jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
quinta-feira, 28 de julho de 2011
A queda da gravata.
Enfim, os construtores sociais continuam com estas tretas, mais fáceis de dizer quando estão na oposição, claro.
segunda-feira, 25 de julho de 2011
DOIS HOMENS COM O MUNDO A SEUS PÉS
Nas últimas semanas, o império de comunicação social de Rupert Murdoch sofreu um grande abalo com as denúncias de comportamentos no mínimo reprováveis por parte dos responsáveis e jornalistas dos seus jornais. Um dos jornais, o centenário "News of The World" foi mesmo encerrado, enviando várias centenas de profissionais para o desemprego. Cria-se a ideia de que muitos jornais são utilizados apenas para satisfazer os interesses económicos dos seu proprietários, lançando mão de todos os expedientes, por mais criticáveis e mesmos condenáveis que sejam. Desconfia-se, e certamente com razão, que essas mesmas técnicas serão usadas em muitos outros jornais e mesmo televisões do império de Rupert Murdoch que foi ao Parlamento Inglês prestar declarações com o filho, tendo sido prontamente desmentido acerca do que lá foi afirmar em sua defesa.
Infelizmente, tem-se vindo a espalhar uma ideia difusa de que muita comunicação social é hoje largamente dependente dos interesses económicos dos seus proprietários, ultrapassando mesmo a tradicional independência dos jornalistas. O que se tem passado em Inglaterra nos últimos dias, que se desconfia possa passar para o lado de lá do Atlântico onde Rupert Murdoch tem igualmente grande poder na comunicação social é um alerta sobre o que se passa nessa área tão importante da Liberdade em todo o lado, inclusivamente entre nós, precisamente quando se ouve falar em estreitas relações entre secretas e empresas de comunicação social.
Comecei esta crónica falando de Robert Maxwell e os leitores poderão perguntar a que propósito, já que morreu há vinte anos. Curiosamente há mais que coisas que ligam Murdoch e Maxwell para além dos impérios de comunicação social que erigiram. É que os dois homens lutaram nos já longínquos anos 60 pela compra do "News of The World" agora encerrado. Na altura, Rupert Murdoch levou a melhor sobre Robert Maxwell. Trágico destino de um jornal de escândalos tão intimamente ligado a dois dos mais escandalosos magnatas da comunicação social.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 25 de Julho de 2011
segunda-feira, 18 de julho de 2011
COIMBRA E OS INDICADORES
sexta-feira, 15 de julho de 2011
segunda-feira, 11 de julho de 2011
UM RATING DE LIXO
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Evangelho do Dia
(Mt 10, 1-7) Naquele tempo, Jesus chamou a Si osseus Doze discípulos e deu-lhes poder de expulsar osespíritos impuros e de curar todas as doenças e enfermidades.São estes os nomes dos doze apóstolos: primeiro,Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filhode Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu;Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu;Simão, o Cananeu, e Judas Iscariotes, que foi quem O entregou. Jesusenviou estes Doze, dando-lhes as seguintes instruções:«Não sigais o caminho dos gentios, nem entreis em cidade desamaritanos. Ide primeiramente às ovelhas perdidas da casa deIsrael. Pelo caminho, proclamai que está perto o reino dosCéus».
segunda-feira, 4 de julho de 2011
ELEIÇÕES E NARRATIVAS
segunda-feira, 27 de junho de 2011
COIMBRA SOFRE
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 27 de Junho de 2011
sexta-feira, 24 de junho de 2011
terça-feira, 21 de junho de 2011
Solstício de Verão
Ao que nos trouxeram os grandes líderes europeus
Poucos jornais terão defendido de forma tão sistemática e consistente que a solução para todos os problemas europeus e do euro passam por mais integração e mais “liderança” do que o Financial Times. Por isso apreciei especialmente este texto do seu colunista Gideon Rachman:
Those who argue that “political union” is the solution to the current crisis seem to believe that Europe’s problem is institutional (…) This is a profound misdiagnosis of the crisis. The real problem is political and cultural. There is not a strong enough common political identity in Europe to support the single currency. That is why German, Dutch and Finnish voters are revolting against the idea of bailing out Greece again – while Greeks riot against what they see as a new colonialism imposed from Brussels and Frankfurt.
To argue that even deeper political integration is the solution to this mess, is like recommending that a man with alcohol poisoning should treat himself with a more powerful brand of vodka.
It is important to understand that the origins of the current crisis lie precisely in the dream of political union in Europe. For the true believers, currency union was always just a means to that greater end. It was a way of “building Europe”. (…)
Joschka Fischer, a former German foreign minister, who is one of the boldest advocates of deeper European unity, was unrepentant in defending this elitist model of politics. He insisted that most important foreign policy decisions in postwar Germany had been made in the teeth of public opposition. “It’s called leadership,” he explained.
Such leadership is all very well, if it is vindicated by events. However, if elite decisions go wrong, they create a backlash – which is exactly what is happening in Europe now. German voters were told repeatedly that the euro would be a stable currency and that they would not have to bail out southern Europe. They now feel betrayed and angry. Greek, Irish, Spanish and Portuguese voters were told repeatedly that the euro was the route to wealth on a par with that of northern Europe. They now associate the single currency with lost jobs, falling wages and slashed pensions. They too feel betrayed and angry.
