.
Isto é, fez duas coisas: em primeiro lugar transformou um debate parlamentar, público por inerência, numa questão particular; depois fez chantagem política sobre um deputado da oposição, à frente de toda a gente: ou te calas, ou denuncio-te.
Serei só eu a achar tudo isto condenável politicamente, para além de execrável como atitude pessoal?
Fernando Negrão lá se engasgou e disse que tornaria pública essa mensagem privada. Mas Costa não teve resposta à altura e toda a gente deixa passar como normal. Lembram-se das atitudes de Sócrates? Não era pior que isto.
E se mal pergunte: o PSD e a sua direcção política que escolheu Negrão não tem nada a dizer?

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

COIMBRA NO SEU MELHOR




Tendo em vista o seu grande objectivo de dotar de instalações a Universidade que definitivamente transferiu de Lisboa para Coimbra, o Rei D. João III mandou abrir em 1535, a partir de Santa Cruz, uma nova rua com o nome de Rua de Santa Sofia. Nessa nova rua, de dimensões inusuais para a época, dizendo-se mesmo que a sua largura e o seu comprimento eram o dobro das dimensões da equivalente Rue de Sorbonne em Paris, seriam edificados os colégios que albergariam religiosos e estudantes. Os colégios mais afastados de Santa Cruz eram os de São Tomás a poente e de São Pedro a nascente.
A actual Rua da Sofia (ou Sabedoria) que constitui uma jóia de Coimbra, tanto do ponto de vista urbanístico e arquitectónico, como do ponto de vista humanista e histórico-cultural foi, juntamente com a Alta Universitária, justamente classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade.
Infelizmente, por razões que se espera a Cidade venha a ser capaz de ultrapassar a curto prazo, a Rua da Sofia não tem tido atractivos que a façam ser reconhecida e objecto de visita regular de conimbricenses e visitantes exteriores.
No antigo Colégio de S. Tomás está instalado, desde há quase cem anos, o Palácio da Justiça da Cidade, que alberga o Tribunal da Relação de Coimbra que está a celebrar este ano o centenário da sua criação. O actual Juiz Presidente da Relação Dr. Luis Azevedo Mendes compreendeu bem a importância do edifício do Palácio da Justiça para a afirmação da Rua da Sofia e em consequência da Cidade, pelo que decidiu comemorar condignamente esse centenário. Para além das cerimónias oficiais, abriu o Palácio da Justiça à população da cidade e promoveu, em conjunto com a Orquestra Clássica do Centro, a realização de uma série de concertos a que foi dado o nome de “Festival Sofia – Concertos no Palácio da Justiça”.

Um desses concertos decorreu na passada sexta-feira no claustro interior do Palácio da Justiça. E foi um deslumbramento descobrir que Coimbra tem mais um “novo” espaço magnífico para a realização de eventos culturais. Todo o conjunto rodeado dos lindíssimos painéis de azulejos policromados que rodeiam o claustro, com iluminação adequada que faz ressaltar os riquíssimos elementos arquitectónicos do edifício constituiu um cenário praticamente perfeito para o recital de canto de Dora Rodrigues acompanhada por guitarra clássica e percussão. O encantamento produzido pela audição da que é considerada a melhor soprano portuguesa da actualidade foi notório em toda a assistência, surpreendida pela capacidade interpretativa da cantora em áreas musicais exteriores à ópera, como sejam os “Caprichos” de Manuel Garcia (Sec. XVIII-XIX), obras de Enrique Granados, “Modinhas, Lundus e Cançonetas” antigas ou as canções lindíssimas, mais próximas do nosso tempo, de Carlos Guastavino. O acompanha mento musical simples, mas de grande sensibilidade e à altura da cantora, esteve a cargo do guitarrista clássico Rui Gama e, alternadamente, de Davy Tremet e Francesco Sammassimo, ambos músicos da Orquestra Clássica do Centro.
O “Festival Sofia – Concertos no Palácio da Justiça” vai ter continuação com concertos nos dias 1, 12 e 26 de Outubro, comemorando-se no concerto do dia 1 o Dia Mundial da Música, data que em todo o mundo serve de motivo para a Festa da Música, a arte sublime.
É da evidência diária que a Rua da Sofia tem sido o “parente pobre” da área classificada como Património Mundial em 2013, onde praticamente não chega nenhum dos muitos turistas que visitam a Universidade. A actividade comercial da rua outrora pejada de gente tem vindo a morrer e até mesmo a Procissão da Rainha Santa este ano se ficou pela Praça 8 de Maio. Estas iniciativas culturais a partir do Palácio da Justiça constituem uma pedrada no charco da falta de afirmação de uma tão importante zona histórica de Coimbra. São a demonstração de que, com consciência da responsabilidade que constitui ter um bem cultural desta dimensão em mãos e vontade de fazer e de estabelecer parcerias, ainda que com meios financeiros limitados é possível acender faróis culturais de grande intensidade luminosa.

sábado, 22 de setembro de 2018

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Frivolidades

Foto da visita oficial do Primeiro-Ministro de Portugal à República Popular de Angola.
Sem comentários.

