segunda-feira, 15 de outubro de 2007

QUESTÕES DE LIDERANÇA

Todas as organizações complexas precisam de uma liderança forte para se afirmarem. Isto é verdade, por exemplo, para grandes clubes desportivos, para empresas no mercado global, para forças armadas em situação de conflito e é também verdade para partidos políticos que ambicionam o poder.
Se há muitas maneiras de se exercer a liderança, existem no entanto duas condições básicas para que as pessoas que integram essas organizações acompanhem o respectivo líder nas suas movimentações com vista a atingir os objectivos a que se propõem.
A primeira dessas condições é a representatividade/emulação. Significa que os membros de uma organização gostam ou precisam mesmo de se sentir bem representados pelo seu líder nas situações de confronto, a fim de eles próprios terem ânimo para enfrentar as dificuldades. Quando um líder é pública e frequentemente vencido nesses confrontos e mesmo assim não demonstra qualquer sinal emotivo de reacção, pode ser considerado muito frio e profissional por alguns, mas não suscita qualquer empatia daqueles que dirige. Acontece que a relação afectiva entre os membros de uma organização e os seus líderes é muito mais importante na obtenção de motivação do que pode parecer à primeira vista.
A confiança na sua liderança é outra condição para um bom funcionamento de qualquer organização. Os membros de uma organização têm que saber que, em casos de contrariedade vinda do exterior, a reacção da sua liderança será defendê-los. O papel das lideranças não pode ser o de abrir brechas na organização, devendo tomar posições de limpeza interna apenas perante provas concretas e irrefutáveis de má conduta. Caso contrário, no limite seria a própria liderança a permitir que os adversários abatessem paulatinamente os seus um a um, apenas com o simples levantamento de suspeitas.
Quando surgem, estes sentimentos de perda de representatividade e de confiança vão minando as relações e podem a certa altura transformar-se em sentimentos de rejeição, muitas vezes não reconhecidos de imediato pela liderança. No momento em que uma liderança que permite esta situação se vir na necessidade de suscitar o apoio dos elementos da sua organização, terá com toda a certeza a amarga constatação de que estará quase sozinha.
A História está cheia de exemplos de situações deste tipo, algumas trágicas, outras apenas curiosas, mas que deveriam estar permanentemente no espírito de quem dirige organizações complexas.
Concluindo, se o leitor está a pensar que na minha mente está o que aconteceu recentemente no PSD, tem toda a razão. Devo acrescentar ainda que, em minha opinião, esta incapacidade de gestão de recursos humanos teceu o pano de fundo em que a política veio a escrever o resultado da eleição directa.

Publicado no DC em 15 Outubro 2007

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