(…) A single currency that was meant to bring Europeans together is instead driving them apart.
(…)But if political union is not the answer to Europe’s problems, what is? There are two possible solutions. The eurozone leaders might somehow patch the current system up. Or the weaker members of the currency union – above all, Greece – could leave. That process would be chaotic and dangerous. But Greece, as it stands, is a demoralised country that has lost the sense that it controls its own government. Leaving the euro might just be the beginning of a national regeneration.
Retirado de José Manuel Fernandes, no Blasfémias
segunda-feira, 20 de junho de 2011
CULTURA (do desperdício)
domingo, 19 de junho de 2011
ui, ui, segunda escolha
Se o Vítor Gaspar e o Álvaro Santos Pereira são segundas escolhas, então, eu só quero segundas escolhas.
"
De "Clube das Repúblicas Mortas"
sexta-feira, 17 de junho de 2011
segunda-feira, 13 de junho de 2011
CULTURA E TURISMO
segunda-feira, 6 de junho de 2011
O EXEMPLO DA MÚSICA
Coimbra possui, desde há 10 anos, uma formação profissional de música, a Orquestra Clássica do Centro. Poucas cidades portuguesas se podem orgulhar disso, sonho de muitas gerações de melómanos e amantes da música dita erudita. Desde há algum tempo, a Orquestra Clássica do Centro dinamizou ainda uma Orquestra Juvenil do Centro com mais de trinta músicos com mais de quinze anos de idade, alguns deles já com o Conservatório concluído e ainda um notável Coro que tem produzido interpretações de obras absolutamente extraordinárias só ao alcance de coros constituídos por músicos com grande formação musical. Mais do que uma orquestra, trata-se já do embrião de uma casa de música com formações diversas que lhe permitem ter capacidade de resposta para um reportório cada vez mais diversificado e exigente, motivo de mais orgulho ainda para a Cidade de Coimbra. A Orquestra Juvenil participará em breve num concerto em conjunto com a Orquestra Clássica, que será transmitido gravado e depois transmitidopela Antena2 da RDP, o que só por si atesta da sua qualidade já reconhecida fora de Coimbra.
A Associação Orquestra Clássica do Centro vive do protocolo com a Câmara Municipal de Coimbra que lhe garante cerca de um terço do seu orçamento anual, de alguns pequenos apoios mecenáticos e, fundamentalmente, do seu próprio trabalho isto é, de produzir concertos em Coimbra, na nossa Região e um pouco por todo o país, desde a Maia ao Algarve.
A Orquestra Clássica do Centro demonstra, com o seu trabalho, o que deve ser a centralidade de Coimbra, desde que assumida como um serviço. As políticas nacionais e mesmo regionais têm sistematicamente tentado reduzir Coimbra a ser apenas um dos pólos urbanos da Região Centro, o que no futuro favorece o "ensanduichamento" da nossa Região pelas metrópoles do Porto e de Lisboa. Nada nos pode mover contra as outras cidades da Região, mas essa é uma política perfeitamente errada, contrária a toda a História e mesmo à realidade visível. Coimbra não tem sabido ou mesmo tido vontade de se opor a estas políticas, talvez tolamente complexada com um passado que já foi. Pelo contrário, defendo que somos nós, em Coimbra, que temos que ir ter com os nossos vizinhos, mostrar-lhes as nossas capacidades e oferecer a partilha do que temos, com o que todos certamente ganharão, Coimbra, Região e o País.
Olhemos com atenção para esse trabalho que tem sido feito pela Orquestra Clássica do centro e tentemos todos ser capazes de o replicar nos mais diversos sectores. Coimbra merece.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 6 de Junho de 2011
quinta-feira, 2 de junho de 2011
O pato abriu a boca
terça-feira, 31 de maio de 2011
segunda-feira, 30 de maio de 2011
ESPERANÇA
A Maria Ligeira desta história é apenas uma pessoa normalíssima como eu e o leitor, colocados perante a decisão de escolher o tratamento a seguir pelo país, já no próximo domingo. É de facto difícil tomar algumas decisões na vida, quando já sabemos que nos vão custar muito.
Mas a esperança é a última coisa a morrer, como diz o nosso povo, com a resignação que lhe é tão característica. Ao fim de anos em que tantos indicadores económicos se foram orientando para a situação que temos hoje e que tantos de nós fizemos por ignorar, lá tivemos que pedir o resgate à Comissão Europeia, ao Banco Central Europeu e ao Fundo Monetário Internacional, a famosa "troika". Estes organismos vieram até cá, auscultaram-nos e passaram a receita médica com a frieza que se lhes exigia para evitar a morte imediata, ou seja a bancarrota. Resolveram ainda receitar algumas reformas com o objectivo, não só de consolidarmos as nossas contas públicas, mas também de ganhar competitividade e criar condições para que a economia venha a crescer no futuro. Claro que os chefes lá do hospital de Bruxelas resolveram pôr um preço nos medicamentos que nos colocam nas ruas da amargura durante um par de anos mas lá dizem eles, foram vocês que se portaram mal e não se trataram a tempo.