Há racionalidade na política?



Em boa hora o Eng. Henrique Neto decidiu dedicar algumas das suas excelentes crónicas desta mesma página do Diário de Coimbra à análise da racionalidade em decisões governamentais e de como a ideologia influencia essas decisões de forma tantas vezes negativa. Com a inteligência que se lhe reconhece e a experiência de vida pessoal e profissional em que conseguiu grandes sucessos reconhecidos, Henrique Neto apresentou vários exemplos que demonstram a justeza da sua análise.
Com a devida vénia perante tão ilustre companheiro de página e colega de formação, permito-me fazer aqui algumas considerações que, a meu ver, mostram a quase impossibilidade actual de racionalidade na acção política e que espero possam ajudar a trazer mais alguma luz sobre este assunto.
Em primeiro lugar, o que leva os eleitores a entregar o seu voto a esta ou àquela formação política, entregando-lhe a sua confiança para gerir os destinos o país? Desde há muito tempo que cheguei à conclusão de que os eleitores votam baseados em sentimentos e não por critérios puramente racionais. Esse sentimento é induzido pela interpretação da realidade que lhes é apresentada pelos próprios agentes da política, mas também pelos numerosos comentadores televisivos, interessados directa ou indirectamente naquilo que falam. 

Essa percepção é resultado de uma manipulação generalizada, muito difícil de desmontar, até porque os destinatários preferem ouvir as boas às más notícias; por isso vão ganhando afecto sobre quem lhes apresenta efabulações simpáticas, desgostando de quem, não mentindo, lhes mostra apenas dificuldades e exigências, construindo sentimentos que se vão reflectir mais tarde nas suas opções eleitorais. Não preciso de concretizar, para que quem me leia saiba exactamente do que e de quem me estou a referir, em todo o espectro político-partidário.
Por estarem conscientes da importância do sentimento nas decisões eleitorais dos cidadãos, os partidos constroem narrativas que apresentam ao eleitorado as quais, embora partindo de bases ideológicas próprias, são mais das vezes cobertas com efabulações como o creme que cobre os doces para atrair clientes. Essas narrativas são por vezes estruturadas sobre teorias económicas apresentadas como científicas quando, na verdade, só são verdadeiras perante determinadas situações concretas, os tais pressupostos dos “estudos económicos”, bastando uma pequena variação de um deles para toda a estrutura construída por cima ruir como um baralho de cartas. Mas os políticos parecem ter necessidade de oferecer soluções milagrosas, baseadas no que dizem ser “ciência política”, que prometem mundos e fundos para o futuro, enquanto de caminho demonizam os adversários, sempre apresentados como maus da fita. As narrativas assim construídas têm a vantagem de esconder as verdadeiras opções ideológicas, mesmo aquelas cujo valor foi já tantas vezes desmontado pela História, enquanto ajudam ainda a fazer esquecer as próprias responsabilidades passadas nos tristes resultados presentes. É muitas vezes visível que os próprios políticos ficam muitas vezes reféns das suas próprias narrativas quando chegam ao poder, inventando malabarismos para adaptar a realidade àquilo que defenderam, deixando os eleitores perplexos e mesmo perdidos perante as incongruências e manifestações de hipocrisia, donde a frase mais ouvida: “são todos iguais”.
E onde pára a racionalidade de decisões no meio deste ambiente político? Quer do lado dos decisores políticos presos nas suas narrativas, quer do lado dos eleitores ávidos de boas notícias, fica muito pouco espaço para a racionalidade. É de facto preciso ser dotado de uma grande solidez de personalidade, deter uma larga base de conhecimentos em várias áreas, que não apenas de marketing político, para se conseguir manter uma coerência política que origine decisões minimamente sensatas e racionais para um observador externo. E só estas permitirão inverter o caminho descendente da nossa economia perante as mais desenvolvidas da Europa que se verifica desde o início deste século e que continua, facto generalizadamente escondido dos portugueses, e que é resultado da pura irracionalidade de muitas das decisões de quem nos tem governado.