Quando o leitor for ao centro hospitalar chamado mesa de voto no próximo domingo, não se esqueça da Maria Ligeira. Escolha em liberdade e consciência e tenha esperança no futuro que está nas suas mãos.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 30 de Maio de 2011
domingo, 29 de maio de 2011
segunda-feira, 23 de maio de 2011
OS HOMENS QUE GOSTAM DE MULHERES
Não sei se DSK praticou aqueles actos no luxuoso Hotel Sofitel de Times Square de que agora é acusado pelo tribunal nova-iorquino. Esta situação trouxe, no entanto, ao conhecimento generalizado algo que, pelos vistos, muita gente já sabia. O homem já teve vários problemas deste género no passado, sempre mais ou menos abafados, atendendo à sua relevância social, política e económica. De tal forma que muitas jornalistas já se recusaram no passado a fazer-lhe entrevistas, com medo de sofrerem ataques sexuais, verbais ou físicos. Das várias questões que esta situação levanta, ressalta desde logo, a incapacidade de algumas pessoas lidarem com o poder, tendendo a abusar dele junto de quem esteja em situação de dependência, seja de que forma for; outra questão é a óbvia falta de isenção da maioria da comunicação social, lembrando aqui o caso de Silvio Berlusconi. Outra questão ainda tem a ver com a visão que a nossa sociedade tem sobre o sexo e o comportamento dos homens e das mulheres e que anda demasiadas vezes ligado à violência por incapacidade de lidar com essa faceta da vida, sabe-se lá por que razões, mais ou menos escondidas. É ainda claro que, para muita gente, se estes homens "gostam de mulheres" obviamente que não gostam de homens, pelo que os seus comportamentos desviantes são automaticamente desculpados com as consequências que se vêem.
Há de facto na nossa sociedade uma desculpabilização da violência associada ao sexo, de que as vítimas são sempre o lado mais frágil, que deveria ser sempre protegido pela sociedade. Choca-me ver políticos ponderados fazerem sorrisos marotos acerca destas atitudes do DSK, bem como a necessidade de se descobrirem teorias da conspiração para o desculpar, até porque estaria bem colocado para ser candidato presidencial em França.
Repito: não sei se DSK é culpado do que agora o acusam. Mas algo sei. E sei de ciência certa que um homem que é acusado sucessivamente de abusar sexualmente de mulheres não pode ser classificado como "gostando de mulheres". Pela simples razão de que não se gosta de quem se abusa e violenta, não respeitando a sua dignidade.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 23 de Maio de 2011
quarta-feira, 18 de maio de 2011
domingo, 15 de maio de 2011
RESGATE DE SOBERANIA
Triste herança esta, tantas vezes confirmada no nosso passado.
Chegámos de novo à situação de termos que nos deixar governar por gente de fora. Quem nos vai emprestar dinheiro a juros demasiado elevados preparou um "Memorando de Entendimento" que o Governo e os partidos que eventualmente virão a ter responsabilidades governativas se viram obrigados a assinar.
O "Memorando de Entendimento" define, como não podia deixar de ser, medidas claras e objectivas com prazos bem definidos para pôr em ordem as contas do Estado. Afinal, o Estado já não teria dinheiro para pagar as suas contas em Junho, os juros que tínhamos que pagar a quem habitualmente nos empresta dinheiro (os famosos mercados) haviam atingido valores absolutamente insustentáveis porque já ninguém acreditava em nós e os bancos portugueses deixaram de se conseguir financiar até mesmo pelo BCE. Uma tragédia portanto, e a prova de que nos últimos anos não nos conseguimos governar, como dizia o general romano.
Mas este "Memorando" vai muito mais longe. Obriga o futuro governo a adoptar medidas e opções políticas com vista à recuperação económica de Portugal. E obriga-nos em diversas áreas da governação que à partida estariam reservadas à nossa soberania e às escolhas políticas feitas em eleições.
Recordo algumas dessas áreas. Na reforma da Administração Pública, para além dos habituais cortes no nº de funcionários e congelamento de vencimentos, Portugal obrigou-se a fusões de serviços, encerramento de repartições de finanças e, imagine-se, a reduzir o nº de freguesias e câmaras, até 2013. Na saúde, teremos que aumentar as taxas moderadoras e reduzir nas suas isenções, para além de cortes substanciais na ADSE e outros subsistemas de saúde. Quanto às empresas públicas, o Estado vai ter que vender as participações que ainda detém na EDP, na REN, talvez da TAP e ainda mexer na ANA, CTT, CGD e outras; as famosas "golden shares" na EDP, GALP e PT deverão ser largadas até ao próximo mês de Julho. Em termos fiscais, vamos ter que mexer no IVA, no IMI, no IMT e no IRS. No que respeita ao Trabalho, vamos mudar os despedimentos individuais, as indemnizações e muito mais. Nos investimentos públicos foi acesa uma luz vermelha às parcerias público-privadas, ao novo aeroporto e ao TGV Lisboa-Porto. Até na Justiça nos obrigámos a mexer, reestruturando o mapa judiciário e, entre outras medidas, adoptando um prazo limite para a resolução de acções de execução, insolvência, dívidas fiscais e processos laborais. O Estado vai ter que vender o BPN até Julho sem preço mínimo definido e a CGD vai ter que vender os negócios de seguros e participações em empresas que não têm a ver com a banca.
Como se vê, quem agora nos empresta dinheiro resolveu mostrar-nos claramente que não tem confiança rigorosamente nenhuma na nossa capacidade para nos regenerarmos e recolocarmos na senda do desenvolvimento económico e social. E foi assim que resolveram meter claramente a mão na nossa governação.
Relembrando com alguma tristeza o general romano, desta vez temos mesmo que nos deixar governar, pelo menos até certo ponto. De facto, o Memorando deixa alguma liberdade ao futuro governo sobre os métodos a aplicar, desde que os objectivos sejam alcançados. Trata-se evidentemente de um período de "soberania vigiada e controlada". Como é óbvio, ninguém nos obrigou a chegar ao ponto em que estamos. Como vivemos em Democracia, foram as escolhas eleitorais que fizemos no passado que nos trouxeram até aqui. E se a Democracia tem uma vantagem, é a de responsabilizar as escolhas feitas e dar aos cidadãos a possibilidade de abrir novos caminhos sem revoluções. Assim se tenha consciência completa da situação e tenhamos uma relação não clubística com os partidos políticos, isto é, basicamente que não hipotequemos a nossa própria liberdade.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 16 de Maio de 2011
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Aflição mesmo.
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Sejamos parte da solução
Claro está que uma afirmação consciente de opção política no próximo acto eleitoral que permita a constituição de um novo Governo com uma representação que lhe permita proceder às reformas políticas que se impõem é importante, mesmo fundamental, mas não chega.
É hoje claramente perceptível que a democracia não se esgota nas eleições nem na necessária conflitualidade política e vá lá, ideológica, entre os partidos. A responsabilidade pessoal de todos é cada vez mais necessária para que os nossos representantes não entrem em roda livre e não se apropriem indevidamente do sistema como tantas vezes tem sucedido, limitando assim as hipóteses de sucesso do país.
A ACEGE (Associação Cristã de Empresários e Gestores) emitiu há dois dias um comunicado sobre a actual situação nacional, que coloca várias questões importantes e aponta caminhos para todos os que detêm algum grau de responsabilidade a nível das empresas. Parte da constatação óbvia de que o Estado português chegou a uma situação de insolvência que exigiu ajuda externa sem a qual o Estado social teria falido. Mesmo com a ajuda externa, só será possível manter o Estado social se for recriado. A ACEGE mantém que é mesmo “a defesa do Bem Comum, da coesão social e dos mais protegidos que implica enfrentar esta questão”. Claro que nada disto será possível se a economia portuguesa não crescer o suficiente para pagar o empréstimo externo e sustentar o Estado social, lembrando-se que não cresce há uma década, sendo essa e o despesismo do Estado as principais causas da actual situação.
É assim que a Acege, entre muitas outras considerações que vale a pena ler, afirma que “para voltarmos ao crescimento económico que nos permita reduzir o desemprego, sustentar políticas sociais e pagar as dívidas que, como povo, temos, é essencial reduzir o custo do Estado, libertar recursos para as famílias e para as empresas e reorientar as prioridades das políticas públicas. Assim, a defesa do Bem Comum passa pela reforma do Estado, concebida seriamente e executada com sentido social. Impõe-se a reforma social do Estado”.
Não esquecendo a parte que nos cabe a todos individualmente, a ACEGE sustenta que a emergência económica reclama, sobretudo, a responsabilidade pessoal e social dos líderes empresariais, colocando à consciência dos líderes empresariais alguns critérios orientadores bem concretos, entre os quais destaco:
“ - utilizar o despedimento como último recurso e, na sua inevitabilidade, ponderar critérios de natureza social nas escolhas a fazer;
- pagar o salário mínimo mais elevado possível, de modo a retirar da pobreza aqueles que integram cada comunidade empresarial;
- diagnóstico social interno, para conhecimento das situações familiares dos colaboradores mais carenciados, construindo sistemas internos de solidariedade, abertos a todos os colaboradores, de preferência confidenciais;
- pagamento pontual aos fornecedores, entendido como o mínimo ético empresarial, de modo a evitar constrangimentos de liquidez nas outras empresas, em especial nas mais pequenas”
Como se vê, há muito espaço para que todos nós sejamos parte integrante da solução para Portugal, para além dos sacrifícios que nos estão a chegar a todos nós de forma violenta.
Claro que, perante a situação trágica a que chegámos, devemos ter um grau de exigência cada vez maior relativamente aos que nos representam que, pelo poder do voto, acedem à possibilidade de poder dispor do dinheiro dos nossos impostos, não lhes permitindo que se desviem da obrigação de gastar essas receitas no Bem Comum e não de forma irresponsável.
domingo, 8 de maio de 2011
Rentes de Carvalho em directo
Liberdade sem pão? ........Não é liberdade!
IMF Survey: IMF Outlines Joint Support Plan with EU for Portugal
segunda-feira, 2 de maio de 2011
O PANO DE FUNDO
Enquanto assistimos a todas as danças e contradanças da vida política pré-eleitoral e às idas e vindas da troika que vai definir a nossa vida dos próximos anos, há condicionantes sociais que passam ao lado da atenção de quase todos nós, quando são cruciais para o nosso futuro colectivo.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulgou na semana passada o relatório “Doing Better for Families”, que é ainda mais demolidor para Portugal que todos os relatórios e análises económicas que nos últimos tempos nos têm assolado.
Por aquele relatório, ficámos a saber que Portugal é hoje o segundo país da OCDE com a taxa de natalidade mais baixa, apenas acima da Coreia. A taxa média de fertilidade dos países da OCDE é de 1,74, nos países europeus é de 1,6 e em Portugal o valor é de 1,32. Para se ter uma ideia do significado destes valores, a taxa da natalidade em Portugal era de 2,2 em 1980, em linha com a média da OCDE, nessa altura. Note-se, para termo de comparação, que a Holanda, a Bélgica, a Dinamarca, a Finlândia, a Suécia, o Reino Unido e a França têm todos valores superiores a 1,8, enquanto a Irlanda está bem acima dos 2,1.
Em consequência desta evolução, assiste-se hoje à situação de, em cada 100 lares portugueses, existirem apenas 5 com três ou mais crianças, 10 com dois filhos, 25 com um filho e, pior que tudo, 60 com nenhum filho.
Deve-se recordar que, entre nós, para se assegurar a substituição das gerações, o valor da taxa de fertilidade deve ser de 2,1 filhos por mulher em idade adulta.
Perante estes valores não são necessárias grandes análises para se perceber que este é certamente o maior problema de Portugal, a médio e longo prazo.
Como se vê pelos números indicados, este problema não é exclusivo de Portugal. No entanto, na última década metade dos países da OCDE conseguiu travar a queda das taxas de natalidade, enquanto entre nós elas continuaram em queda livre.
Com este pano de fundo, todas as políticas do chamado “estado social” caem pela base. Se não há uma renovação geracional, o nosso futuro é sermos um país de velhos, sem jovens para pagar os custos sociais que isso acarreta. Basta lembrar o aumento dos custos em reformas e em cuidados de saúde que isso implica para se perceber que o nosso actual caminho é pura e simplesmente insustentável.
Aqueles países que conseguiram inverter o caminho para o deserto geracional adoptaram políticas agressivas e consistentes de apoio à maternidade e às crianças. Entre nós, parece que toda a gente se atropela para conseguir o contrário, desde a dificuldade de entrada de jovens no mercado de trabalho, ao castigo às mulheres trabalhadoras que engravidam, à falta de apoio às jovens mães e crianças, ao sinal contrário do apoio efectivo ao aborto etc. etc. Quem anda sempre com o “estado social” na boca que vá aos países nórdicos e veja a enorme quantidade de jovens mães sorridentes com crianças nas ruas e parques públicos, ao contrário de cá.
Este é de facto maior problema de Portugal, que só se resolverá a médio longo prazo, mas que tem de ser encarado de frente já, ou será tarde.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra de 2 de Maio de 2011
segunda-feira, 25 de abril de 2011
TEMPOS DIFÍCEIS
Estamos a 25 de Abril de 2011 e hoje não há comemorações do 25 de Abril na Assembleia da República, havendo uma cerimónia comemorativa no Palácio de Belém, promovida pelo Sr. Presidente da República, com a participação dos presidentes seus antecessores que espero sejam ouvidos com atenção. Claro que, apesar dos tempos difíceis por que passamos hoje é feriado, e na passada quinta-feira, como é tradição, quase todo o país parou na parte da tarde, se é que não foi durante todo o dia. Sorte para os hoteleiros do Algarve e espanto seguro para a chamada “troika” que entre nós analisa o verdadeiro estado do País para propor os sacrifícios que vamos suportar em troca do dinheiro que nos vão entregar (com juros, claro).
Chegámos a este ponto depois de anos a fio em que os indicadores sociais, económicos e financeiros se foram todos orientando para o que temos hoje. Alguns desses indicadores são impressionantes:
Temos a maior taxa de desemprego dos últimos 90 anos (620.000 desempregados, dos quais metade há mais de uma ano); na última década tivemos o pior crescimento económico dos últimos 90 anos; temos a segunda maior vaga de emigração dos últimos 160 anos; temos a pior dívida pública (em % do PIB) dos últimos 160 anos; temos a maior dívida externa dos últimos 120 anos (quando a dívida externa bruta era de 40% do PIB em 1995, ela atinge hoje os 230% do PIB; nos últimos 10 anos, os défices da balança corrente andaram entre os 8% e os 10% do PIB. É hoje evidente para os estudiosos de macro-economia que os nossos problemas graves começaram na segunda década de noventa. Por essa altura, quase todos pensavam que a entrada no euro era a porta de acesso num paraíso económico: enganaram-se redondamente, como hoje se vê). Vítor Constâncio dizia mesmo quando tomou posse em 2000 como Governador do Banco de Portugal:"...Sem moeda própria não voltaremos a ter problemas de balança de pagamentos iguais aos do passado. Não existe um problema monetário macroeconómico e não há que tomar medidas restritivas por causa da balança de pagamentos".
As taxas que pagamos aos mercados para nos financiarmos ultrapassaram há vários meses o valor de 7% que o Sr. Ministro das Finanças tinha definido como o máximo admissível antes de pedirmos intervenção do FEEF/FMI e continuaram paulatinamente a crescer, antes e depois do PEC IV, tendo já ultrapassado os 11%.
Referir os factos da nossa economia que acima reproduzi (via “Desmitos” do Prof. Álvaro Santos Pereira) não é um acto de campanha eleitoral. Aproximam-se eleições cruciais para o nosso futuro, embora muitos de entre nós estejam convencidos de que a EU e o FMI entraram e vão ficar a mandar em nós durante muitos anos e de que a nossa soberania ficará entretanto em boa medida suspensa. Conhecer da forma mais completa possível a situação em que estamos e como a ela chegámos é meio caminho andado para podermos decidir com responsabilidade sobre o nosso futuro, dos nossos filhos e dos filhos deles, que é isso que está em causa neste momento grave.
De facto, a saída é estreita, mas a nossa obrigação é usar com inteira consciência a Liberdade, valor essencial que se celebra neste dia, para assumir o nosso destino nas nossas mãos já no próximo dia 5 de Junho.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra de 25 de Abril de 2011
segunda-feira, 18 de abril de 2011
FALTA DE ELEITORES, OU SINTOMA DE DECLÍNEO?
Enquanto o país se arrasta penosamente até que um novo Governo com a capacidade efectiva de decisão que a EU e o FMI permitirem possa sair das eleições de 5 de Junho, as notícias que nos caem em cima são cada vez mais aflitivas.
No meio da avalanche de desgraças, houve uma notícia que, se chamou a atenção aos partidos (et pour cause), passou relativamente despercebida à população em geral. O Distrito de Coimbra passou a ter direito a eleger 9 Deputados, em vez dos dez das últimas eleições e dos doze que elegia ainda há poucos anos. Os responsáveis partidários tiveram umas palavras de circunstância sobre o sucedido e passaram adiante. Qual a posição do Distrito de Coimbra em comparação com os outros? Do total dos círculos eleitorais, sete elegem mais deputados que Coimbra, doze elegem menos e outros dois elegem o mesmo número: Faro e Viseu. Saliente-se que, relativamente às últimas eleições, o Distrito de Coimbra até aumentou o número de eleitores em pouco mais de 2.200, mas Faro que ganhou o Deputado que Coimbra perdeu, aumentou esse valor em mais de 10.000. Dos distritos vizinhos, Aveiro elege 16 deputados e Leiria 10.
A perda de importância do nosso Distrito ao longo dos anos da Democracia tem sido notória e há razões para isso, sendo elas endógenas e exógenas.
Começando por estas últimas, há desde logo a normal e sã competitividade entre cidades. Muitas das cidades que são capital de Distrito mudaram radicalmente ao longo dos últimos anos. Pegaram nas suas fraquezas e delas fizeram forças, montaram estratégias de desenvolvimento, atraíram novas populações, apoiaram a criação e atracção de empresas, limparam a cara, construíram parques de estacionamento centrais, criaram novos jardins, ordenaram a ocupação do território, criaram novas universidades, etc.
Depois, houve acções do Estado Central ou mesmo de responsáveis regionais em sua representação que introduziram factores externos. Por exemplo, os acessos rodoviários de Coimbra à Beira Interior continuam praticamente os mesmos de há décadas, a Estação Ferroviária continua absolutamente miserável à espera de um mirífico TGV e, quando há obra nova é muitas vezes mal feita e desadequada ao desenvolvimento urbano como a passagem do IC2 sobre a cidade e a vergonha mais recente dos acessos da Ponte Europa e da rotunda final da variante do IC2 ao Almegue sem que a cidade gema. Isto para não falar da retirada de Direcções Regionais como a da Agricultura e da Economia, relativamente às quais conviria agora saber quais os custos e benefícios que originaram para o próprio Estado. Ou da retirada da sede do Turismo do Centro, introduzindo em simultâneo uma “marca” absolutamente inócua chamada Centro, quando existe aqui uma das marcas turísticas mais valiosas de Portugal: Coimbra.
Para não falar ainda das teses peregrinas de desenvolvimento regional que “matam” Coimbra, através do conceito da região polinucleada.
Que ninguém em Coimbra se iluda: tudo isto ajuda a retirar paulatinamente Coimbra do mapa, seja eleitoral ou outro qualquer.
Mas entre nós também temos responsabilidades no que tem acontecido e isso não deve ser escamoteado. Desde logo, aquela espécie de pudor que todos temos em assumir a liderança, quando na realidade os municípios à nossa volta só têm a ganhar se Coimbra for forte. Depois, a Cidade deixou-se levar outra vez pelo espírito coimbrinha, completamente provinciano. Não é por acaso que os dois eventos principais da Cidade voltaram a ser, como há cinquenta anos, a procissão da Rainha Santa e…a Queima das Fitas, felizmente regressada, senão nem isso.
Eu sei que estou a ser algo injusto para algumas situações e que temos cá do melhor que há em Portugal. Mas não chega e que diabo, assumamos o famoso direito à indignação e exijamos sem vergonha nem contemplações o melhor para Coimbra, quer lá fora, quer cá dentro. Sejamos capazes, como já aconteceu antes, de unir as mãos, estabelecer bases mínimas de entendimento e forçar que a curva inclinada descendente mude para ascendente, não para termos mais deputados, mas para alterar tudo aquilo que leva a que tenhamos ainda menos, no futuro.
Publicado originariamente no Diário de Coimbra em 18 de Abril de 2011
segunda-feira, 11 de abril de 2011
A GRANDE CRISE
Propositadamente, as minhas crónicas das últimas semanas abordaram temas que a muitos leitores poderão ter parecido um pouco alienígenas, dadas as preocupações generalizadas e justificadas com a situação económica e financeira do país que, como era previsível, desembocou na semana passada num pedido de ajuda ao FEEF/FMI.
Os leitores que me perdoem se esperam o contrário, mas vou continuar a não escrever sobre essa matéria. Não é que esteja tudo dito, nem que os mitos se não continuem propalar, mas francamente o que está feito, feito está e as consequências que vamos sofrer durante anos são também mais ou menos conhecidas. O resto será objecto da natural e legítima luta política pré-eleitoral e os resultados deverão relevar mais do bom-senso que de outra coisa.
Chegámos ao ponto em que estamos depois de algumas décadas de um crescimento económico mundial absolutamente avassalador que se seguiu ao fim da Segunda Grande Guerra. O sistema capitalista ou de livre-mercado provou que era o melhor sistema para criar riqueza e dar origem a crescimento económico, emprego e desenvolvimento. Até aos anos oitenta do século passado, ao lado do sistema capitalista existia no entanto uma boa parte do mundo que seguia outro caminho: o sistema socialista. A certa altura, a pressão de crescimento do lado ocidental ou capitalista foi de tal forma que o outro lado implodiu: na realidade, em vez de Sol na Terra que tantos sonhavam era apenas um gigantesco buraco negro. Todos pensámos que a partir daí todo o mundo poderia assistir a um crescimento semelhante ao que o mundo ocidental tinha experimentado até então. No entanto, o desaparecimento do mundo socialista levou a que, algo contraditoriamente, o sistema de livre mercado desenvolvesse internamente uma crise de enormes proporções, ampliada pela falta de capacidade de resposta de políticos imaturos e impreparados, designadamente na nossa União Europeia.
A desregulação económica e financeira que se seguiu à queda do Muro de Berlim foi acompanhada de uma “economização” generalizada da sociedade. Os critérios para toda a actividade humana passaram a ser os mesmos do investimento económico puro e duro, criando-se uma sociedade egoísta e crescentemente desprovida de valores. A cultura sólida foi sendo substituída por turismo e conhecimentos “light”. Não será por acaso que na nossa Europa e mais acentuadamente entre nós, a taxa de fertilidade tenha descido até aos actuais níveis insustentáveis e que uma doença chamada depressão alastre pela sociedade e, em particular, pela juventude, da forma que se conhece. Não tenhamos dúvidas que a angústia mata, como costuma dizer o meu amigo Giuseppe, distribuidor da Cais na Baixa,. E a organização ou direi mesmo, a desorganização da nossa sociedade actual é mesmo angustiante. Tenhamos todos a humildade e a capacidade de o reconhecer e de exigir a quem tem mais responsabilidades a nível da organização social, que tenham respeito pelas pessoas e pelas suas necessidades e legítimas ambições de valorização cultural e humana e não apenas de enriquecimento material. É que, ao contrário do que alguns possam pensar, é precisamente em alturas de aflição económica como a actual, que é mais necessário pensar nas pessoas e não apenas em economia.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 11 de Abril de 2011
segunda-feira, 4 de abril de 2011
ERCOLE SUL TERMODONTE
É raro, mas de vez em quando deparamo-nos subitamente com uma obra de arte que nos deixa absolutamente esmagados pela capacidade humana de elevar o espírito acima das tristes e desoladoras manifestações de inveja, mesquinhez e capacidade de perseguir os semelhantes do nosso dia-a-dia.
Como disse, sensações dessas são raras, mas felizmente acontecem. Sucedeu-me, por exemplo, a primeira vez que me defrontei com a Guernica de Picasso. E também com Las meninas de Velasquez e a Pietà de Miguel Ângelo.
Há poucos dias deparei-me com uma obra-prima absoluta que, certamente pela minha deficiente cultura, desconhecia que existia: a ópera que Vivaldi compôs sobre um dos trabalhos de Hércules: ERCOLE SUL TERMODONTE. Em mais um dos trabalhos que aceitou fazer, a fim de que Eristeu lhe permitisse partir definitivamente de Argos, após todas as tragédias por que tinha passado, Hércules partiu para a Capadócia a fim de buscar o cinturão de Hipólita, rainha das Amazonas. Após uma série de enganos e mentiras, as Amazonas entraram em guerra com o exército de Hércules tendo-se travado violenta batalha nas margens do Rio Termodonte de que resultou a morte das Amazonas e da sua rainha Hipólita. O objectivo que poderia ter sido conseguido facilmente e sem derramamento de sangue, só foi atingido por uma enorme tragédia. Mas de novo o gigante Hércules provou ser imbatível e regressou a casa com mais uma tarefa cumprida.
Foi sobre esta história que Vivaldi compôs a sua ópera verdadeiramente excepcional, que foi originalmente apresentada em Roma, no Teatro Capranica em 1723. Nesta cidade, por influência da Igreja, as mulheres não podiam então pisar o palco (nada que nos possa admirar aliás, se olharmos ao papel secundário que ainda hoje a Igreja reserva às mulheres). Os papéis femininos eram então dados a homens a quem, para conseguirem as vozes femininas, eram cortados os seus órgãos genitais: os famosos CASTRATI. O sucesso da nova ópera de Vivaldi foi estrondoso, tendo sido considerada uma autêntica revolução nessa arte. Felizmente, temos hoje a possibilidade de ouvir esta obra-prima, porque o libretto original do Teatro onde foi apresentada pela primeira vez foi integralmente conservado e as árias individuais foram guardadas em várias bibliotecas.
Os antigos mitos gregos exerceram grande influência da nossa cultura ocidental. Os trabalhos de Hércules mostram como, ao longo da vida, se torna necessário ultrapassar dificuldades diversas. Se umas são mais fáceis e se resolvem com relativa facilidade outras há que, pela sua complexidade exigem destreza, compreensão das circunstâncias e mesmo capacidade de ultrapassar obstáculos que, à partida, pareciam intransponíveis. Momentos há em que a força moral e mesmo a física parecem chegar ao seu limite e descobrimos tantas vezes que ainda temos mais para dar.
Passamos todos nós, nesta altura, por um momento de desânimo nacional, em que apenas se parece discutir a ajuda que os estrangeiros nos podem dar para sair da crise que nós próprios criámos. Haja consciência de que não há tarefas impossíveis. Tal como Hércules, temos que tomar consciência da realidade das tarefas, apetrecharmo-nos dos meios necessários (incluindo financiamento nas melhores condições possíveis) e ter a capacidade e vontade de ultrapassar as dificuldades. Por nós próprios.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 4 de Abril de 2011
sábado, 2 de abril de 2011
COMO CREDIBILIZAR AS NOSSAS CONTAS PÚBLICAS
quarta-feira, 30 de março de 2011
Aprender a falar.
segunda-feira, 28 de março de 2011
QUERO VER O BURACO!
“Onde não há Liberdade de Imprensa não há democracia”
Quando parte alguém que, pelo seu exemplo, foi farol de orientação para os outros concidadãos, é nossa obrigação parar um pouco e tomar consciência da importância que teve e de como, na sua área, contribuiu para que o mundo fosse um pouco melhor.
A frase acima citada é da autoria de Adriano Lucas e muitos colaboradores seus a terão ouvido ao longo dos muitos anos em que esteve à frente do Diário de Coimbra.
O Eng. Adriano Lucas, falecido há poucos dias era o Decano dos jornais portugueses. Dirigiu o Diário de Coimbra desde 1950, onde já antes colaborava com seu Pai, ainda muitos de nós não eram nascidos. Foi Director do jornal durante mais de duas décadas do Estado Novo e quase quatro décadas em Democracia. Em ambas as situações experimentou as pressões de quem tem problemas com a liberdade de imprensa.
Ao longo da sua vida, o Eng. Adriano Lucas exerceu funções de gestão, ao mais alto nível, de numerosas e importantes empresas de Coimbra. Mas voltou sempre àquilo que verdadeiramente mexia com ele: a imprensa. Continuou e fez crescer o Diário de Coimbra, mas fundou muitos outros jornais na região Centro. Para ele, era cristalino que sem uma imprensa livre, não há verdadeira Liberdade.
Para que uma imprensa seja livre, é necessário que esteja em condições de dizer não, quer ao poder político, quer às pressões económicas. Adriano Lucas sabia-o muito bem e toda a vida trabalhou para que os seus jornais fossem verdadeiramente livres, através do seu próprio sucesso empresarial.
Antes do 25 de Abril, sustentou do seu bolso as despesas de um jornal suspenso pelo poder político durante praticamente um ano, por causa da publicação de um conto que tinha um significado político evidente, na sequência do fim da 2ª Guerra Mundial; lemos o texto e o que à época foi considerado subversivo é hoje apenas irónico! Mas não se vergou. Depois do 25 de Abril, os disparates dos revolucionários levaram-no a criar um nome diferente para a edição de fim de semana do Diário de Coimbra. Foi assim que surgiu o “Domingo”. Mas não deixou de publicar o jornal: não faltava mais nada, que não o pudesse fazer.
O Eng. Adriano Lucas não se fechou no mundo dos seus jornais. Participou de forma activa e mesmo decisiva na elaboração da primeira Lei de Imprensa que houve em Portugal depois do 25 de Abril, tendo sido membro do Conselho de Imprensa, enquanto este existiu.
Era assim, com toda a simplicidade, que aos ataques à liberdade de imprensa, reagia com frontalidade, viessem esses ataques de onde viessem. Verdadeiro espírito de liberdade, exemplo para todos nós, particularmente nos dias de hoje em que a subserviência ao partido, à igreja, ao patrão, à entidade oficial que coloca anúncios ou mesmo aos reguladores do politicamente correcto tentam condicionar a liberdade de imprensa, quase sempre por meios pouco transparentes.
Que este singelo artigo, escrito por um beneficiário da liberdade de opinião que o Eng. Adriano Lucas defendia, sirva para que os jovens percebam como um espírito liberal, bem-formado, com consciência e rectidão, sem grandes alardes, pode ser tão ou mais importante para a sociedade e para todos nós do que muitos daqueles que todos os dias enchem as televisões e jornais com um brilho muitas vezes artificial que desaparece à primeira dificuldade.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 28 de Março de 2011